terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

epistolário 010 . ao (es)correr da pena e do (in)temporal 03


1073 - Desenho de Camilo Monteiro


* Victor Nogueira
 

      Sedento nas tuas mãos esguias e belas

       aqui

       na estrada da vida

       à beira do caminho

       de pé   nesta tarde de verão

       louco pássaro

                            de asas partidas

       busco a carícia do sorriso

                 o quente murmúrio da voz

                 o frémito das nossas mãos

                 o suave perfume do corpo apetecido

                 turbilhão incandescente sufocante

                 rio   mar profundo

       sigo    com os dedos  e os lábios o teu contorno

       aqui    os olhos   a boca   o lóbulo das orelhas

                 o andar decidido

                 os seios pequenos e firmes

       além    a ondulante seara

                   a curva suave

                  o moreno vale

       fresco límpido agridoce refrigério

 

 

 

1985.Julho.28 - Setúbal

 

 

 

 

CAMINHANTE CAMINHANDO SE FAZ O CAMINHO   (1)

 

 

Em que lugar e tempo sossegarei

A que porto chegarei

Em que ombro descansarei

Este imaginar sonhando

Este buscar sem fim buscando

Este querer não querendo

                                        Este estar não estando

Este chegar partindo

O caminho que seguirei !?

 

 

1986.Maio.03 Setúbal

 

 
**************************
 

(...) No dia dos meus recebi quatro postais, cada um no seu género, que muito apreciei - o da Maria do Mar, o da Noémia, o da minha mãe e um colectivo, do pessoal do Departamento de Pessoal, este acompanhado dum cachecol.

Gostei muito deste último postal, que tinha um poema, votos de feliz aniversário e beijos, seguidos de doze assinaturas. O poema, intitulado Livres, dizia:

Somos livres perante o Sol do dia.

E livres perante as estrelas

da noite:

E somos ainda livres quando não há sol

nem luar nem estrelas.

Somos ainda livres quando fechamos

nossos olhos a tudo quanto existe.

Mas somos escravos do que amamos:

Porque amamos:

E escravos do amor porque

amamos.

 

Este "meu" pessoal é muito "romântico": o ano passado ofereceram-me um LP com tangos do Carlos Gardel, quatro álbuns de banda desenhada e um coração recortado com votos de parabéns e as assinaturas de todos eles e elas.

Mas este ano, como já não estou no Departamento de Pessoal e me mandaram as "prendas" pelo correio interno, retribuí do mesmo modo, inventando um "cartão" á hora do almoço.

No fim destas "férias" todas ainda consegui que me sobrassem dois dias para gozar no primeiro trimestre deste ano.

Vou ainda ler dois álbuns de BD do Lucky Luke: um deles é A Noiva de Lucky Luke, em cujas histórias não aparecem normalmente mulheres, pois ele é um cowboy solitário, muito longe de casa. Houve três excepções: Calamity Jane (vaqueira, pistoleira e prostituta) e Sarah Bernardt (actriz), ambas com existência real. Mas neste A Noiva de Lucky Luke o autor é de um reacionarismo atroz, apresentando as mulheres como frívolas, sem cabeça, e uma "manada" conduzida pelo herói, atravessando os Estados Unidos à procura de marido, facto que é real. (...)

Vi na TV dois filmes de que gostei: Nova Geração (American Grafitti), enternecedor, sobre os amores dos adolescentes, e O Lugar do Morto, estilo policial e passado em Lisboa.

Setúbal, 1987.01.08
 
Ao Pessoal do Departamento de Pessoal
(Delmira, Lurdes, Vitalina, Gina, Rosa, Alice, Carlos, Estrela, Ricardo, Beatriz, Dina, Teresa)

Fiquei "encantado" com a vossa lembrança e como amor com amor se paga, hesitei entre um poema do Manuel Alegre e um escrito meu. Na dúvida, retribuo com os dois e um desenho que com o Camilo concorremos para o cartaz das Festas dos Finalistas em 1973. Ganhámos o concurso mas a CENSURA não deixou passar o cartaz.

