1073 - Desenho de Camilo Monteiro
* Victor Nogueira
Sedento nas tuas mãos esguias e belas
aqui
na estrada da vida
à beira do caminho
de pé
nesta tarde de verão
louco pássaro
de asas partidas
busco a carícia do sorriso
o quente murmúrio da voz
o frémito das nossas mãos
o suave perfume do corpo apetecido
turbilhão incandescente sufocante
rio mar profundo
sigo
com os dedos e os lábios o teu
contorno
aqui
os olhos a boca o lóbulo das orelhas
o andar decidido
os seios pequenos e firmes
além
a ondulante seara
a curva suave
o moreno vale
fresco límpido agridoce refrigério
1985.Julho.28 -
Setúbal
CAMINHANTE CAMINHANDO SE FAZ O CAMINHO (1)
Em que lugar e tempo sossegarei
A que porto chegarei
Em que ombro descansarei
Este imaginar sonhando
Este buscar sem fim buscando
Este querer não querendo
Este estar não
estando
Este chegar partindo
O caminho que seguirei !?
1986.Maio.03 Setúbal
(...) No dia dos
meus recebi quatro postais, cada um no seu género, que muito apreciei - o da
Maria do Mar, o da Noémia, o da minha mãe e um colectivo, do pessoal do
Departamento de Pessoal, este acompanhado dum cachecol.
Gostei muito
deste último postal, que tinha um poema, votos de feliz aniversário e beijos,
seguidos de doze assinaturas. O poema, intitulado Livres, dizia:
Somos livres perante o Sol do
dia.
E livres
perante as estrelas
da noite:
E somos ainda
livres quando não há sol
nem luar nem
estrelas.
Somos ainda
livres quando fechamos
nossos olhos a
tudo quanto existe.
Mas somos
escravos do que amamos:
Porque amamos:
E escravos do
amor porque
amamos.
Este "meu"
pessoal é muito "romântico": o ano passado ofereceram-me um LP
com tangos do Carlos Gardel, quatro álbuns de banda desenhada e um coração
recortado com votos de parabéns e as assinaturas de todos eles e elas.
Mas este ano,
como já não estou no Departamento de Pessoal e me mandaram as "prendas"
pelo correio interno, retribuí do mesmo modo, inventando um "cartão"
á hora do almoço.
No fim destas
"férias" todas ainda consegui que me sobrassem dois
dias para gozar no primeiro trimestre deste ano.
Vou ainda ler
dois álbuns de BD do Lucky Luke: um deles é A Noiva de Lucky Luke, em
cujas histórias não aparecem normalmente mulheres, pois ele é um cowboy
solitário, muito longe de casa. Houve três excepções: Calamity Jane (vaqueira,
pistoleira e prostituta) e Sarah Bernardt (actriz), ambas com existência
real. Mas neste A Noiva de Lucky Luke o autor é de um reacionarismo
atroz, apresentando as mulheres como frívolas, sem cabeça, e uma "manada"
conduzida pelo herói, atravessando os Estados Unidos à procura de marido, facto
que é real. (...)
Vi na TV dois
filmes de que gostei: Nova Geração (American Grafitti), enternecedor,
sobre os amores dos adolescentes, e O Lugar do Morto, estilo policial e
passado em Lisboa.
Setúbal, 1987.01.08
(Delmira, Lurdes, Vitalina, Gina, Rosa, Alice, Carlos, Estrela, Ricardo, Beatriz, Dina, Teresa)
Fiquei "encantado" com a vossa lembrança e como amor com amor se paga, hesitei entre um poema do Manuel Alegre e um escrito meu. Na dúvida, retribuo com os dois e um desenho que com o Camilo concorremos para o cartaz das Festas dos Finalistas em 1973. Ganhámos o concurso mas a CENSURA não deixou passar o cartaz.
