quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Torres Vedras, Sobral de Monte Agraço e o que mais se lerá

* Victor Nogueira
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Torres Vedras

Passei por Torres Vedras já era noite adiantada. Pareceu-me uma terra incaracterística, feia, lembrando o Montijo. Ruas íngremes, os passos ressoando na calçada deserta, levavam ao Castelo, cujas portas se encontravam fechadas, sendo por isso impossível visitá-lo.

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Torres Vedras ficou na história devido ao sistema de muralhas defensivo construído a norte de Lisboa, numa zona montanhosa, para impedir, com êxito, a tomada de Lisboa pelos exércitos napoleónicos em 1810, comandados pelo General Massena e detidos pelo General Wellington. (Notas de Viagem, 1997.07.08)

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O castelo, danificado pelo terramoto de 1755, é uma ruína, subsistindo alguns panos de muralha, para além da Igreja de Santa Maria do Castelo ou de N.Sra da Anunciação, com dois pórticos românicos. Vista deste local a cidade é feia. Daqui descemos ao centro histórico, de aspecto agradável, com ruas pedonais. As ruas têm nomes expressivos, como as travessas da Paz, do Castelo e do Quebra Costas. As ruas rebaptizadas referem na mesma os nomes de outrora: antigas ruas dos Balcões, da Misericórdia, dos Canos, do Açougue dos Clérigos, da Judiaria, dos Cavaleiros da Espora Dourada, do Terreirinho, da Cerca (1º de Dezembro), a antiga travessa das Olarias ou o antigo Largo do Grilo, para não falar no Outeirinho, actual Praça da República. A antiga Estrada Real 61 denomina se presentemente Rua 9 de Abril. O Chafariz dos Canos, gótico, ameado, do século XIV, embora mais rico, é similar à Fonte das Figueiras, em Santarém. Nalgumas ruas existem capelas como em Setúbal, os passos da via Sacra da Crucificação de Cristo.

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Numa praça ajardinada, com um obelisco, memorial às batalhas do Vimeiro e da Roliça, visitamos o Convento dos Agostinhos Calçados (Igreja e Convento da Graça), onde está agora instalado o museu municipal, embora a Igreja esteja aberta ao culto. A arqueologia é a componente principal do Museu que, para além disso, possui uma sala dedicada às invasões francesas, com armamento, gravuras, maquetas e fardamento, para além doutras secções com louças e armários. Nos claustros, agradáveis, estão sendo reconstituídos e restaurados os azulejos primitivos, com a vida de S. Gonçalo de Lagos, o Santo Patrono, que andavam dispersos por várias entidades ou armazenados num sótão, após a extinção das ordens religiosas no século XIX. Noutra sala estão expostos primitivos portugueses, provenientes do retábulo da Igreja de N.Sra. do Ameal.

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É dia de S. Gonçalo e o museu, neste domingo, está excepcionalmente aberto aos visitantes, atendendo nos os funcionários simpaticamente e convidando-nos para confraternizar e compartilhar com eles o jantar, transportado do exterior em grandes panelões, pois viemos de tão longe - Setúbal - e deste modo querem obsequiar nos. Mas declinamos o convite e prosseguimos o passeio, agora novamente nocturno, pelas ruas da povoação.

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Doçaria típica desta região são, vejam lá, os pasteis de feijão!

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O aqueduto com dois km. que transportava a água para a povoação, nalguns troços apresenta arcos duplos, como o de Estremoz, embora menos imponente.

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Na parte nova existem muitos edifícios Centro Comercial e o trânsito é intenso. A Câmara funciona no antigo edifício da Escola Industrial.

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O museu dá conta das povoações pré históricas existentes na região, de que é exemplo o Castro do Zambujal, num dos contrafortes da serra de Varatojo, com o rio Lisandro correndo lá no fundo da ribanceira., a 3 km de Torres Vedras. que não visitei desta feita. (Notas de Viagem, 1997.10.27)

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Em nova viagem visitamos o convento do Varatojo, depois de nova passagem por Torres Vedras e nova sessão de fotografias: o edifício não está visitável à hora que chegamos e exteriormente nada de especial lhe encontro. Situado numa das faces dum pequeno jardim, à entrada principal tem-se acesso descendo uma escadaria azulejada, que dá acesso a uma portaria com portal gótico. (Notas de Viagem, 1998)

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Bombarral

Chegámos ao Bombarral, terra dos vinhos. Lá vi diversos homens com o barrete ribatejano, verde e vermelho. (1963.09.8/9 - Diário III)

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Ao passar pelo Bombarral, desisto da visita e prossigo para Torres Vedras, por estreita estrada de infindas curvas e contracurvas. A vila não terá muito para ver e ainda não é desta que fotografarei os azulejos da estação ferroviária, que parecem ser um ex-libris da povoação pois surgem em inúmeros folhetos turísticos. (Notas de Viagem, 1997.10.27)

