Música
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Tal como no ano passado o Festival da Canção promovido pela RTP para apuramento da canção portuguesa representante no Festival da Eurovisão levantou enorme celeuma - o organizador do Festival da Canção de Luanda pode consolar se; de novo o vencedor cantava de uma maneira que se assemelhava ao andar das pessoas quando um filme é passado ao retardador, (...) dengoso e vagaroso. De novo as minhas canções [preferidas] não ocupavam os primeiros lugares. Enfim, uma pobreza franciscana. A expressão dos intérpretes nem sempre correspondia ao que cantavam. O locutor - por sinal o Henrique Mendes - monopolizou a apresentação, evitando assim que se reparasse na locutora, que quase não abriu o bico e que para lá estava triste e constrangida; disseram lhe que era bom locutor e o rapazinho envaideceu se e, qual pavão com a cauda aberta em leque, pretende ser o sol radioso que a todos ofusca com o seu esplendor. (NSF - 1968.03.21)
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Ouço o Concerto nº 1 para piano, de Tchaikowski. Os sons desprendem se em cavalgada, saiem do piano pelo alto-falante, umas vezes de mansinho, outras violentamente, elevam se, envolvem nos, penetram em nós e arrebatam nos. Neste momento os violinos dialogam com o piano, tentam impor se lhe, este assemelha se a um riachozito saltitante. A voz daqueles eleva se, tentam emudecê lo. Os violinos perdem a sua delicadeza, tornam se autoritários. Abafam o piano, o frágil, quem diria, piano! Veio a calma. Lentamente, a medo, uma flauta tenta quebrar o silêncio. Outras vozes vão se lhe juntando. Violinos e piano restabelecem o diálogo, secundados por outros elementos. Há uma quietude no ambiente. Uma voz grave, que não identifico, surge. O piano saltita pelo riacho, de pedra em pedra, apressa se, corre ligeiramente pelos prados. Os outros seguem no. Os sons misturam se, elevam se em cascata. O diálogo repete se serenamente, em espiral. Termina mais uma cena.
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Silêncio. Violência. Brusquidão. Violinos e piano defrontam se de novo. Implacavelmente o piano tenta impôr-se. Consegue, com alguma luta. Os violinos aceitam a derrota e rendem lhe homenagem. Ele aceita a do alto da sua vitória. Os sons ora dialogam, ora competem entre si. Os violinos são os árbitros. Parece que nada mais pode deter o piano, soltito, com ternura, com delicadeza, umas vezes, com altivez, outras. Ah! os outros silenciaram no. Mas ele debate se, liberta se, corre, surdo à majestade dos violinos. Está sozinho. É perseguido, tenta fazer se ouvir. Mas é tarde ! Este final soberbo, empolgante, arrebatador ! (NSM - 1969.01.23)
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Neste momento ouço um disco da Rita Olivais. As músicas são calmas, repousantes. Parece que os sons musicais vão caindo ou talvez brotando de alguma saída. Os poemas, quanto a mim, nada de especial têm. Mas alguns dos versos, a forma como representam as ideias, são, a meu ver, felizes. E a música valoriza os bastante.
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O disco terminou e surge agora o Adriano Correia de Oliveira. Os versos dele são um pouco diferentes. Ou não fossem muitas das letras do Manuel Alegre. Mas a poesia deste (duma "Praça da Canção" são panfletárias demais, falsas. Ouvir uma Trova do Vento que Passa ou Canção com Lágrimas ou lê los é muito diferente. Ao lê los parecem me inautênticos, talvez porque só me agrade aquilo que sinto, que me diz alguma coisa. O que não sucede com os poemas do Manuel Alegre. (MED - 1969.04.28)
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O rádio transmite neste momento a valsa O Danúbio Azul [de J.Strauss]. E eu deixo me levar na onda dos seus acordes, vogando liberto deste quarto deserto. Mas a valsa terminou e alguém pediu um disco dum tipo qualquer que pede à querida que relembre os momentos felizes, para que ele possa esquecer todo o seu amargor. É o programa do Matos Maia. A malta telefona, repete uma frase publicitária, pede um disco e, frequentemente antes de desligar, pergunta: "Posso dizer o meu nome?" E ficam todos felizes da costa ! ... Pobres pessoas que se contentam com tão pouco! (ASV - 1969.02.29)
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Vivaldi é um compositor muito agradável de ouvir se. A sua música é sonora, alegre, colorida! (NSF - 1969.12.12.)
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A tarde cai e do gira-discos evolam se as notas da "Dança Macabra", que de macabra nada tem. (NSF - 1970.05.17)
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A tarde está tristonha. Dos alto-falantes do gira discos saiem as notas da "Rapsódia Húngara" de Liszt. Não há dúvida que o piano é um instrumento agradável de ouvir. E a Rapsódia Húngara nº 6?! Dá uma sensação de afirmação persistente, que nunca se quebra. Mas uma das minhas composições preferidas é o "Concerto para piano, nº 1", de Tchaikowski. (NSF - 1970.03.21)
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Como sempre ouço música. Desta feita o meu amigo Vivaldi e os seus concertos, que têm algo de primaveril, recordando bosques e pássaros e riachos. (NID - 1971.04.05)
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Bach no gira discos: a calma e a harmonia do velho Johann Sebastian. O turbilhão que é o meu espírito talvez se acalme com ele. Rios tumultuosos sobem dentro de mim. Eles preferiam Zorba (1) e o delírio até à exaustão: descansar o cansaço.
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Bach é agora um hino à alegria. Se fosse traduzir por imagens o que ele me desperta falaria de flores cujas pétalas se abrem lentamente, ao retardador, de qualquer coisa de esvoaçante, de saltitante, duma sensação de leveza. Bach permitiu que se rompessem os diques feitos das recusas, das negações, das violências destes dias de exames, calor e frustração. (MCG - 1972.07.14)
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Estou ouvindo música assassinada, isto é, música clássica adaptada e interpretada por um tal Waldo dos Rios (o tal do "Hino à Alegria") e sua orquestra. (1975.06.29)
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Ali no gravador canta o Zeca Afonso, que tinha uma voz muito bonita. E ao mesmo tempo fico triste com elas (canções), porque me fazem lembrar o tempo do fascismo, quando havia esperança de lutar e conseguir um mundo melhor, sem guerra,. nem miséria, nem fome, mas onde houvesse alegria, liberdade e paz. (SNS - 1987.04.26)
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No gravador o Paulo de Carvalho canta Olá, como vais?, depois de se ter calado de novo a Luísa Basto, cuja voz me comove imenso, ainda mais que a da Nana Mouskouri ou da Joan Baez. Gosto de ouvir o Paulo de Carvalho. (MCS - 1989.09.24/26)
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Ouço o Nino Rossi. Gosto muito da música de trompete. (MMA - 1993.09.12)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)