terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Riscos nas Paredes? - 25 comentários

Terça-feira, 14 de Março de 2006

Riscos nas paredes


continuação de

Grafittis, tags, riscos, códigos

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25 comentários:

ana disse...

Tiago, nao sei se sequer se devo comentar.
Em primeiro lugar, partir do principio que Portugal nao e de pessoas de pele castanha e um escandalo. Portugal e de todos os cidadaos qualquer que seja a cor da sua pele, religiao,...
Segundo, nunca pensei que muitos dos grafittis fossem feitos por um grupo qualquer determinado de pessoas (ha em Portugal a tradicao dos morais -PCP. MRPP... e outros), ha tambem grupos neonazis que deixam a sua marca por todo o lado)
O que queres dizer com este post?

Rodrigo Bastos disse...

? Tiago

Tiago disse...

Mas qual é a vossa dúvida? Por acaso eu estou a defender a mensagem que está pintada no muro? Por acaso têm lido os comentários sobre os grafittis em diversos blogs, não só sobre a Alta? E, caramba, não só nos blogs, na rua, na maneira como algumas pessoas acham que a sua qualidade de vida diminui drasticamente por a parede do seu prédio ter um rabisco feito sei lá por quem, nos corajosos que dizem "se eu o apanhar a fazer aquilo pinto-o todo e obrigo-o a limpar a parede com a língua!". Nunca ouviste isto, Rodrigo, não?

Como espero que seja óbvio, também não estou a defender a liberdade de expressão para rabiscos murais. Muitas deles acho-as imorais. E ponho os murais políticos completamente de parte nesta discussão, Ana.

Rodrigo Bastos disse...

Tiago, estava só a tentar perceber melhor o contexto do teu post. :)

joana disse...

Eu acho que o contexto é muito claro e gosto muito do post. E concordo tb com o último comentário do Tiago.

E não estão cansados de como todos nos melindramos com estes assuntos e lemos demais nas entrelinhas?

João Tito disse...

Este post faz todo o sentido, a Alta de Lisboa quer queiramos quer não é uma zona bem complicada, isso acontece não só pela parte de quem foi realojado como também pelo preconceito de quem vive nos edifícios de venda livre. Acho que infelizmente ainda se pensa muito em função do mundo em que cada qual vive e quem é de fora é sempre visto com desconfiança, acaba por ser uma visão, a meu ver, bastante primária que cria ainda mais problemas.
Quanto a questão dos tags (grafittis são diferentes e frases idiotas escritas nas paredes também) não gosto nada mas penso que temos que nos habituar a (con)viver com eles.

Rodrigo Bastos disse...

Pois é..existe por vezes o problema da interpretação e por isso mesmo "solicitei mais esclarecimentos" :)))))

Pessoalmente, acho que os tags, grafittis e as frases idiotas -roubada ao João :)- estragam o ambiente circundante (o mesmo vai para os cartazes publicitários colocados nas paredes dos prédios e outras estruturas). Não gosto, chateia-me e mais, acho que devia haver uma coima associada. Para mim, isto é tão chato ou mais como o "cócó de cão" perdidos nos passeios das nossas ruas.

PS: Gosto de grafittis mas quando bem feitos e nos sitios certos. Até considero muitos como sendo arte

ana disse...

Peco desculpa pela minha ignorancia.
Tiago na altura percebi que nao eras tu o autor do comentario que citas.
como sou imigrante sou especialmente sensivel a estes comentarios.
A outra questao e que vivo num pais constituido por imigrantes. Alguns recem chegados dizem muitas vezes: George Washington tambem era um imigrante.



Quanto aos grafittis:
Vamos aprender entao a conviver com os grafittis e tags?
Porque?
Nao sao proibidos por lei?

joana disse...

Rodrigo,

O que queres dizer com "bem-feitos e nos sítios certos"? Quem avalia a qualidade? Quem decide o local? Há um limiar de qualidade para passar a ser arte? Imposto por quem?