Retribuo os beijos com um abraço e a amizade
do VM
Setúbal, 87.01.06
Amor
espelho de muitas leituras
encanto descoberta
aventura de ser
amigo............. pássaro lançado no vento
........................rio tumultuoso
.............................violento
........................inebriante
............................flor
.......................uma rosa verde papoila
.......................um bosque
nas encostas do mar sem fim
um canto de alegria
................canto
................delicado
................suave................leve
................suspenso
................de ti
[1985.Julho.23 - Setúbal]
LETRA PARA UM HINO
«Porque mudando-se a vida
se mudam os gestos dela»
Camões (Babel e Sião)
É possível falar sem um nó na garganta é possível amar sem que venham proibir é possível correr sem que seja fugir. Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta. É possível andar sem olhar para o chão é possível viver sem que seja de rastos. Os teus olhos nasceram para olhar os astros se te apetece dizer não grita comigo: não. É possível viver de outro modo. É possível transformares em arma a tua mão. É possível o amor. É possível o pão. É possível viver de pé. Não te deixes murchar. Não deixes que te domem. É possível viver sem fingir que se vive. É possível ser homem. É possível ser livre livre livre. Manuel Alegre, hoje dirigente nacional do PS (
É TEMPO DE CHORAR
É tempo de
chorar
silenciosamente
os nossos
mortos
irmãos
encerrados
encurralados
É tempo de
chorar
enquanto
para lá desta
hora
a vida se
renova
por entre
os bosques e
os regatos
sussurantes
do imaginar o son
(h) o estilhaçado
É tempo de chorar
o tempo que voa!
(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luis,
morto de morte matada
por ele próprio
e por muitos outros no tempo
que para ele
terminou naquela tarde de
26 de Fevereiro
de 1987 ............................. )
CANTIGA
DE AMIGO COITA DE AMOR
Que novas, Senhor, de nós me dais
Que tão apartado e desencontrado
……………………………………de mim andais?
Ah! Em vós está meu pensar
……………Ay e hu é?
Quando descoloridos ao madrugar
meus lábios por vós chamam
meu amigo, meu amor!
Ay e hu é?
Onde morais, Senhor, e
……………..que é de vosso nome?
……………..Ay e hu é?
Moro onde me leva o vento, nas asas
de uma cegonha.
Quem tal viu, Senhor, o vento numa
cegonha?
E o vosso nome, quem o sabe, meu
Senhor de mim?
É sem nome meu nome, inté que o
achareis por fim!
Ay e hu é?
Que novas me dais, Senhor,
Que tão velho é nosso pen (s) ar?
Que novas me dais, Senhora?
Que novas Senhor?
QUE
NOVAS?
QUE NOVAS?
Que novas?
Que novas?
……………Ay ual, flor de verde piño
Ay e hu é? - ai, onde está?
Ay, ual - ai, valei-me
coita - mortificação, pena, mágoa
1986.05.12 Setúbal
Lagos (Praia da Luz) 86.08.20 MCG (desenho), Ramo de flores
Querida C.
Daqui do Parque de Campismo de Valverde, em Lagos, mando te um aceno
de amizade no dia 21 de Agosto, 11º aniversário do nosso casamento, um período
de tempo que, para mim, teve muitos momentos de alegria, de encanto e de
amizade, que não esquecerei, que espero consigamos fazer prevalecer sobre todos
os outros, como grata recordação, já que doutro modo não foi possível.
Tal como esperava o Algarve não tem nada de especial - já fomos de
Faro a Vila do Bispo - e as praias são frias.
Dá por mim beijinhos ao Rui e á Susana. Para ti um abraço amigo e a
amizade do VM
Lagos (Praia da Luz) 86.08.21 MCG Lagos
Olá, C.
Como vais? E os miúdos? Está um dia de calor, que só arrefece á noite.
