segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Ao (es)correr da pena e do olhar (2)

* Victor Nogueira
.
Sou efectivamente um português um pouco descuidado de certos acontecimentos nacionais, como o futebol. Só hoje, acidentalmente, soube na tabacaria onde diáriamente compro o jornal que Portugal venceu ontem a Inglaterra no Campeonato Mundial de Futebol. Agora, na televisão, só futebol ou telenovela, o que me parece uma autêntica violência. Comecei a ver a Vereda Tropical mas, para além do adiantado da hora, não me sinto conquistado pela história. Enfim ...
.
A Arminda e o Sérgio estão ali numa animada conversa sobre a visita que na 2ª feira passada efectuaram a Vale da Rosa, no concelho de Alcoutim., lugarejo perdido em caminhos de cabras pelos cabeços da Serra Algarvia. Afinal não fizeram "gazeta" ao serviço. A finalidade da visita foi verem uma central de energia solar que serve cinco casas e catorze pessoas que, numa região paupérrima, passaram a dispor de um telefone, luz eléctrica, duas arcas frigoríficas e ... dois televisores a cores! Entretanto, ali ao lado, como sempre, uma grande barulheira na sala dos desenhadores, verdadeiramente incomodativa.
.
Também como habitualmente muito pouco tenho para fazer, sendo este o principal motivo porque escrevo tão assíduamente. Aguardo com uma certa curiosidade a carta da Maria do Mar e o que nela me dirá. (...) Gostaria de ser muito mais simples, mas não sou, pelo contrário. Muito mais simples, menos exigente e de ligar mais fácilmente à terra. Mas não consigo e morrerei com este jeito, certo de que a lucidez e a capacidade de análise das situações, por si só, não chegam.
.
(...)As mães julgam-se sempre com direito aos filhos, julgando que sem elas não cresceriam, quando no fundo aceitam afinal a "escravização" que os filhos também podem ser, deixando aos homens a "liberdade" e privando-os das crianças, mesmo quando dizem e se acorda que os podem ver sempre.(...)
.
Já voltei do almoço. Estive a ver como havia de responder ali a um inquérito sobre habitação, mas só amanhã voltarei a pegar no assunto, para ter algo para fazer; é caso para dizer que é necessário fazer render o peixe. Tenho práticamente terminados os concursos de promoção e de reenquadramento, bem como o processo disciplinar por falta de assiduidade, faltando-me decidir se devo interrogar de novo o arguido, em face de documentos que requisitei ao Departamento de Pessoal. Mas nada disso tem a ver com as minhas funções aqui (no Gabinete do Plano Director Municipal). Lembrar-me que antigamente tinha de "comprimir-me" para resolver o máximo de assuntos no mínimo de tempo, tratando uma quantidade deles simultâneamente!
.
Bem, mas voltando atrás, neste ocupar de tempo para esticar que é também compasso de espera da carta da Maria do Mar, anunciada sem a sua voz ridente e calorosa, mas sim com silêncio e sombras. (...)
.
Setúbal, 1986.06.04

2 comentários:

  1. Olá Victor, bom dia!
    Estavas demasiado ansioso e "blue"...há épocas assim...
    a avidez de querer, de sentir nosso,ainda que se não diga,causa estas ansiedades desmedidas que fazem sofrer...e também sei bem do que falo!

    Bj

    Maria Mamede

    ResponderEliminar
  2. Olá Amigo,

    A esperança não morre...
    Que ela acorde viva todos os dias da tua vida.
    Esse é o desejo que formulo para ti e para todos nós, pese embora as enormes desilusões com que a vida nos brinda...
    Um dia de cada vez e, quem sabe, o dia seguinte será mais risonho...

    Beijo

    ResponderEliminar

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)