Isto faz-me lembrar o filme "O Gosto dos Outros". Viram?

João Tito disse...

Ana, também vivi 4 anos nos Estados Unidos e a realidade no que diz respeito a este problema é exactamente a mesma. Não vivemos propriamente num mundo perfeito ou para não ir tão longe não vivemos na Suissa, ser proíbido por lei não significa que não se faça, é razão até para fazer mais, é um desafio, o gozo ou o risco é maior. Isto não é só a nossa realidade é a realidade global acontece em todos os paises ocidentais.

Rodrigo, os tags as frases idiotas e muitos dos grafittis estragam mesmo o ambiente circundante, são horriveis, são proíbidos e há mesmo coimas para que os fizer. Estou completamente de acordo com tudo o que dizes, mas ou chamas a polícia cada vez que vez um puto a fazer tags ou lhe dás um estalo ou organizas uma brigadas de vigilância na tua zona ( com camâras ou não, para depois levares à polícia e eles não fazerem nada)ou ficas chateado, indignado mas vais-te habituando há situação. Porque tu não tens solução, a policia não tem solução e quando mais chateado ficares mais tags vais ter à tua porta. É chato não existir solução para tudo mas por vezes essa é a realidade. Para te dizer a verdade parece-me mais importante encontrar outras actividades e interresses para quem faz tags do que propriamente andar a correr atrás deles.

Já agora só mais uma coisa, tenho um sobrinho que estuda numa escola particular bem conhecida, há 2 anos atrás 1/4 da turma dele andava de spray na mão a fazer tags, sabes porquê?
porque dava adrenalina, porque era proíbido, porque as pessoas não gostavam.
Hoje felizmente encontraram outros divertimentos alternativos igualmente interessantes e já não fazem tags.

Rodrigo Bastos disse...

Joana,

"bem-feitos e nos sítios certos"? Quem avalia a qualidade? Quem decide o local? Há um limiar de qualidade para passar a ser arte? Imposto por quem?

Foi uma opinião puramente pessoal, e os critérios de avaliação são baseados na minha experiência de vida e personalidade. Podemos depois ter uma conversa mais detalhada sobre isso. :)

Agora em termos de sociedade:

São questões que não devem ser deixadas ao senso comum pois se há "coisa" que é variável essa é o gosto. Como tal, a sociedade deve criar regras (como já existem) e aplicar coimas para assim se
evitar por exemplo as "frases idiotas e ofensivas" que foram colocadas a vermelho vivo ao pé do Aguias da Musgueira. Já agora, que achas delas? :)

O que é certo e assumido por mim, é que não gosto de ver grafittis\tags e afins nas paredes do prédio ondo moro e neste caso também em toda a sua zona circundante, pois acho (de acordo com o meu senso comum) que não existe qualquer espaço para esse tipo de devaneios artisticos.

Rodrigo Bastos disse...

João,

Eu só estava a dar uma opinião sobre o facto concreto dos grafittis/tags e não a comentar as suas causas e ou métodos de resolução. Concordo com o cenário que expões.

Pedro disse...

Um blog em fogo interno de posts que dá gosto ver!
Eu que não gosto nada dos republicanos americanos tive de reconhecer a chapelada do antigo chefe de polícia de NY (olá Ana)quando cá veio há uns anos explicar como tinha conseguido fazer diminuir drasticamente os niveis de criminalidade na metrópole. E disse qualquer coisa como isto "Criminalidade é criminalidade, seja um roubo, um assassinato ou a destruição da propriedade alheia (como é a grafitagem, seja de carruagens de metro seja de facadas de prédios). E a criminalidade castiga-se. Ponto. No mercy.) Rejeite ou não o nosso politicamente correcto este pragmatismo americano o facto é que as ruas se tornaram mais seguras para todos.
Relembro o que me parece esquecido nesta discussão: grafitar é, antes de mais, estragar algo que é de alguém - seja esse alguém um privado ou todos nós. É isso que deve ser combatido e não a a falta de estética da maior parte das "pixações" como lhes chamam os brasileiros. Sim, porque se fosse por critérios estéticos, então também as nossas damas políticas e para-políticas já tinham ido todas dentro à conta das aberrações que resolvem vestir... E ainda andam por aí.
A polícia não "pode" fazer nada? Não quer. Ninguém acha que é assim tão grave estragar a parede do parceiro... Vocês não acham, pois não? E se fosse o vosso carro? As vossas roupas? A vossa cara?