Escrevi te ontem um postal para receberes hoje, que mandei para o 7º
andar. Parece me que o Algarve se assemelha ao sul do Alentejo (o Manuel
[Salazar]) diz que é a Trás-os-Montes), quer nos campos, quer no estilo de
algumas ruas e casas. Mas, por enquanto, Vila Nova de Mil Fontes ainda vai à
frente nas minhas preferências. O Rui e a Susana como vão? Dá-lhes um beijinho
e para ti um abraço do VM
Lagos (Praia da Luz) 86.08.21 SRN Lagos, Praia da Luz (Algarve)
O rádio aqui em Lagos
transmite música rock. Esta Praia [da Luz] fica a 2 km do Parque de Campismo e
tem muitas vivendas bonitas, a maioria das quais só estão habitadas no Verão. A
água é fria como a da Figueirinha [em Setúbal] e não tem ondas nem sabe a sal
como a de V.Nova de Milfontes. O Parque de Campismo é muito grande e é
divertido ir se lavar a loiça ou a roupa nas instalações colectivas, embora as
pessoas não falem umas com as outras. O Parque tem um supermercado,
cabeleireiro, restaurante,
"boite", piscina, parque infantil (com um carro de bombeiros) e,
imaginem, uma geladaria com sorvetes de 3 qualidades !!! O Pedro [Salazar]
trouxe um computador e passa muito tempo a jogar ou á bola, quando não
"papa" as telenovelas todas. Se vocês tivessem vindo haviam de ter
gostado. Assim ... fica para a próxima.
Têm se divertido muito? E zangado um com o outro?
Por aqui me fico. Dêem cumprimentos meus á vossa avó Conceição e um abraço á Celeste. Para vós muitos beijinhos do VM
`
O rato
da bata
bate
na bota
Faz que rói
mas não dói
na recta
rota
da rota sem
fim
Daí
daí
a raiz da nota
à neta
da chupeta
sem peta
... com o
sapato
na pata
na gata
Um gato
na greta da
gruta
sem fruta
Um galo de
pala
Um pato pató!
Mas que frete!
Em frente bem
sente o que assenta no
assento sem acento
nem tinta nem
tento.
1987.Junho.28 (2) – Setúbal
MORTA
EM MARTE
A Marta
de manta
monta o monte
Bem tonta
sem tento
tenta na tenda
a santa
sem ti
Bem sente a morte
sem sorte
1987.Junho.28 - Setúbal
Hoje
No dia do teu aniversário
Nada tenho para te dar
Está fria
A flor que tu foste
A flor da nossa amizade
De cinzas
O mar coalhado!
Disperso vai o tempo
Em que a noite sorria
Quando te via passar.
1987.07.14
Setúbal
GABINETE DO ATALINHO e VARIAÇÕES
Ora viva!
Diga bom dia
com alegria
e boa tarde
sem alarde
...
Com licença,
com confiança
tenho pressa
de passar
qu’ isto é um
gabinete
e não quero
incomodar
....
Com licença,
com confiança
tenho pressa
de passar
qu’ isto é um
gabinete
e eu quero
trabalhar
...
Com licença,
com licença
tenho pressa
de ficar
qu’ isto é um
gabinete
e eu quero
conversar
1987.Agosto – Setúbal
´
Agarro os restos de mim
Preso por arames
Meto-me na mala
Ponho o pé na estrada
Malabarista do verbo
Bordejando as chamas
Tiro das palavras o sentido que lá não está
Hoje,
De novo á beira do caminho
Ergo novamente os diques
Tapo os interstícios da muralha que rompeste
Baixo lentamente a vizeira
Reponho a máscara
Numa pirueta
Até que o coração pare
ou a serenidade regresse
Setúbal 1987.07
Victor Nogueira
DISTANCIAMENTO
Visto de novo
O hábito de
burel
Breve, muito
breve,
Foi o teu encantamento.
Hoje
o canto está
cerrado
Sem ti
a brisa corre
e
com outro
sabor o sol se põe
enquanto
diligentemente
as obreiras
reconstroem
a máscara de
cera transfigurada
como esfinge
no deserto esboroada.
Sem entusiasmo
calco no fundo
de mim
a revoada da
alegria que tu és!
Setúbal 87.08.05 SNS (humorístico)
Série Mary May, nº 190) - menino com ramo de flores
Está tanto calor que até parecem secas as
flores que te mando por este menino, com um beijinho de parabéns, esperando que
tenhas um bom dia com os teus amigos!
Já foste acampar?
Como vão os teus amores com o Rui: sempre á chapada e ao pontapé?
