sábado, 3 de novembro de 2007

OBRIGADO - Victor Nogueira




  • Victor Nogueira
Obrigado, muito obrigado
obrigado por todos os presentes que hoje me ofereceste
obrigado por tudo quanto vi, escutei, recebi
obrigado pela luz que me despertou
obrigado pela roupa que me veste, pelas cores que ela
...............tem e pelo corte que a faz bela
obrigado pelo jornal, pelas histórias do Tintin, sorriso semanal, pelas reuniões
...............austeras, pela justiça que se fez, pela partida ganha
obrigado pelo camião do lixo e pelos homens que o acompanham,
...............pelos gritos que soltam de manhã, pelos ruídos da rua que acorda
obrigado pelo metal, entre os dedos apertado, pelo longo lamento que
...............ele solta sob o aço que o morde, pelo olhar satisfeito do contramestre,
...............pelo carinho cheio das peças terminadas
obrigado pelo Camilo e pelo Carlos que se sentaram à minha mesa, pela simplicidade 

...............do Rocha, pela mão do director no meu ombro, pelo
...............sorriso - sempre é sorriso - do Rola, pela malta de Económicas
...............que me reconheceu, pela amizade do Artur e do Luís Filipe
obrigado pela rua acolhedora que recebeu os meus passos, pelas
...............montras das lojas, pelos automóveis, pelos transeuntes, por
...............toda a vida que escorria lenta, entre as paredes das casas,
...............manchadas de sol
obrigado pela comida que me sustentou, pelo copo de café com
...............leite que há pouco me matou a sede
obrigado pelo autocarro que facilmente me levou onde eu queria
...............pela gasolina que o fez funcionar, pelo vento que
...............me afagou o rosto, pelas árvores que me saudavam quando
...............eu ia a passar
obrigado pelas miúdas que encontrei hoje
...............pela graça marota da Isabel, seu sorriso-riso sonoro
...............que alegra a gente
...............pelo ar sereno da Noémia
...............pelo sorriso da garota do Chiado, aquela que tinha uma
...............covinha no queixo,
...............pelas travessuras da Microbianas
...............pelo olá da puta que se cruza comigo diariamente
obrigado pela alegria do Jorge perante os brinquedos que comprara
obrigado pelos bons dias que me desejaram
...............pelos apertos de mão que reparti
...............pelos sorrisos com que me brindaram
obrigado pela mãe que em casa me acolhe, pela sua presença
obrigado pela amizade do pai, apesar do seu silêncio
obrigado pela amizade desajeitada do Zé Luís
obrigado pelo tecto que me abriga, pela luz que me ilumina,
...............pela música que ouço
obrigado pelo Zeca Afonso, pelo Vivaldi
obrigado pelos livros, pelo Steinbeck pelo Jorge Amado,
...............pelo Manuel Alegre e pelo António Reis
obrigado por tantos eles
obrigado pelo ramo de flores,
...............pela erva no telhado, pequenas florestas galgando montes

obrigado pelos dias luminosos
...............pela noite serena
...............pelo céu estrelado
...............pelo silêncio

obrigado pelo tempo que me deste ...
...............pela vida
...............por sentir tudo isto
obrigado por estares aqui
obrigado porque me escutas, me levas a sério. recebes em
...............tuas mãos o feixe dos meus dons para oferecê-los aos
...............outros
obrigado
muito obrigado

Michel Quoist
(adaptado - Évora 1971.ABR.14)
(Setúbal 1989.MAR.01)
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Clicar nas imagens para ver o verdadeiro aspecto gráfico do poema

6 comentários:

  1. Obrigado por existires Amigo.
    É lindo o testemunho que nos deixas...

    Deixo-te um beijo amigo e votos de bom fim de semana.

    Maria Faia

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  2. Muito, muito belo!
    Quanto a mim uma Oração!

    Já tenho lido algumas coisas deste Autor, mas não me lembro deste Poema, embora não me pareça completamente estranho; será que li antes da Amn.?
    quem sabe!...

    Bj Victor

    Maria Mamede

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  3. Não tinha percebido quem escreveu o poema.
    Confirma-se a minha estupidez.
    É lindo mais uma vez digo.
    e também eu te digo OBRIGADA.
    Estou à espera da grande novidade, que por vezes nos reservam.
    Até à vista

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  4. Escrevi há pouco um comentário sobre este poema. Afinal já tinha deixado um comnebtário e tu já me tinhas respondido no meu blog.
    É que eu gostei muito deste poema.
    É o que devemos é agradecer tantas coisas que temos e nem damos por elas.
    Os teus comentários deixaram-me um pouco espantada, pois não sei como conseguiste ler coisas sme graça como as minhas.
    Até breve

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)