* Victor Nogueira
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É bonita a entrada em Santarém, proveniente do Sul: primeiro avista se o castelo ao longe. Mudando de ponto de visão panorâmica, das Portas do Sol, no Castelo cujo interior está ajardinado, avista se a estreita e longa ponte metálica de D. Luís (1881) e, mais além, a lezíria ribatejana e as vilas de Chamusca, Alpiarça e Almeirim. Vindo do Sul, à cidade chega se por uma ladeira íngreme, como em Sintra, com uma capela mais em baixo, a meio da encosta, para além da Fonte das Figueiras, alpendre ameado no exterior da muralha medieval, com três arcos ogivais.
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No centro da cidade, de ruas estreitas, destacam se a Igreja da Graça (românica) e Igreja de Santa Clara (gótico flamejante), o Mercado, da autoria de Cassiano Branco, com azulejos. Daqui partem uma rua de casas que parecem do Porto e uma arborizada alameda, o Campo de Sá da Bandeira, no outro extermo do qual se encontra a Igreja do Hospital ou de Jesus Cristo. Interessante a fachada da Igreja do Seminário, perto do Mercado, templo maneirista ao estilo jesuítico, edificado onde foi o Paço Real, no Largo do Seminário ou Praça Sá da Bandeira, onde também se encontra uma janela manuelina e mais uma igreja, em forma de cruz grega e cúpula octogonal, dedicada a N.Sra da Piedade. Noutro local ressalta ao visitante a Torre das Cabaças - torre de relógio quinhentista, com 22 m de altura e relógio de sol sem ponteiro na fachada, vista por entre a rua estreita, junto ao museu arqueológico, antiga Igreja de S. João de Alportão, actual museu municipal, onde se destaca o túmulo de D. Duarte de Menezes. (1)
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A referida igreja de Santa Clara provoca uma sensação insólita ao visitante, porque não vê a sua fachada principal quando entra subindo na cidade, antes avistando o esguio alçado lateral e a ábside. É o que resta do antigo convento românico das Clarissas, cujas celas e claustros foram demolidos no início do século XX. Logo a seguir defrontamo-nos com outro templo, de várias influências arquitectónicas - o convento de S. Francisco, a caminho do centro nova, em zona arborizada, a Praça da República, com o seu coreto de ferro forjado e animação estival. Mas em terra de tanta e sumptuosa igreja, não pode deixar de ser referida a Igreja de Marvila, exemplar manuelino com interior revestido de azulejos polícromos.
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O castelo perdeu o seu ar marcial, e é hoje um aprazível espaço ajardinado e miradouro sobre a lezíria, onde escavações arqueológicas mostraram vestígios de ocupação romana, incluindo um templo.
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Em Santarém, nas Escadinhas da Figueira, foram executados os assassinos de Inês Pereira, a que depois de morta foi rainha, tendo o rei D.Pedro, das varandas do Paço Real, assistido ao suplício e concretização da pena capital por si decretada. Nesta zona situa-se a povoação da Ribeira de Santarém, onde se instalaram os mesteirais e as classes menos nobres medievais, depois transformada em bairro burguês e industrial deviso ao crescimento do tráfego terrestre e fluvial. é uma zona ciclicamente martirizada pelas cheias do rio Tejo, quando este enche eb se espalha pela lezíria, invadindo e submergindo as margens.
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Da toponímia antiga a rua Direita deu origem à Rua Serpa Pinto, mas na zona da Mouraria e no centro histórico ainda persistem topónimos como as Travessas das Caldas e a dos Surradores ou as ruas de Alfageme, Pontinha e das Esteiras e o Largo do Milagre ou a Calçada da Atamarna, perto do local por onde D. Afonso Henriques terá franqueado a porta que lhe permitiu conquistar a cidade aos mouros e doar à Ordem de Cister os coutos de Alcobaça. Mas isto é história que no ponto devido será abordada.
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Nos arredores agradou me a Capela da Senhora do Monte, do século XVI, com alpendre colunado, que pertenceu a uma gafaria, e a Ribeira de Santarém, que acima se referiu, vítima de inundações mais ou menos graves de cada vez que o rio Tejo sai das suas margens. (Memórias de Viagem, 1997 / 1998)
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1 - Esta igreja, como o convento de S. Francisco, foram vendidos ou utilizados como armazém o primeiro, como palheiro, cavalariçça e refeitório de soldados, o segundo Foram já no século XX “recuperados” e adaptados a novas funções.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)