Tenho cá a prenda
do teu aniversário, da Maria Luísa. Depois ta darei. Se quiserem e puderem vir
passar o sábado comigo, telefonem me. Se eu não estiver na Câmara deixem recado
à Ana Paula ou á Rita. Um abraço á Celeste. Para ti e Rui um beijinho do VM
Aljezur 87.08.18 MEB Porto
Covo
Como vão essa saúde e disposição? Viemos a
Aljezur fazer compras ao mercado. Á tarde vamos para a praia. Ainda não sei
quando regressaremos a Setúbal. Depois digo. Estamos acampados no Parque de
Campismo de Vale da Telha, perto de Aljezur. Abraços para a Lili, pai e para
ti. VM
Setúbal 87.09.01 SRN Setúbal,
Palácio da Comenda
Antão, como vai essa praia? Afinal o tempo
melhorou, salvo o nevoeiro matinal.
Já tenho as
fotografias do campismo. Comecei hoje a trabalhar, mas não há muito para fazer.
Ali na tabacaria não havia postais bonitos; este foi o melhor que encontrei.
Envio vos um postal da avó Mila.
Penso que a
Susana terá levado por engano os meus postais de V.Nova de Milfontes e Odemira.
Se assim for, que mos traga no fim de semana, bem como os recibos do livros
escolares para entregar na Câmara. Saudações á CELESTE e beijinhos para vós. VM
DISTRACÇÃO
Procuro-te
levando-me-te
como quem
nas mãos leva
um sopro de
fragilidade
que tu
em gesto ou
palavra dispersas.
Caindo
na
seriedade
o sorriso
apagado.
1987.Setembro.13 - Setúbal
CONTO DE NATAL
OU DE COMO NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA
Era uma noite escura. O vento uivava entre os vidros partidos; de
quando em vez um relâmpago rasgava o horizonte, iluminando com um tom esquálido
o quarto onde sobressaiam uma tosca mesa, as malgas vazias e quatro
desconjuntadas cadeiras. A um canto, encurralados, cinco ratinhos tremiam, não
se sabendo bem se do frio, se do receio da enorme bota cardada que rapidamente
descia sobre as suas lindas cabecitas, de bigodinhos eriçados.
Subitamente, ouviu-se um tremendo chop e um líquido vermelho
esparramou-se e salpicou de rubro o lívido rosto de duas criancinhas que
desalmadamente choravam a morte dos seus queridos hamsters.
Uma senhora rica e bondosa lhes tinha dado na véspera, quando pelo
amor de Deus e da Virgem sua mãe pediam uma esmolinha, por causa do pai não
receber salário há dez meses!
Soluçando aflitivamente as criancinhas, agarradas à saia da sua mãe,
que era virgem não o sendo balbuciavam:
“Já não temos
ratinhos para a Ceia de Natal”
1987.Outubro.23 (Natal) – Setúbal
[Os jovens da equipa de
inquiridores pediram-me que escrevesse u
conto comovente e fiz-lhes a vontade com as linhas ateriores]
DESENCANTO
Esta avidez no sentir
Esta secura no pensar
Este despojamento no ser
Esta distância no falar
Este permanecer na ombreira da porta
Esta dor, esta mágoa!
1988.Janeiro.04 (2)
- Setúbal
SEM A VENTURA
Tu foste a esperança
em que mergulharam meus dias sequiosos
Esperança feita de pequenos nadas
Um sorriso
Uma palavra amiga
Um gesto de alegria!
Mil pássaros nasceram nos teus lábios!
Mas hoje
hoje
escuto nas tuas mãos
o silêncio dos campos destruídos
enquanto um navio sulca
lento
um deserto de flores esmaecidas!
1988.01.04
Setúbal
1.
Minha
Senhora, de si ... parafraseando a Teresa Horta
nesta resposta a "uma
senhora livre e culta" que daquele jeito se
apresentou nas páginas dominicais do respeitável Diário de
Notícias, que hoje comprei para saber o que ontem se passou por esse
mundo fora.
Olho pela janela nesta tarde soalheira, do alto deste nono andar com
os campos, as casas e os carros minúsculos lá em baixo, e
pergunto-me quem será que deste modo tão lacónico se apresenta,
deste modo hermético ?
Espraio-me ou não na resposta ?! Não começarei por dizer
"Cavalheiro
..." porque não faz parte de mim apresentar-me dum modo com
reminescências ultrapassadas neste tempo das novas tecnologias,
apesar da delicadeza e bons modos ficarem bem a toda a gente.
