segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Carta para AMF

Olá, "Marie"

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Também eu gosto do mar e do sol, que aparecem em muitos dos meus poemas. Durante muitos anos, em Luanda, vivi à beira-mar - era só atravessar a estrada e encontrava a praia, de que fala um poema meu - RAIZES. Como de mim falam o OBRIGADO e a ELEGIA PELA MINHA FAMÍLIA DISPERSA. Mas como adoras cozinhar - eu sou autodidata e lá me vou desenvencilhado, por vezes com invenções culinárias, deixo-te uma RECEITA PARA UMA MENINA CALADA. À tua pergunta se sou feliz deixo uma resposta transcrevendo duas passagens dum dos meus ESCRITOS AO (es)CORRER DA PENA E DO TEMPO:

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Ontem, que já é anteontem, a Maria do Mar falou sobre a felicidade em contraponto a uma pretensa atitude de infelicidade minha. Não me considero infeliz. Vou vivendo, melhor que muita gente, embora não tão desafogadamente como outros ou do modo que eu preferiria. Diferente da infelicidade é o desencanto pela falta de solidariedade e de humanidade crescentes nesta sociedade em que estamos. E desencanto tenho, por vezes muito, por vezes em demasia. O que não significa que não tenha tido momentos de alegria e serenidade. Alguns deles com ela, apesar de tudo. E talvez parvamente e sem razão eu persiga nela a crença ou a esperança de que teria sido (seria) possível ter sido (ser) feliz com ela, como amigo ou como amador e ser amado. Mas isto só teria resposta se outra fosse a nossa relação. A isso, só a convivência límpida e no dia-a-dia teria dado resposta.

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Apesar de tudo acredito que é possível as pessoas serem felizes. Por muito breve que seja a felicidade. Porque entendo que os homens e as mulheres não foram feitos para estarem sózinhos ou viverem solitáriamente. Por isso, na breve passagem nossa por este mundo, é preferível, digamos, um ano de felicidade, mesmo que repartida no tempo, a uma vida inteira com medo de perdê-la ou não alcançá-la.

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Todos temos limitações maiores ou menores, neste ou naquele campo. Preciso é sabermos aprender a viver com as nossas limitações para ultrapassarmos os muros que nos cercam ou querem levantar ou levantamos á nossa volta.

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Quando estudante de Economia em Lisboa, tinha então vinte anos, frequentei um curso intensivo de inglês. A professora, uma jovem inglesa, a Maureen Baltazar, era alegre, encantadora e todos nós gostávamos muito dela. Mas entretanto ela resolveu regressar a Inglaterra, já não me lembro se por se ter entretanto separado do marido português. E o surpreendente para mim era o desgosto e a ideia expressa nas palavras duma das empregadas da escola pelo facto da Maureen abalar, creio que definitivamente, dizendo que mais valia não a ter conhecido porque assim não teria o desgosto de perdê-la. E surpreendia-me esta atitude, pelo que então lhe contrapuz que o que era importante era termos conhecido e convivido com a Maureen, porque a recordaríamos sempre com alegria e ao tempo em que tínhamos estado com ela, porque era um tempo que tinha valido a pena ter sido vivido!

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Da felicidade, da liberdade e do amor falam outros poemas meus: FLOR DO MAR, LIBERDADE, NOSTALGIA, O QUE AMO EM TI, TODO O DIA e, finalmente, TU VIRÁS.

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Espero que digas qualquer coisa e me escrevas.

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Saudações do

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Setúbal, 99.01.30 Victor Manuel

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)