segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Na morte de EPC

* Victor Nogueira
.
Por acaso estou a reler a Mãe, de Gorki. Claro que sendo um livro «violento», não tem o ascetismo de Até Amanhã, Camarada. A morte é o nosso destino desde que se nasce, para a qual caminhamos sem apelo nem agravo ou possibilidade de fuga. Mas para a morte, são vários os caminhos, uns alcatifados e veludosos, bem perfumados. Outros são ásperos, mal cheirosos, diabolizados, famélicos. Finda a caminhada, cada um tem a sua maneira de enfrentá-la ou aquela que não tem escolha.
.
No último Avante, Aurélio Santos (creio, pois há divergências na autoria na edição de papel e na electrónica) dizia que «Num mundo em que mandam os mercados comandados pelo capital, os vencedores e os perdedores são arrumados socialmente em duas categorias fundamentais: os que acumulam o capital especulativo financeiro, têm «poder de compra» e gozam de «consumo de luxo» - e os que se tornaram dependentes do crédito, por carência de recursos ou obcessão consumista, e, permanentemente ameaçados pelo desemprego, são empurrados para uma competição desesperada pela sobrevivência.»
.
Com qual delas se identificava EPC. cujas iniciais modificaram de sentido com o correr do tempo? Quem chora os anónimos deserdados da fome e os famélicos da terra? Quantos minutos lhes concedem as televisões ou as rádios, e quantos caracteres incluindo espaços lhes dedicam os Jornais? Quem trabalha, mesmo que alienado, mesmo que inconsciente da sua força, que atenção recebe, salvo ser pretexto de notícia para vender papel ou «agarrar» até à telenovela? Quantos daqueles que caminham e lutam ao lado dos famélicos da terra, não vêm as suas palavras e a sua actividade sistematicamente silenciadas ou deturpadas?
,
Como alguém comentou n' «O Tempo das Cerejas», cada classe que chore os seus mortos.

2 comentários:

  1. Olá Victor, bom dia!
    Embora concorde contigo, no que diz respeito aos que "herdam" e aos "deserdados desta vida", a verdade é que cada vez que morre alguém ,sobretudo se esse alguém, mesmo desconhecido,interferiu na nossa vida, como o caso dos Escritores, Poetas, Artistas Plásticos, das Artes do Palco, que tantas vezes, sem terem consciência disso, nos deram Alegria e Paz ou no-las tiraram, ensinando-nos alguma coisa, dizia eu, cada vez que uma pessoa assim morre, há algo a prantear, quanto mais não seja, apesar da obra deixada, o facto de não poder haver mais nenhuma, dessa pessoa, a partir desse momento.
    Mas eu creio, de acordo com a fé que professo, que morrer, deixando "Obra" conhecida ou não, não será O Mais Importante...
    verdadeiramente Importante será o quanto se amou!...

    bj

    Maria Mamede

    ResponderEliminar
  2. Olá Victor,

    Deixei-te um miminho no Querubim Peregrino.

    Beijo e Boa Semana

    ResponderEliminar

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)