terça-feira, 18 de setembro de 2007

Deambulando por Lisboa (17) - Vilas Operárias


8 - VILAS OPERÁRIAS DA GRAÇA
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Na mais alta colina de Lisboa surge o Bairro da Graça, um dos mais antigos e belos da capital, edificado em terras onde, por altura da afirmação da nacionalidade portuguesa, proliferava um imenso olival. O sítio da Graça viu aumentar o seu número de habitantes após o terramoto de 1755. Esses novos habitantes constroem residências simples, de um só piso, ou, conforme o seu estatuto social, grandes Palácios.Aquando da extinção das ordens religiosas o Bairro da Graça sofre uma extraordinária mudança:o Convento passa a ser um Quartel e a Igreja do Largo de Santa Marinha é demolida. Grande parte dos terrenos conventuais foram expropriados e vendidos a particulares. Com a industrialização do Beato e Xabregas, a Graça conhece novos habitantes, desta feita operários que ali decidem morar. Passa-se para o período dos pátios, dos bairros operários e, sobretudo, das vilas operárias construídas com sentido estético e critérios urbanísticos.
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Muitos Palácios são adaptados para receber famílias do operariado, como o de Vale de Reis que, incendiado em 1819, viria a ser recuperado para habitação colectiva, em 1889, com o nome de Vila Tomás Costa para, mais tarde, ao mudar de proprietários, se designar Vila Souza.
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A Graça passa, nessa época, a ser uma região de vilas operárias, como a Vila Estrela de Ouro, construída em 1908, ou a Vila Berta, construída entre 1902 e 1908.
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VILAS OPERÁRIAS DE LISBOA (3)
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Com o surgimento da industrialização, a cidade de Lisboa recebe uma franja de população de operários. As acomodações, geralmente fornecidas pelos próprios proprietários fabris, adquirem o nome de “Vilas”, que não são mais do que pátios da era contemporânea, normalmente constituídos por dois ou três andares, separados por uma rua e isolados do exterior por um portão.
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BAIRRO ESTRELA DE OURO
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Localizado entre a Rua da Graça e a Rua da Senhora do Monte, é tipicamente operário, tendo sido mandado construir pelo proprietário da unidade fabril, Agapito da Serra Fernandes, para acomodar os seus trabalhadores, mediante o pagamento de renda. O edifício em si, é constituído por dois pisos, alguns com galeria e escadas de acesso ao exterior, sendo ainda de notar a moradia do proprietário, vivenda com espaço ajardinado, afastada convenientemente do núcleo do bairro ( adaptada agora a um Lar de senhoras idosas). A maioria dos residentes é de avançada idade ali se mantendo desde os primeiros tempos.
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2. O ESPAÇO
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2.1. O meio envolvente
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A Escola Secundária de Gil Vicente, localizada na freguesia de São Vicente de Fora, integra-se num dos bairros mais antigos da cidade de Lisboa, o bairro da Graça que, a par com os da Mouraria, Castelo e Alfama, faz parte de um conjunto mais vasto que constitui o sector oriental de Lisboa, também considerado um dos sectores mais pobres e menos letrados da cidade. Aqui predomina uma população envelhecida, maioritariamente com baixo nível de instrução (raramente superior ao 9º ano), com fracas qualificações profissionais, trabalhando no comércio e no sector terciário inferior e com um peso significativo de reformados.
