quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Letras e mais letras por Victor Nogueira


por Victor Nogueira a Quarta-feira, 29 de Agosto de 2012 às 12:53 ·

    • Victor Nogueira


    • Sabes, amanhã tiro conclusões mas até agora esta minha nota das cartas supostamente escritas por uma mulher carregam apenas no "like". Teria mais comentadoras se as tivesse publicado como se por um homem tivessem siido escritas ? Deveria ter publicado como conde niño ou como soror maria madalena ?
    • Tratei as cartas como se fossem as Cartas de uma Freira Portuguesa. Soror Mariana Alcoforado,  freira de origem nobre enclausurada em Beja no século XVIII. Pensa-se que as cartas teriam sido escritas por um homem como se freira fosse. Naquele tempo as pessoas em cartas não se tratavam por tu, por isso digo que é uma transcrição para português de hoje.
    • Muitas iam para freiras - as nobres - para que se não dispersasse o património da família , pois assim não teriam de levar o dote. Dote que talvez mais reduzido levavam para o convento, e por isso não havia igualdade entre as que vinham das classes populares ou plebeias - que eram como que criadas - e as nobres, com luxos, luxurias, amantes e filhos bastardos de reis ou de outros fidalgos, mas com seu séquito e tratamento especial.
    • Aquerlas são cartas que eu escrevi à namorada em évoraburgomedieval, mas tu escreves muito bem e tens uma grande sensibilidade e gosto dos teus comentários. Claro que as cartas têm alguns pequenos acrescentos e supressões. Um homem que se prezasse em évoraburgomedieval nunca poderia escrever assim, em terra de machos lusitanos e marialvas e mulheres submissas embora ardendo por dentro.
    • Gosto dos teus comentários e qualquer dia trabalho sobre eles e faço um post no meu blog ao sabor do olhar "A sensibilidade dela" .  Bem, o grupo do arcada era capaz de escrever assim mas esses eram estrangeiros exilados em évoraburgomedieval.
    • Mas falando a sério, creio que qualquer homem, seja ou não tímido, desde que sensível e domine a arte da escrita pode escrever belas cartas.
    • Entre os acréscimos às minhas cartas originais eu introduzo o vento suão, de enlouquecer no alentejo, e digo que ela está lá contra-vontade, quando escrevo " Ah! não poder eu ir ao teu encontro, não poder eu rasgar este hábito com que me encerraram em vida e para o Mundo ! Me encerraram contra mim !"
    • Aí eu falo como se fosse a Maria a dizer-mo, ela nunca o diria, porque era interdito a uma mulher naquele tempo, mas eu sabia que seria o que ela escreveria no meio da luta entre o desejo e a repressão da mãe e da aldeia de que se não conseguia libertar. Como muitas mulheres, ela adorava Florbela Espanca, porque a Florbela dizia por elas o que não ousavam dizer. Eu homem num alentejo marialva era capaz de escrever-lhe a rasgar-me assim, mas ela e a maioria das mulheres naquele tempo e mesmo hoje não era(m), não são capazes de fazê-lo.
    • Mas esta volta que dei podia ser a expressão de alguns poemas que menos afoitamente têm sido publicados estes dias aqui no FB por "moças" que estão na minha lista de amizades. Aliás, eu tinha pensado em interiorizar todos esses poemas alheios e escrever um texto que no final nem seria muito diferente dos que escrevi à minha namorada em 1973.
    • Esse teu "boa noite" embaraça-me. És sempre assim tão formal? Vá lá, já me começaste a tratar por tu. Uma mocinha sensível mas autocontrolada? Uma mocinha fria ou temerosa de ser devorada pelas chamas interiores?
    • A quem vou enviar as notas e as fotos de capa? A quem comenta ? A quem carrega apenas no "like"? A quem nada diz? Repara que eu não quero que as pessoas sejam forçadas a dar sinal de vida. Tal como eu normalmente me limito a comentar o que partilham comigo - não tenho tempo para andar a correr as dezenas de páginas no FB em que me inscreveram sem mo perguntarem e onde só és comentado se comentares.
    • Já me esquecera das cartas que escrevera  e por um lado gostei de relê-las, por outro perturbou-me  que durante o namoro e o casamento nunca tenha estado do meu lado, nunca me tenha apoiado, que ela, tal como a 3ª mulher com quem vivi, me tenham sempre tentado e em parte conseguiram cortar as asas.
