quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Deambulando por Lisboa (30) - A Lisboa Oriental, do Campo das Cebolas aos Olivais

* Victor Nogueira
.
A Casa dos Bicos fica para outra banda, perto do Chafariz d'el Rei, marcando o início da Lisboa Oriental, que se estende ao longo do rio, por Santa Apolónia, Xabregas, Beato, Poço do Bispo, Marvila e Braço da Prata até Olivais. Aqui se situa a doca dos Olivais, onde outrora amaravam os hidroaviões e onde nos anos 60 ainda apodreciam alguns.
.
Foi zona de quintas, conventos e palácios, que deram origem a sujos aglomerados habitacionais em resultado das fábricas que a partir do século XIX aqui se instalaram. (1) Dos palácios e conventos de outrora pouco resta: o convento da Madre de Deus, outrora banhado pelas águas do rio Tejo, é exteriormente despretensioso, hoje transformado no Museu Nacional do Azulejo, conservando a riquíssima capela em talha dourada. Outros conventos foram reconvertidos, como o dos Grilos, onde está instalada a Manutenção Militar, ou aquele outro que deu origem à estação ferroviária de Santa Apolónia, para não falar nos do Beato ou de Xabregas.
.
Exteriormente degradados persistem alguns palácios. Para Marvila, ainda se encontram azinhagas serpenteantes, algumas ladeando pequenas hortas. Objecto de reconversão urbanística parcial em resultado da Expo 98 (Exposição Mundial), daqui saíram instalações petrolíferas e industriais.
.
Da ruralidade ainda subsistem alguns largos, como o da Viscondessa dos Olivais em Olivais Velho, no alinhamento da Gare do Oriente, com o seu chafariz, fontanário e urinol do século XIX, para além da rua com casas para os operários da fábrica dum capitalista (Alves Gouveia) (2) que neste largo tinha a sua residência. Da toponímia registo as travessas as travessas dos Buracos e das Courelas
.
No Beato, nas minhas deambulações, fui dar a outra vila operária, cujo insólito residia na roupa a secar em cordas que atravessavam a rua de janela a janela, para aproveitar o espaço.
.
No Poço do Bispo no Largo David Leandro da Silva sobressai a fachada dos armazéns vinícolas da Abel Maria da Fonseca, talvez parente do José Maria da Fonseca, de V. Nogueira de Azeitão. Neste pequeno largo citadino, com prédios em recuperação, existem palmeiras e um quiosque com azulejos arte nova, como outro similar no Cais do Sodré, para além dum urinol público do início do século XX. (Notas de Viagem, 1998.Maio.01)
__________
1 - A partir do século XIX as fábricas instalaram-se ao longo do rio, de Xabregas ao Poço do Bispo e de Alcântara a Pedrouços.
2 - Denominada rua das Casas Baratas.

2 comentários:

  1. O que este homem sabe!...
    Ao ler o que ele escreve apetece seguir o itinerário que ele nos indica, ir ao sítio ver o que lá está.

    ResponderEliminar
  2. Concordo plenamente com o comentário anterior.
    Também me dá ganas de ir por aí a ver "ao vivo e a cores", tudo aquilo de que nos falas.

    Acho que quando te reformares, deves seguir a carreira de guia turístico, tal a beleza e a minúcia com que explicas as coisas.

    Bjs.

    Maria Mamede

    ResponderEliminar

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)