Quanto à "tua" frase Tiago: é tenebrosa, mas é sempre um bocadinho mais inteligente que os "Beto loves Sónia" ou "qxswpkxz" que enchem a paisagem. Não chega aos calcanhares de "Mortos pra fora dos cemitérios - A terra a quem a trabalha!" ou "P..... ao poder que os filhos já lá estão!" mas pelo menos faz pensar.

Tiago disse...

As discussões são como peças de dominó, se puxas um três, a pedra a seguir pode puxar outro número diferente e lá diverge a conversa do rumo inicial.

Não era minha intenção debater o que fazer às "pixagens" e aos "pixadores". Só acho que não chega para essa discussão dizer que são sempre os mesmos a fazê-lo, que só uns têm défice de civismo, como acho que a máxima da justiça popular do "eu fazia e acontecia" é também parola e ridícula. Porque não resolvia, e porque duvido sequer que 1% dos que dizem isso fizessem alguma coisa se presenciassem o gravoso acto.

Mas sim, também não gosto das tags ou pixagens. O problema é que me entristece que isso seja motivo para maior indignação e cólera que os crimes de colarinho branco, a fuga ao fisco e a corrupção que têm minado a sociedade portuguesa. Mais uma vez, toda a gente diz: "os políticos são todos corruptos" da mesma forma simplista que dizem "os pretos são todos delinquentes". A indignação não passa daí, resignada e conformada, servindo o insulto como forma de desabafo e retaliação. Como diz o João Lobo Antunes, "toda a gente diz mal dos médicos mas toda a gente gosta do seu médico". Há chavões que nos toldam o raciocínio.

Num país onde todos este crimes são cometidos impunemente, onde um carro mal estacionado pode atrasar durante horas a passagem de um eléctrico sem quaisquer consequência para o responsável, onde políticos são absolvidos de corrupção apesar da condenação dos corruptores, querer que a polícia saia à rua para punir sem misericórdia os prevaricadores dos rabiscos é de uma desproporção extraordinária. O que é mais prejudicial às nossas vidas? Os inestéticos, abusivos e vandalizates rabiscos ou a imoralidade vivida no seio da fiscalidade, a incompetência e corrupção do planeamento urbano ou a falta de civismo que passamos uns aos outros nas filas de trânsito?

Se pudessemos escolher um destes males para erradicar, qual escolheríamos?

ana disse...

Tiago
amigo obrigada por criares este espaco. nao nos conhecemos fisicamente mas ja partilhamos tantas opinioes. assim se cria uma comunidade diversa/plural.

em relacao a pergunta, nao creio que tenha de escolher. tal como o mayor que o Pedro cita eu acredito que Crime e crime e ha castigo adequado. Pago impostos para que tal aconteca.

Tiago disse...

Ana,

obrigado pela saudação. Retribuo dizendo que é um prazer contar com a tua presença.

Tens toda a razão quanto aos direitos das pessoas que pagam impostos. Mas é preciso saber se toda a gente anda realmente a pagar impostos, se o dinheiro dos impostos (os cobrados e os que deviam ser cobrados) é suficiente para tudo, e como está a ser aplicado o dinheiro dos impostos (os cobrados, claro).