Assim, direi que estou interessado em conhecê-la. (...) Gosto de
ler, escrever e contar, para além de cinema, música e teatro (como
simples mas crítico consumidor ) Também gosto de conhecer novas
terras, gentes e costumes, embora com peso, conta e medida.
É muito, é pouco o que lhe disse ?! A sua resposta o dirá !
2.
"Mais
uma ... ! " pensará para consigo, perante a
avalanche de cartas diáriamente caídas na caixa do correio, cada
uma delas com seu jeito e feitio.
Uma vez mais aqui em Paço de Arcos, onde venho com frequência,
olho desta feita para o sintético anúncio do Ponto
de Encontro, estendendo-se perante mim a estrada
para Porto Salvo e o campo cada vez mais polvilhado de casas, que se
vão juntando até formarem novos povoados.
Olho pela janela nesta tarde soalheira e tenho algum interesse em
conhecer e saber um pouco mais de quem se apresenta deste jeito
simples e simpático e parece apreciar algo tão fugaz e frágil como
a paz e a felicidade, objectivos perseguidos pela humanidade desde a
bruma dos tempos.
Olho pela janela para o céu azulado e para os campos verdejantes,
reparo que o gravador transmite como sempre música, desta feita o
Paulo de Carvalho em duas canções com poemas que aprecio, como o de
De
voz em voz e Olá,
como vais ? ...
Do meu nome já falei logo ali no princípio, quando escrevi Do
Victor Manuel para Ana Paula, saudações. De mim
posso acrescentar algo mais ao que transparece nas linhas anteriores.
(...) E porque gostei do modo como se apresentou, resolvi esta
visita; se quiser pode escrever-me, quanto mais não seja para dizer
"Olá,
como vais ?".
3.
Nesta azáfama quotidiana as horas vão
somando dias e as semanas meses, até que um dia voltamos a encontrar
o recorte da revista que então nos despertou a atenção.
Aproveita-se um fim-de-semana para tentar pôr algo em dia, talvez
extemporâneamente, como seja responder a uma jovem de 26 anos, que
escreve "a
solidão retira o sentido à vida", apesar de
médica e psicóloga, portanto e aparentemente em profissão ou
actividades onde o interesse e a solidariedade pelo(s) outro(s) são
ou deverão ser uma constante.
Porque escreve desta maneira a Ana Cristina, esperando de outrem,
desconhecido e talvez distante, amizade, inteligência e alguma
cultura ? (...) Quanto à solidão, bem .... quanto à solidão nem
sempre será fonte de sofrimento; ás vezes é necessária, outras
vezes dói mesmo.
Morando e trabalhando em Setúbal, que outrora me encantou mais,
quando jovem estudante em trânsito de Évora para Lisboa, Porto ou
Luanda, procuro no mapa onde fica Estarreja, nome que me não é
estranho. Cá está, mesmo ali ao pé de Aveiro, que só conheço dos
filmes ou de passagem nas minhas idas e vindas, outrora mais
frequentes, entre Lisboa e o Porto.(...)
Paço de Arcos, 1988.MARÇO.06
No silêncio
deste cinzel
baço e crespo
É de pedra o
meu sorriso!
Abro o
pensamento
E dele escapou
o azul cinzento do tempo
Nos meus dedos
secaram as fontes
E as aves
passam de longe
Em busca de
outras marés,
Do cais partem
navios
Lentos como
este pensar
1988.Julho.13 - Setúbal
Beja 88.08.03 SRN Beja,
Ermida de Sto.André
Estou em Beja, na casa da Cultura. Está uma
tarde de verão, apesar do inverno não ter ainda acabado. Ontem à noite andei a
passear pelas ruas da cidade, que me pareceu mais bonita na parte velha,
fazendo me lembrar Faro. Logo à noite vamos jantar a uma cooperativa em Pias.
Encontrei a vossa
prima Milinha que vos manda beijinhos, bem como o vosso primo João Manuel e o
tio Janica, que estavam a arrumar o talho.
Esta Ermida [de
Santo André] não é tão bonita como a de S.Brás, em Évora, mas é mais um postal para a colecção da
Susana. Beijinhos do VM