Retribuo os beijos com um abraço e a amizade

do VM

Setúbal, 87.01.06


Amor

espelho de muitas leituras

encanto descoberta

aventura de ser

amigo............. pássaro lançado no vento

........................rio tumultuoso

.............................violento

........................inebriante

............................flor

.......................uma rosa verde papoila

.......................um bosque

nas encostas do mar sem fim

um canto de alegria

................canto
................delicado
................suave
................leve
................suspenso
................de ti

[1985.Julho.23 - Setúbal]
 
 
LETRA PARA UM HINO
 
«Porque mudando-se a vida
se mudam os gestos dela»
Camões (Babel e Sião)
 
 
É possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não.

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.



                                  Manuel Alegre, hoje dirigente nacional do PS
 (








 

É TEMPO DE CHORAR

 

É tempo de chorar

silenciosamente

os nossos mortos

 

irmãos encerrados

encurralados

 

É tempo de chorar

enquanto

para lá desta hora

a vida se renova

por entre

os bosques e

os regatos

sussurantes

do imaginar o son (h) o estilhaçado

É tempo de chorar o tempo que voa!

 

 

(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luis, morto de morte matada

por ele próprio e por muitos outros no tempo

que para ele terminou naquela tarde de

26 de Fevereiro de 1987 ............................. )

 

 

 

CANTIGA DE AMIGO COITA DE AMOR

 

 

Que novas, Senhor, de nós me dais

Que tão apartado e desencontrado

……………………………………de mim andais?

Ah! Em vós está meu pensar

……………Ay e hu é?

Quando descoloridos ao madrugar

meus lábios por vós chamam

meu amigo, meu amor!

Ay e hu é?

Onde morais, Senhor, e

……………..que é de vosso nome?

……………..Ay e hu é?

Moro onde me leva o vento, nas asas de uma cegonha.

Quem tal viu, Senhor, o vento numa cegonha?

E o vosso nome, quem o sabe, meu Senhor de mim?

É sem nome meu nome, inté que o achareis por fim!

Ay e hu é?

Que novas me dais,     Senhor,

Que tão velho é nosso pen (s) ar?

Que novas me dais, Senhora?

Que novas               Senhor?

QUE NOVAS?

QUE NOVAS?

Que novas?

Que novas?

……………Ay ual, flor de verde piño

 

 

Ay e hu é? - ai, onde está?

Ay, ual - ai, valei-me

coita - mortificação, pena, mágoa

 

1986.05.12   Setúbal

 

 

 

             

            Lagos (Praia da Luz)  86.08.20          MCG   (desenho), Ramo de flores

            Querida C.

 

Daqui do Parque de Campismo de Valverde, em Lagos, mando te um aceno de amizade no dia 21 de Agosto, 11º aniversário do nosso casamento, um período de tempo que, para mim, teve muitos momentos de alegria, de encanto e de amizade, que não esquecerei, que espero consigamos fazer prevalecer sobre todos os outros, como grata recordação, já que doutro modo não foi possível.

Tal como esperava o Algarve não tem nada de especial - já fomos de Faro a Vila do Bispo - e as praias são frias.

Dá por mim beijinhos ao Rui e á Susana. Para ti um abraço amigo e a amizade do  VM

 

            Lagos (Praia da Luz)  86.08.21          MCG   Lagos

            Olá, C.

Como vais? E os miúdos? Está um dia de calor, que só arrefece á noite.

Escrevi te ontem um postal para receberes hoje, que mandei para o 7º andar. Parece me que o Algarve se assemelha ao sul do Alentejo (o Manuel [Salazar]) diz que é a Trás-os-Montes), quer nos campos, quer no estilo de algumas ruas e casas. Mas, por enquanto, Vila Nova de Mil Fontes ainda vai à frente nas minhas preferências. O Rui e a Susana como vão? Dá-lhes um beijinho e para ti um abraço do  VM

 

            Lagos (Praia da Luz)  86.08.21          SRN    Lagos, Praia da Luz (Algarve)