Nesta equação toda vamos chegar a conclusões terríveis. Os impostos não estão a ser cobrados a todos, há muita gente que consegue fugir, há uma economia paralela cristalizada culturalmente (a maioria das pessoas acha que quem foje aos impostos é mais inteligente que o sistema e não percebe que o prejuizo é da comunidade), e, por fim, chegaremos à conclusão que muitos dos administradores dos dinheiros públicos são maus merceeiros. Alguns até desonestos.

E agora? Continuo a dar-te razão, mas vamos chatear-nos mais pelos rabiscos ou pelos grandes responsáveis pela fuga aos impostos?


"Se eu os apanhasse a fugir aos impostos fazia-lhe isto e acontecia-lhes!",
popular exaltado com a fraude fiscal

ana disse...

tens razao
quem me dera saber a resposta.
a verdade e que um sistema social so funciona se for bem gerido e monitorizado.
acho que nos devemos exaltar com tudo, mas nao com todos. ha muitas pessoas em Portugal que pagam impostos, que cumprem todas as regras sociais e merecem viver em "paz".

Pedro disse...

Tiago,desculpa a ofensa mas todos esses argumentos são demagogia. Vamos deixar a pequena criminalidade em paz porque a grande não é perseguida? É precisamente por isso que a grande existe!
Por muito que nos desgoste a rudeza e "primarismos" americanos, eles ao menos não brincam - melhor, a mensagem que emitem é a de que não se brinca com a lei. Se foges aos impostos sais de casa ou do emprego com um par de pulseiras a envolverem-te os pulsos, se danificas propriedade privada idém,se matas alguém...
Aqui, é o laxismo perante as coisas pequenas que se reflecte nas coisas grandes e não o contrário.
Rigorosamente como a educação das crianças: se transigimos nas regras básicas, como quereremos que elas se tornem adultos que respeitem as regras gerais?

Tiago disse...

Não fico ofendido, Pedro. Gostava de perceber porque é que a relação entre pequeno e grande crime existe de tal forma, a sério. Porque é que um é consequência do outro. Garanto que não é falta de vontade minha de entender isso assim, mas não encontro essa relação tão directa, tão causa-efeito.

Mas tomando isso como verdadeiro, considerando que o que permite a grande fraude é a desmoralização quotidiana da amoralidade cívica, o problema resume-se aos rabiscos?

E aqui voltamos ao início (isto já deu tantas voltas que parece um carrossel). Se as pessoas passam à frente em filas de trânsito, se não dão o lugar em transportes públicos a pessoas mais necessitadas, se cospem no chão, se vão ao Domingo passear a Sintra com a família e deitam o lixo na mata, se ouvem falar de corrupção flagrante e não se revoltam, porque ficam tão exaltadas com os rabiscos? O que me parece, e deu origem ao post, é que existe, para além de uma inversão de valores muito grande, uma tendência para ajuizar tudo com base numa série de preconceitos primários do tipo "eu tenho horror a pretos, a comunistas e a maricas".

Bem, não vou falar mais nestas desproporção de reacção, já pareço um lunático de tanto me repetir. Não quis pôr em causa quem levanta e tem levantado os problemas do vandalismo público através dos rabiscos. É uma situação real que pode ser legitimamente contestada. Só quis mostrar o outro lado do preconceito muitas vezes expresso em comentários, mas isso já o disse, não foi? Se não foi ainda o posso dizer outra vez.

P.S. Lebro-me agora de Itália e dou a mão à palmatória pela minha ignorância. É um país com uma riqueza patrimonial fabulosa, com um respeito pela sua história, pela sua cultura, que permite manter lindíssimas desde a cidade às aldeias mais remotas, mas no entanto os escândalos de corrupção são incontáveis. Estou certo? é mesmo assim? Como funciona aqui a relação pequeno-grande crime?

Tiago disse...