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Sobral do Monte Agraço

A viagem para Sobral de Monte Agraço faz se já de noite, contingências dos passeios em curtos dias de inverno. Da ruralidade da paisagem não me apercebo, mas sim e apenas do relevo do terreno, ora subindo, ora descendo, ora curvando, ora contracurvando. A povoação fica lá em baixo, mas é uma desilusão. Uma igreja barroca, na Praça da República, e um teatro (Eduardo Costa?), perto da Praça Dr. Eugénio Dias (médico dos pobres) com elegante coreto, busto do homenageado, fontanário, edifício da Câmara e uma residência do século XIX. As lojas têm um ar de antigas, na sua decoração interior. Mais adiante um outro largo arborizado, a praceta 25 de Abril, de edifícios recentes, permanecendo por enquanto uma casa estilo chalet, com um corpo estreitinho, lateral, estilo pequeno torreão, e restaurantes com nomes curiosos: Café Montagreste, Café Restaurante A Toca do Coelho, Restaurante Pé de Galo, Pastelaria Pan Diogo ... Já na saída da povoação a nossa atenção é desperta pelos painéis de azulejos do matadouro municipal (1940), representando cenas relativas à criação de gado: suinicultura, o pastor com as ovelhas, o ganadeiro com vacas e vitelos ... O adiantado da noite não dá para procurar as casas azulejadas e as varandas de ferro fundido referidas pelos livros.

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As ruas ostentam ainda cartazes da campanha eleitoral para as autarquias. Insólitamente, os do CDS/PP (Centro Democrático Social tranfigurado de Partido Popular) afirmam Só prometemos trabalhar. Curioso, esta do partido do grande patronato, que aliás não define o sentido da sua trabalhia!

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Não é desta que visitamos as ruínas das Igrejas de S. Salvador (século XII) e do Salvador do Mundo. Prosseguimos viagem em busca da Igreja de S. Quintino, (1) do século XVI, insólita porque na sua fachada principal coexistem um imponente portal manuelino e um pequeno portal gótico, emparedado, este sobressaindo na parede de pedra não rebocada. Defronte, no adro, um telheiro com bancos, sítio onde talvez o povo se juntasse para conversar abrigadamente. Com o templo fechado não dá para visitar os paineis de azulejos dos séculos XVII e XVIII que cobrem as suas paredes.

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Prosseguimos a viagem em busca de Sapataria, mas antes detemo-nos em Gozundeia e na Patameira, situadas nas margens dum rumorejante riacho e da linha do caminho de ferro. Trata se de acessos perigosos, pois as passagens de nível não têm guarda. Desta última povoação registo as ruas da Fonte e de Baixo Guarda, para além da calçada do Fincão. Não encontramos a Capela de N. Sra da Luz, pois a escuridão é total e as ruas estão desertas. Pelo que não resta senão procurar a povoação seguinte ... (Notas de viagem, 1998.01.--)

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Sapataria

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... e a Igreja de N. Senhora da Purificação (século XVI), com modesto pórtico manuelino e moderna torre sineira. A povoação é enorme, com ruas estreitas e casas parecendo se com as do Norte, com dois pisos; num largo persistem alguns edifícios antigos, um deles senhorial - com escadaria exterior, capela e portão brasonado - e outro com varanda alpendrada, como as do renascimento. Perto visitamos a Moita. Da toponímia anoto as ruas da Fonte, do Campo e das Faias, bem como a travessa de S. Sebastião, onde se situa uma modesta capela com um campanário lateral e cruzeiro no adro, a que não podemos aceder por estar encerrado o portão.

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Dado o adiantado da hora é difícil encontrar onde jantar, pelo que regressamos ao restaurante O Ferrador, cujos donos nos contam curiosidades da terra, como sejam a origem do seu nome, derivado dali se fabricar o calçado para a tropa. Do terraço da casa mostram nos o Monte do Moinho do Céu, de que se distingue o piscar das luzes para a navegação aérea.

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Nesta viagem passamos ainda por Almargem, povoação de casas pobres, com construções que me parecem respiradouros dum aqueduto, para além duma igreja modesta, parque infantil e poço. (Notas de viagem, 1998.01.--)

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1 - Visitável aos sábados e domingos das 13 às 18 horas, e nos outros dias através de marcação pelos telefones 941 877 ou 941 339.

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3 comentários:

  1. Apesar de não teres podido ver tanta coisa, a verdade Victor, é que se eu algum dia puder e quiser fazer estes percursos, virei até este teu Blog à procura das descrições que (me) nos fazes de todos os lugares por onde passas e dos motivos de interesse para visita, neles existentes.
    Obrigada e parabéns Amigo!

    Bj

    Maria Mamede

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  2. Olá boa tarde. Será que foi em 1910 que o General Massena se acercou de Torres Vedras? Ai essa história!
    Sequeira

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  3. Ao «modesto» anónimo
    Grato pela chamada de atenção. Ironias bonacheironas à parte, naturalmente que qualquer pessoa minimamente inteligente perceberia que se trata dum erro dactilográfico que escapou à revisão - onde está 1910 deveria estar 1810.
    Victor Nogueira

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)