    • Mas ao reler parte da corresondência pareceu-me que as cartas, buriladas daquilo que não interessa, têm valor literário, são belas e ao dizê-lo não o faço por serem escritas por mim. Sou um crítico desapiedado de mim mesmo. Não consigo é misturar as cartas com os retratos, são realidades distintas.
    • Tenho de organizar-me e ordenar-me; publicar no face tem-me permitido pensar na obra. Se a publicarei ou não, isso é outra história. Posso completar o meu livro de viagens mas queria complementá-lo com as fotos e são milhares que tenho por digitalizar. O que tenho publicado aqui é uma gota de água. E precisava de digitalizar toda a minha correspondência de décadas. 
    • Dizia eu que resolvi agora em évoraburgomedieval publicar por ordem cronológica, o que tira algum interesse. Inicialmente agregara os recortes por temas.
    • Se te convido ou faço uma proposta - a ti ou a quem quer que seja - não é por favor mas por reconhecer o valor neste ou naquele campo.  Como deves ter visto, a partir da correspondência reorganizai em vários livros, com o corta e cola. 
    • Os teus comentários têm substância. Para além de me pareceres uma pessoa sensível, atenta e perspicaz. E nessa foto "antiga" apareces como uma moça bonita e sedutora. Com toda a reserva que as fotos merecem.
    • Conheço muito doutor (m/f)  burro quadrado e analfabeto e por força das minhas actividades contacto com muita gente (m/f)  analfabeta ou de poucos estudos mas com imenso valor.
    • Tenho estado a reler as minhas cartas e acho que têm interesse (.,..) embora ao lê-las conclua que nunca deveríamos ter casado. Mas se assim tivesse sido, não haveria estas cartas ou se calhar nenhumas.  Relativamente às minhas cartas há 3 alternativas que não são mutuamente exclusivas. 1 . a ideia inicial - os "retratos" e o "livro de viagens". Este obriga-me a organizar milhares de fotos não digitalizadas para selecionar as que poderão ilustrar o livro de viagens ou originar outros livros. Claro que a maioria das fotos não as publico aqui no face pois é fácil serem apropriads por outrem. 2 . publicar a correspondência contextualizada, sobretudo a que escrevi para a Noémia e para a Maria Papoila,  para a Maria do Mar e para a Fátima.  3. publicar a história do isese, depois de contactar antigos colegas meus para obter outras memórias e perspectivas que eles/elas não escrevem aqui no face mas que pelo telefone consigo que desenvolvam. Aliás penso em setembro ir a évora para encontrar-me com antigos colegas (m/f) e amizades, algumas apenas do face. Idem para Lisboa em relação ao isese.
    • são 4 categorias distintas - retratos - livro de viagens - fotos que não estejam no livro de viagens - história do isese do ponto de vista dos estudantes então contestários.
    • do livro de viagens há muitas notas que a Fátima fez (era a minha ajudante de fotógrafo e script girl nas viagens que durante 5 anos fizemos em portugal e lés a lés). Ah! a maior parte do material para o Livro de viagens não repousa em cartas. Mas as notas que não desenvolvi agora já pouco me dzem, pois esqueci-me. Terão de ser um guia a complementar pelo que a minha memória relembrar das minhas fotos e de "guias" . Mas reformei-me há 4 anos e pouco fiz do que tencionava. Em parte por razões de saúde, mas tb pk qt menos tenho para fazer menos faço. Ah! e tb há a minha poesia e estudos da profissão.
    • Não me apetece fazer as coisas. Tenho pouca produtividade agora. É um trabalho solitário. Por isso resolvi começar a publicar aqui no face. Já o fizera nos meus blogs.
    • Antigos colegas meus de évora dizem que tem interesse o que escrevi pk é uma visão dum estrngeiro sobre uma cidade e um alentejo que lhes parecia natural. E já houve aqui uma das minhas interlocutoras que disse que as minhas memórias poderão ser material de estudo para quem queira "estudar" o quotidioano naquele tempo, por ter sido anotado quotidianamente. Embora eu seja apenas uma das testemunhas 