Já agora, gosto dessa dos Estados Unidos serem um país onde a lei se cumpre. Efectivamente não há grafitti, não há assaltos, não há crimes violentos, as pessoas não podem comprar uma armasó porque o desejam. É um país também que não não se mete com a soberania dos outros países, não mata presidentes alheios para colocar no seu lugar ditadores militaristas, não invade um país à revelia das Nações Unidas rebetando-o à bomba, deixando o Museu principal com séculos de História ser saqueado mas protegendo os poços de petróleo. Os melhores exemplos vêm dos Estados Unidos, de facto.

Ana Louro disse...

Grande discussão esta, só agora me apercebi. Concordo com a última observação do Tiago. Os Estados Unidos têm tanto de bom como de mau, e os piores exemplos também. E esqueceste-te de referir a pena de morte, já para não falar do ataque de hoje ao Iraque.

Quanto aos emigrantes aplaudo as anunciadas facilidades para a sua legalização (na realidade não sei se funcionarão) porque acho que os imigrantes não roubam o trabalho a ninguém (têm é sido bastante explorados por alguns "patrões" tugas, que também exploram não imigrantes e isso, sim, deve ser combatido). Isto levar-nos-ia à questão do desemprego que na estatística tem subido, mas que tenho dúvidas se na realidade é mesmo assim. Nas zonas não urbanas talvez seja, mas aqui à nossa volta custa-me a acreditar (acho que os verdadeiros desempregados nem sequer contam para a estatística) - os licenciados não arranjam "emprego" na sua área mas "trabalho" há em qualquer área, o salário e os horários não são os melhores e muita gente prefere receber o subsídio a trabalhar 8 ou 10 horas por um valor mesmo que pouco mais alto, por isso quem vem de fora aceita qualquer coisa, mas nesse caso não está a roubar nada a ninguém (nem de outra forma o estaria). Se calhar por isso é que se diz "desemprego" e não "sem trabalho". Já não há empregos meus amigos. Se assim não fosse as nossas casas não tinham sido construídas (já para não falar nos estádios, expos, pontes e alquevas). Precisamos dos imigrantes para ocupar as casas que as nossos autarcas dexaram construir, para aumentar a natalidade, para "produzir" e consumir e para aguentarem a economia. Falou-se da chamada economia paralela e embora não queira dizer que há boa e má, olhem que ela tem aguentado muita coisa ao longo dos tempos e não deve ser confundida com fuga aos impostos. Não se fez nada contra a especulação imobiliária que encheu os bolsos de alguns (a quem não foram cobradas mais valias), mas passa-se uma multa ao velho comerciante por não ter a caixa registadora regulamentar e se calhar meter ao bolso a moeda de euro da última transacção. Pois é, crime quando é crime deve ser todo punido e a injustiça faz parte do mundo. Paciência.

