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A bondosa Ana Maria Caldeira
É rapariga de sorriso aberto;
É bem dela esta sua maneira
Quando o ar é doce, não encoberto.
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Veio de longe, lá d'Amareleja,
Agora em Cetóbriga parou,
Mas há quem a procure e a não veja
Quando vai cirandar no gira-vou.
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Ambos luzentes, olhos grandes tem.
São como no céu o sol a brilhar,
Um sorriso de menina mantem,
Quando o mal dela sabe afastar.
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Cara redonda, um rosto castiço,
Com farto cabelo:, liso e castanho,
Brancamorena, de corpo roliço,
O ser ou viver não quer de antanho,
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Caminha pelo mundo na procura
D'encontrar alguma felicidade;
Por vezes fica a noite bem escura,
Não sabe que fazer da liberdade,
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Dela bem graciosas são as filhas,
Duas, Aida e Catia de seu nome,
Contudo não pode viver em ilhas
Se delas quiser apartar a fome.
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Tem o seu coração nas duas mãos,
Mas por vezes é mui desconfiada;
Quando tal sucede é chateação
E vai todo o pessoal de abalada.
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Mundo e pessoas a entusiasmam:
Então anda tudo na reinação
No entanto, ao chegarem miasmas
Não sabe manter boa actuação.
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É muito amiga em seu ofertar
A quem no goto dela bem cair;
Nem sempre alcança resguardar
E o seu pecúlio vê partir.
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Se por todo o lado encontra amigos,
Muitos raramente Ihe são fiéis;
Deve pois cuidar do anda comigo
A ver se há boa troca de papeis.
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Mas com este meu pequenino escrito
E andando muito breve, de abalada,
P'ro futuro fica neste registo
A nossa boa amiga retratada.
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Setúbal 1987.07
Victor Nogueira
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)