    • antes do 25 de Abril eu detestava o alentejo, que para mim era évora, parada nas mãos dos agrários. Mas nos inquéritos em arraiolos conheci outro alentejo, o das aldeias e dos campos, onde aprendi a dizer a palavra amigo, gente muito diferente da das vilas e de évora. Eu estava habituado às portas abertas da casa dos meus pais em luanda, e da família no porto e em certa medida do norte e percebo a reserva dos alentejanos; aquilo nas mãos dos agrários era uma opressão. Por isso a d. vitória minha hospedeira me dizia que para os alentejanos primeiro tinha que se provar que se merecia a amizade para que as portas se nos abrissem. Talvez fosse assim mais nas cidades e nas vilas. Exactamente o contrário da casa dos meus pais, onde a porta estava sempre aberta e à mesa do senhor engenheiro sentavam-se o operário ou o "doutor", qualquer que fosse a cor da pele. Sabes que eu já me esquecera de quanto sofri em évoara e de ter conseguido voltar a falar com os jesuítas. Jesuítas que devo reconhecer me facilitaram muitas coisas e aceitaram a minha rebeldia e contra-propostas. 
    • Mas já me esquecera que em 26/27 de Abril de 1974 eu escrevera isto à minha namorada : "Vejo hoje no Instituto o dr. Amílcar Mesquita,  o Rola, o director do Instituto [Pe. António Silva, sj ] e outros professores. Sobe por mim a contrariedade que me despertam: o arrivismo, a cretinice, o autoritarismo, a desumanidade dum país de que a escola é o reflexo pela política dos jesuítas. Sobe por mim o desejo de gritar NÃO a tudo isto que profundamente abomino e que tão dolorosamente suportei durante estes seis anos de luta para não me deixar negar..
    • Quem tem o poder económico - esse é que conta - quer lá saber de quem trabalha ou é grande. E mesmo os grandes comem-se e esfolam-se uns aos outros. Estou-me nas tintas para todos estes governantes pindéricos de falsas lantejioulas. Eles são descartáveis pelos poderosos. Isto que se passa neste momento em todo o mundo capitalista, sobretudo a partir da implosão do bloco socialista, é a negação completa do que aprendi como estudante da economia capitalista ou como gestor de recursos humanos. É capitalismo sem máscara, pk pensa que já não precisa de almofadas para conter a explosão social e a revolta da humanidade. O século XXI representa muitos passos atrás na história da humanidade. Facilmente se transforrmou o sec XXI em ... XIX
    • Sabes, o povo teve o poder na mão em 1974/75, mas aspirou a ser "patrão" e foi na conversa e no engodo do PS e desde então alternadamente entre o PS e o PSD com a muleta do CDS qd é preciso. Todos eles defendiam o socialismo mas depois de ganhas as eleições o Soares confessou na sua alentada entrevista em 3 volumes que defendiam o socialismo pk doutro modo não teriam votos. E esse farsante do Otelo que enganou muita gente disse mais tarde que votara em Eanes e não nele próprio -  candidato a Presidente da República - pk a democracia estava consolidada. Qual democracia? Votos perdidoss os que nele cairam !
    •  No dia 25 de Novembro de 1975 o povo perdeu a batalha. Salvou-se graças a Costa Gomes a Constituição de 1976 que PS/PSD e CDS procuraram evitar que fosse promulgada. Mesmo com todas as amputações em revisões constitucionais ela ainda tem muito de progressista. Mas é um trapo para Sócrates, Passos de Coelho, Cavaco...
    • Cada dia é mais um passo para a derrota, para a escravidão. Mas as pessoas têm medo. Era mais fácil mobilizar antes do 25 de abril do que agora, em que tudo é pantanoso, nublado. Agora em que depois dos anos de "cada um por si " do cavaco se perdeu a solidariedade, a ideia de que só unidos lá vamos. É difícil ser revolucionário qd se gerem as autarquias e os sindicatos interiorizando os esquemas de pensamento e de actuação daqueles - a burguesia - que se combatem ou é suposto combaterem todos. A luta de classes atravessa tb o PCP e os sindicatos e a CGTP.
    • Eu sinto apenas a voz que ouço, a mão na pele, o olhar que vejo, as palvras concretizadas em actos no quotidiano. Não levo as minhas doenças a sério. Rio-me delas. Fui eu que noutra vez consolei o médico subitamente transtornado pelo estado de anemia que me descobriu admirando-se então de eu ainda estar vivo. Á morte ninguém escapa e não vale a pena pensar nisso!
    se quiseres, ler
    Cartas de Soror Maria Madalena ao Conde Niño
    por Victor Nogueira a Terça-feira, 3 de Julho de 2012 às 23:52 ·