Quanto aos grafittis e afins chateiam-me as "frases idiotas" e as assinaturas nas paredes mas algumas coisas até gosto de ver como os desenhos que estão, por exemplo, nos muros exteriores da escola da Damaia, mas acho que não os gostaria de ver em prédios de habitação (e não tenho o complexo nimby, por isso nem no meu nem no dos outros), mas acho que impedí-lo não passa por fazermos caça ao criminoso e claro que não são (só) os pretos a riscarem as paredes e muito menos os carenciados porque as tintas não são baratas (embora possam ser roubadas, acho que quem não tem dinheiro para comer não vai roubar latas de tinta). Acho que certas coisas como estas, puníveis por lei, não o sendo na prática mais valia não serem consideradas crime. Se se fizesse ao contrário, admitindo que em alguns locais os muros pudessem ser invadidos por tinta em vez de o proibirmos talvez se solucionasse parte do problema, ou estou errada? Os miúdos precisam de espaço para extravasar as emoções. Por isso dizem os psis que nos quartos, na escola, etc. se coloque papel de cenário nas paredes para se exprimirem, mas para quê o papel se já lá está a parede?. Quanto ao preconceito há-o em todo o lado e não é nada fácil acabar com ele, o que não quer dizer que se cruzem os braços e se deixe andar. Eu prefiro perder o meu tempo com isso do que a contestar os grafittis, é certo. E incluo-me nos 99% ou mais de pessoas que não me manifestaria perante a "grafitagem" ao vivo. Aliás, presenciei num sábado à tarde umas miúdas a escreverem e a desenharem numa parede do parque infantil perto da minha casa. A primeira reacção foi aproximar-me e abordá-las, mas quando olhei para elas e pensava - vou dizer - "isso não se faz", mas já há outras assinaturas e bonecos na parede?, vou dizer "agora têm que limpar o que fizeram"? olharam para mim e foram-se embora a correr e eu não fui, obviamente, atrás delas. Fiquei a olhar para os bonecos e a pensar que com aquela idade por acaso nunca escrevi nas paredes nem nas carteiras, tinha outras formas de comunicar com o mundo (bilhetinhos e recados, porque não havia SMS nem emails), mas nas várias escolas onde andei as mesas menos rabiscadas eram as que se podiam facilmente limpar (com tampo em fórmica). Por isso se calhar a culpa é "nossa, dos "grandes", que não pensámos em soluções para que a parede do parque não seja pintada. Se um conjunto de vizinhos decidir pintar a parede com uma tinta lavável ou arranjar uma solução melhor para o assunto (criando um espaço na parede dizendo aos miúdos - ESCREVE AQUI O QUE QUISERES) estarei disponível para ajudar. Critiquem-me à vontade, mas não tenho vocação para polícia e apesar de ainda querer mudar o mundo não é nestas pequenas coisas que o pratico porque não tenho tempo para tudo. E não acho isto comparável à questão dos dejectos dos cães, que são um caso de saúde pública, tendo já várias vezes abordado “donos” por isso.

Ricardo Soares disse...

Antes de 1974:
1961
1967
1967
Depois de 1974:
1976
1976

As conclusões deixo para vós.

Ana Louro disse...

As imagens valem mais que as palavras. Ficou feio, ficou. Entretanto foram limpas, mas não sei como ficarão daqui a alguns anos...

joana disse...

Sem querer ser provocadora (porque, a sério, não o estou a ser) eu não acho que tenha ficado feio. Quando vejo essa "grafitagem" politica dos anos 70 (ainda que não sejam os murais) acho que tb estou a olhar para um pouco de história. Penso, lembro-me da época em que era miuda e havia, por exemplo, APU escrito por todo o lado. Dá-me uma certa nostalgia.

E o contraste muro branco/muro pintado tb me fez lembrar dos 2 lados do muro de Berlim. Ainda hoje, nos poucos pedaços que restam de pé, dá para ver bem qual era qual lado.

Ponto Verde disse...

É um perfeito desrespeito pelo espaço publico e pela propriedade privada, uma expressão urbana intimidatória, grupal e marginal.

Isto não é um fenómeno folclórico, mas uma forma de criminalidade e poluição visual que há que pôr cobro.

Analisei o fenómeno e suporto a minha opinião no www.a-sul.blogspot.com tento agora documentar o mesmo fenómeno no espaço rural nestes proximos dias, é bom que se discuta o problema!

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1 comentário:

  1. No meio de riscos sem valor, que só servem para degradar ainda mais o património que é de todos e todos tinhamos a obrigação de conservar, porque quando morrermos não o levamos, porque ele é da humanidade, quer queiramos ou não, encontram-se graffitis lindos, com mensagens que não podemos ignorar e que não podemos deixar de considerar obras de arte.
    É pena que tudo seja metido no mesmo saco!...
    É condenável o que se serve das paredes dos outros para escrever frazes condenáveis que hoje e sempre, sabemos bem, deram origem à violência, seja ela qual for.
    Bom fim de semana
    Maria

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)