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Apesar de a Freguesia da Graça ocupar a primeira posição dentro do conjunto das freguesias de origem dos nossos alunos, é dos bairros de Alfama e da Mouraria que a maioria deles provém. Estes bairros são caracterizados pela forte presença de uma cultura popular urbana, com destaque para o fado e para as marchas populares de Santo António, onde a identidade bairrista e as rivalidades inter-bairros são uma marca importante. Estes aspectos podem ser explicados à luz da especificidade da malha urbana e do carácter fisicamente fechado destes bairros (escadinhas, becos e vielas apertadas); da relação entre as habitações e a rua, com a utilização desta última como prolongamento da casa e espaço colectivo da vizinhança, uma vez que as casas são de muito pequenas dimensões; da constituição de subunidades locais de relacionamento intenso, polarizadas por um pátio, largo, esquina, parte de umas escadas, tasca ou leitaria; das densas redes de vizinhos, familiares, conterrâneos, amigos e membros das mesmas associações de vários tipos; das relações de dominação e influência, de poder e dependência, ligadas às diferentes actividades profissionais, às actividades turísticas, às colectividades associativas locais, a um certo modo de marginalidade; da sobreposição significativa entre local de trabalho, residência e lazer; dos códigos vigentes que organizam a conduta, fazem compartilhar estilos de procedimento, delimitam o permitido e o interdito. Este tipo de cultura popular urbana é transportado para a escola, sendo um traço distintivo da nossa população escolar.
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O bairro da Graça, embora de cariz popular, não é um bairro tão fechado como os anteriormente referidos. Caracteriza-se por um predomínio da função residencial onde a tipologia das habitações é heterogénea, em que são preponderantes prédios antigos de habitação popular, muitas vezes degradados, com cómodos pouco espaçosos e fracamente iluminados. Pátios e vilas operárias marcam forte presença no bairro, sendo de destacar a Vila Berta, a Vila Sousa, o Bairro Estrela d'Ouro ou a Vila Maria, testemunhos de um passado industrial. Esta tipologia urbana de finais do século XIX / princípios do século XX, mandada construir, na sua maioria, por empresários industriais para albergarem a antiga população operária da área, contribui, actualmente, para o interesse cultural e turístico do bairro.
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Nas actividades económicas, predomina o pequeno comércio tradicional, bastante diversificado, que assegura a subsistência diária dos habitantes: mercearias, padarias, talhos, peixarias, drogarias, lojas de vestuário e de artigos para o lar, farmácias, cafés, restaurantes e uma ou outra loja que oferece artigos mais especializados. No que toca a unidades comerciais com alguma dimensão, apenas se encontra uma loja de venda de mobiliário e um supermercado. Ao nível dos serviços, encontram-se dependências bancárias, consultórios médicos, centro de saúde, veterinário, lar de idosos, centro de dia, clubes recreativos e desportivos, jardins de infância e escolas que oferecem diferentes níveis de ensino, desde o pré-escolar ao secundário. Das poucas indústrias presentes no bairro são de referir algumas tipografias, serrações de madeira, serralharias e pequenas oficinas de automóveis. Em termos patrimoniais e culturais é um bairro com interesse, sendo de destacar o Convento de S. Vicente, o Panteão Nacional, a Igreja da Graça, a Ermida de S. Gens, o Miradouro da Senhora do Monte e o Miradouro da Graça.
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São estes aspectos económicos, sociais e culturais que fazem com que este bairro funcione como centro secundário dentro da cidade de Lisboa, polarizando económica e socialmente os bairros limítrofes.
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Tal como todos os bairros das freguesias centrais da cidade de Lisboa, também os bairros pertencentes à área de influência da escola têm assistido à saída de uma parte considerável da sua população para a periferia da cidade, onde o preço da habitação é menor, levando ao progressivo envelhecimento da sua população residente. No entanto, a atracção pelas áreas antigas que se tem verificado nos últimos anos permitiu a reabilitação de alguns dos edifícios degradados e a renovação de outros, o que desencadeou um fenómeno de gentrificação ou seja, a recente substituição dos anteriores moradores, pertencentes a classes populares, por residentes com outro perfil social, detentores de níveis bem mais elevados do ponto de vista económico e cultural.
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A par desta nova dinâmica social, é de referir o número crescente de população imigrante das mais diversas origens a residir nestes bairros, contribuindo para uma maior heterogeneidade social, cultural e linguística, que é um reflexo do crescente multiculturalismo da cidade de Lisboa e da nossa escola.
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É deste quadro socioeconómico que provém a esmagadora maioria dos alunos da Escola Secundária de Gil Vicente, o que ajuda a compreender as baixas expectativas relativamente à escola, as significativas taxas de insucesso e de abandono escolar e as escolhas dos percursos profissionais em detrimento da continuação dos estudos.
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