    aqui

    Cartas de Soror Maria Madalena ao Conde Niño por Victor Nogueira


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      • Margarida Piloto Garcia 
        Ao ler-te tenho uma tremenda sensação de preenchimento total como se cérebro, coração e sentidos fossem inundados por um tsunami. Não é fácil abarcar tudo o que escreves, o que é sonho ou realidade, o que é poético ou crítica política. Embo
        ra esta última se destaque e não seja difícil de diferenciar, gosto mais, e peço desculpa, de tudo aquilo em que o teu raciocínio repousa e deixas o sentir vir ao de cima. Nunca sabemos, a não ser nas cartas, a quem escreves ou a quem te diriges e isso torna ainda mais apetecível ler-te. Porque será que as mulheres, mesmo as mais modernas, adoram mistério e paixão?Deixo um beijo grande com admiração e carinho.
        29/8 às 16:08 ·  · 2

      • Carlos Rodrigues Talvez os comentários sejam curtos porque os textos são demasiados longos. É só uma opinião, o conteúdo tem toda a qualidade para ser lido.
        29/8 às 19:48 ·  · 1

      • Maria Lúcia Borrões Orgulho-me de ser tua amiga, Victor!
        29/8 às 20:05 ·  · 1

      • Yolanda Botelho bjs amigo
        29/8 às 23:28 ·  · 1

      • Yolanda Botelho Victor,eu vou ser sincera eu não percebo o que queres dizer com tanta coisa,fico preocupada por isso,podias-te explicar melhor?Bj
        29/8 às 23:33 · 


      • Victor Nogueira LOL Não precisas de preocupar-te, Yolanda Botelho Nesta nota falo dos meus projectos editoriais e da situação política em que vegetamos.Misturo o passado e o presente, a realidade e a ficção. Nada mais Bjos :-)*
        29/8 às 23:40 · Editado ·  · 2

      • Yolanda Botelho Como quiseres mas não te quero saber doente,e sou franca, não compreendo o que queres dizer com estes textos,há alguma tristeza e amargura...mas deixa lá, se calhar sou um pouquito tonta.Bjs
        29/8 às 23:44 ·  · 1

      • Diamantina Evaristo Eu gosto de ler.. o que escreves mas, aqui,há muitos assuntos entrelaçados que, para quem não conhece bem a tua vivência,baralham um pouco.É bem perceptível a passagem presente/passado,o tempo vivido em Évora,....mas o resto passa-me um pouco aolado.Obrigada ,de qualquer modo, por pores as tuas notas à disposição do facebookianos.
        30/8 às 0:06 ·  · 2


      • Victor Nogueira Grato pelo teu cuidado e amizade, Yolanda BotelhoDiamantina Evaristo - sim, esta nota está um pouco baralhada, Grato pelos comentários, Carlos Rodrigues e Maria Lúcia Borrões. Os teus comentáriois são sempre emcantadores, Margarida Piloto Garcia Para os comentadaores ou simples "likeistas", a minha amizade e aquele abraço para os moços e bjos para as moças :-)
        30/8 às 1:22 · Editado ·  · 2

      • Manuela Silva 
        Tirei os óculos para pensar, que me apertam os temporais e me tolhem as palavras que querem voar. Acredito que quem quer que seja a menina visada terá muito gosto em comentar os teus textos, que, a verdade seja dita, são exemplarmente bem
        escritos. Retratam uma época política que não volta mais, no antes e no depois de liberdades conquistadas, das esperanças negadas, e também, falando do Alentejo, que se propagou a todo o país, do desejo de ascensão rápida ao estilo burguês. O vazio que se viveu no antes, alimentado por revoltas ocultas e conspirações contra a repressão e a pobreza. As precipitações inconscientes de querer tudo de repente. Tudo isto está nos teus escritos, porque, tu, meu amigo Victor Nogueira, és de uma sensibilidade ímpar, que consegues ver, sentir o que se passa à tua volta com a lucidez e clareza de águia, que põe as asas a voar como tu pões as tuas palavras. Há prisões dolorosas que se revelam pontes para catarses de liberdade. São caves escuras e profundas sem ar, sem chão, sem água, que lentamente são escavadas em túneis complicados com vista a uma saída. Ela está lá, a saída, sabe-se. Continuemos a escavar que a luz há-de penetrar. Bjos. Boa noite.:-)
        30/8 às 1:27 ·  · 4

      • Francisco Santos 
        Amigo Victor, gosto muito das tuas publicações, mas há aqui um ponto em que temos opiniões divergentes, tu sabes que eu alem de amigo pessoal do Otelo, fui dos que estive directamente ligado a todo o processo militar que terminou com o 25 d
        e Novembro, aliás eu como muitos fomos perseguidos, precisamente por termos incentivado e participado em todo o processo revolucionário , que terminou nesse dia , não quero trazer para aqui pormenores que não são do domínio público e que são frequentemente ditos por convencias partidárias, e que não passam de puras mentiras, o que se passou nos bastidores ainda está por esclarecer, mas brevemente será publicado em livro , vai conter toda a verdade, algumas que talvez conheças, ainda não saio por ir mexer com muitos mitos e muita gente que por motivos óbvios não seria" politicamente correctos".... mas como tenho insistido, a história não merece ou não deve ser deturpada.
        31/8 às 1:18 ·  · 1

      • Francisco Santos Victor,uma da que citas,das amizades de Otelo com o Eanes, quando da sua prisão relacionada com o golpe reaccionário de 25 de Novembro, foi por ordem do próprio Eanes
        31/8 às 1:41 · 

      • Luisa Neves Muito bom. Grata pela partilha. Bom fim de semana. :))
        31/8 às 7:59 ·  · 1