1.
Esforça-se o autor a escrever, melhor ou pior, e depois as pessoas na maioria buscam significados e "estórias" e "enguiam" em torno da "cabedela"
Pois é, nada podemos dar aos livros senão letras do nosso pensamento e os seus olhos e lábios são os olhos e lábios não de quem escreve mas sim de quem (tres)lê :-)
Durante muitos anos supus que as Crónicas de António Lobo Antunes eram-no com base na vida dele. Mas depois concluí que não, que nem sempre é / será assim, porque ao escribador todos os malabarismos são permitidos para dar alguma cor (esta e não outra) à vida que vai encarreirando em signos na folha branca ou no monitor.
2.
Também posso vestir a realidade com fatos alegres e música e folguedos e brisas cariciantes e olhares de veludo e sedutores e de pedrinhas saltitando pelo riacho com se aves cantando fossem.
Com as palavras e a arte de usá-las se pode tornar mágico o que não é e soalheira a mais triste noite ou brilhante como se de mil sóis rendilhados falassem o que me cerca e com elas me libertando :-)
Ou não ! ! Porque o mágico tem consciência dos truques para tornar mágicos os enganos !
3.
Muitas vezes somos enganados pela "aparência". Só o tempo e a convivência permitem separar as águas. Nesta virtualidade que é a internet em que navego desde há 15 anos,quem sou eu para quem me lê ? Para uns a ilusão da imagem que surge pelo que escrevo, para outras as mãos com que escrevo, para outras a minha voz ao telefone ou na vida real.
Ilustrações -
Pieter Brueghel, o Velho - Festa de Noivado
Álvaro Cunhal - Desenhos da Prisão
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)