terça-feira, 17 de julho de 2007



As feiras de Évora, Setúbal e Lisboa (Memórias esparsas)


* Victor Nogueira


O Rossio de S. Brás está praticamente livre de feirantes. Restam apenas as barracas de louças e bugigangas. Depois do meu regresso de Beringel comprei um copo, uma caneca, colheres, um prato e uma tigela, que seria para o "Nestum" mas acabou por ficar para a fruta. (MCG - 1972.07.10)

Hoje será a noite de S. João , de festa para os eborenses, que passearão lá pela Feira. Este ano há dois circos; o resto é como nos anos anteriores, com a novidade de haver barracas dos partidos políticos, onde comprei umas publicaçõezitas. (1975.06.24)

Hoje é o último dia oficial da Feira de S. João em Évora. A Feira estava em decadência, cada ano que passava. Mas desta feita, para além de muitas tendas de comerciantes (vestuário, calçado, plásticos, louças, mobiliário), havia as tradicionais de comes e bebes bem como os divertimentos. Não vi o poço da morte - creio ser o 1º ano que não vem - mas em contrapartida havia 3 pistas de carros eléctricos e nada mais nada menos que 3 circos, acontecimento inédito: o Billy Smart, o Royal e o Mariano. A Celeste foi ao 1º e diz que é igual ao que vimos em Lisboa, no Coliseu. (NSF - 1976.07.05)

(...) Quando era estudante, em Évora, a Feira de S. João era um alvoroço - embora coincidisse com a época apertada de exames - onde a malta ia nas frescas noites, em grupos, passear ou "espairecer" pelas diversões e movimento. Depois, bem, depois a Feira de S. João, como a Santiago, deixaram de ter o encanto de outrora, tal como o circo, maravilha, delícia e alegria sempre renovada da infância. Hoje, do circo, gosto dos palhaços e dos ilusionistas, (embora nem sempre), ao contrário do que sucede nos programas que a TV por vezes transmite. Das feiras, hoje em dia, vejo as exposições e um ou outro espectáculo, extasiando-me nas tendas das vergas e olaria, que jamais compro. (MMA - 1986.07.28)

No regresso passámos por uma feira ali na Luz, defronte ao Colégio Militar. (1) Era uma feira praticamente de louça e bugigangas, quase todas feias para o meu gosto. Comprei dois bonecos de barro (artesanato). Havia lá umas canecas de barro, em forma de sorridentes e rechonchudos monges (dispunha bem olhar para eles, tinham um ar simpático) Estou arrependido de não ter comprado um. Ficará para a próxima. Aquilo é uma roubalheira. Um tipo tem mesmo de regatear. Chegam a fazer abatimentos de 50 % sobre o preço inicial. Safa! (MCG - 1973.09.19)

A Feira Popular de Lisboa é muito sem graça. Nada nos saiu nas rifas. Não encontrámos as barracas das farturas (seguir o cheiro não foi suficiente). Joguei nas máquinas dos carros de corridas. As pistas dos carros de choques estavam quase vazias e assim não tinha piada andar nelas. De resto são mais caras que em Évora (também alguma diferença deveria haver entre os provincianismos de Évora e de Lisboa). Ah! mas o que gramei, onde apanhei dois valentes sustos, donde saí gelado mas com uma vontade enorme de repetir a proeza, foi na montanha russa. Aquilo é que é emoção! Ao menos enquanto um tipo não se habitua) Duas descidas bruscas (um tipo até trava com os pés, o coração a saltar lhe pela boca), uma curva a grande velocidade, toda inclinada (e um tipo, esquecendo se da força centrípeta, agarra se desnecessariamente para não ser projectado)... Também no outro "comboio fantasma", que afinal nada tinha de especial, salvo os ruídos (bater as portas e chiadeira) e a escuridão. Não tem qualquer emoção. (MCG - 1973.09.22)

Começando naquela Igreja e estendendo-se quase até ao Rio, passando ao lado da Igreja de Santa Engrácia, Panteão Nacional, estende-se a Feira da Ladra, onde se encontra um pouco de tudo. (2) Especialmente roupa, mas também fardas, sapatos, capacetes de aço e caixas vazias de munições (relíquias da I Guerra Mundial ?), malas, sacos, carteiras, ferro-velho, antiguidades, móveis, moedas... enfim. De tudo o que vi, no entanto, só me interessava um par de candelabros. Mas não cheguei a perguntar o preço. Havia um jardim com vista para o rio e para a parte baixa da Feira. As ciganas vendiam roupa e tinha a sua piada ver as pessoas experimentarem calças por cima das que traziam vestidas. Havia de ser uma grande experimentação! Já eram 17 horas quando lá chegámos. Havia um mar de gente modesta (mais alguns hippies e estrangeiros), que se acotovelava e furava, enquanto os automóveis passavam tangentes aos peões e buzinavam. (3)


Não comprei nada. Só me interessavam antiguidades, mas receio ser facilmente enganado, pois não sei avaliar aquela mercadoria. Mas estendais de antiguidades havia poucos; a maioria era ferro-velho: dobradiças, fechaduras, chaves enormes, bicos de fogões a gás... Ouvi lá um negociante de antiguidades dizer a outro que à 3ª feira o negócio é melhor. (XXX - 1973.09.23)


Cheguei há pouco da Feira [de Santiago], onde fui dar uma volta e dois dedos de conversa com o pessoal conhecido após o jantar lá em baixo no Centro, única maneira de variar o cardápio, pois ao almoço não tenho tempo para grandes variações e aprendizagens. Tal como as mulheres, os homens, desde pequeninos, deviam ser ensinados a cozinhar coisas variadas e saborosas, embora simples. Felizmente que em tempos descobri um livrito acessível que posso consultar e seguir sem necessidade de ter ao lado, para consulta permanente, um dicionário da especialidade, para decifrar os termos técnicos como "refogado" ou "esturgido" e quejandos. (XXX - data ?) (4)


Em Setúbal é tempo da Feira [de Santiago], onde fui duas ou três vezes e onde sempre vou encontrando gente conhecida para dois dedos de conversa. Este ano há apenas uma exposição dedicada a uma das celebridades cá da terra, que foi a cantora lírica Luísa Todi. Falta me ver a parte da cerâmica e olaria, embora este ano já tenha comprado o "recuerdo", cerâmica dum país andino ou como tal vendida. Mais uma "bonecada" ali para uma das estantes, para dificultar a limpeza do malfadado pó que mal acabado de limpar logo renasce dum modo que faria inveja à capacidade reprodutora dos coelhos! (MMA - 1993.08.03)
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1 - Realiza-se anualmente, durante o mês de Setembro.
2 - Realiza-se todas as 3ªs feiras e sábados, de manhã. Trata-se duma feira cujas raízes remontam aos tempos medievais.
3 - Outra feira que merece referência é a do Relógio, no bairro de Chelas, aos domingos de manhã.
4 - Passe a publicidade, trata se do Guia Prático de Cozinha, da autoria de Léone Bérard, editado pela Livraria Bertrand em 1977.
In Livro de Viagens

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)