            O rádio aqui em Lagos transmite música rock. Esta Praia [da Luz] fica a 2 km do Parque de Campismo e tem muitas vivendas bonitas, a maioria das quais só estão habitadas no Verão. A água é fria como a da Figueirinha [em Setúbal] e não tem ondas nem sabe a sal como a de V.Nova de Milfontes. O Parque de Campismo é muito grande e é divertido ir se lavar a loiça ou a roupa nas instalações colectivas, embora as pessoas não falem umas com as outras. O Parque tem um supermercado, cabeleireiro,  restaurante, "boite", piscina, parque infantil (com um carro de bombeiros) e, imaginem, uma geladaria com sorvetes de 3 qualidades !!! O Pedro [Salazar] trouxe um computador e passa muito tempo a jogar ou á bola, quando não "papa" as telenovelas todas. Se vocês tivessem vindo haviam de ter gostado. Assim ... fica para a próxima.

Têm se divertido muito? E zangado um com o outro?

Por aqui me fico. Dêem cumprimentos meus á vossa avó Conceição e um abraço á Celeste. Para vós muitos beijinhos do VM

`

 

O rato

da bata

bate

na bota

Faz que rói

mas não dói

na recta

rota

da rota sem fim

Daí

daí

a raiz da nota

à neta

da chupeta

sem peta

... com o sapato

na pata

na gata

Um gato

na greta da gruta

sem fruta

Um galo de pala

Um pato pató!

Mas que frete!

Em frente bem sente o que assenta no

assento sem acento

nem tinta nem tento.

 

1987.Junho.28 (2) – Setúbal

 

 

MORTA EM MARTE

 

A Marta

de manta

monta o monte

Bem tonta

sem tento

tenta na tenda

a santa

sem ti

Bem sente a morte

sem sorte

1987.Junho.28 - Setúbal

 

 

Hoje

No dia do teu aniversário

Nada tenho para te dar

Está fria

A flor que tu foste

A flor da nossa amizade

De cinzas

O mar coalhado!

Disperso vai o tempo

Em que a noite sorria

Quando te via passar.

 

 

 

1987.07.14

Setúbal

 

 

GABINETE DO ATALINHO e VARIAÇÕES

 

Ora viva!

Diga bom dia

com alegria

e boa tarde

sem alarde

...

 

Com licença, com confiança

tenho pressa de passar

qu’ isto é um gabinete

e não quero incomodar

....

 

Com licença, com confiança

tenho pressa de passar

qu’ isto é um gabinete

e eu quero trabalhar

...

 

Com licença, com licença

tenho pressa de ficar

qu’ isto é um gabinete

e eu quero conversar

 

1987.Agosto – Setúbal

´

 

Agarro os restos de mim

Preso por arames

Meto-me na mala

Ponho o pé na estrada

Malabarista do verbo

Bordejando as chamas

Tiro das palavras o sentido que lá não está

Hoje,

De novo á beira do caminho

Ergo novamente os diques

Tapo os interstícios da muralha que rompeste

Baixo lentamente a vizeira              

Reponho a máscara

Numa pirueta

Até que o coração pare

ou a serenidade regresse

 

 

Setúbal 1987.07

Victor Nogueira

 

 

DISTANCIAMENTO

 

Visto de novo

O hábito de burel

Breve, muito breve,

Foi o teu encantamento.

Hoje

o canto está cerrado

Sem ti

a brisa corre e

com outro sabor o sol se põe

enquanto

diligentemente

as obreiras reconstroem

a máscara de cera transfigurada

como esfinge no deserto esboroada.

Sem entusiasmo

calco no fundo de mim

a revoada da alegria que tu és!

 

  Setúbal            87.08.05          SNS    (humorístico) Série Mary May, nº 190) - menino com ramo de flores

  Está tanto calor que até parecem secas as flores que te mando por este menino, com um beijinho de parabéns, esperando que tenhas um bom dia com os teus amigos!
Já foste acampar? Como vão os teus amores com o Rui: sempre á chapada e ao pontapé?
Tenho cá a prenda do teu aniversário, da Maria Luísa. Depois ta darei. Se quiserem e puderem vir passar o sábado comigo, telefonem me. Se eu não estiver na Câmara deixem recado à Ana Paula ou á Rita. Um abraço á Celeste. Para ti e Rui um beijinho do VM

 

  Aljezur            87.08.18          MEB   Porto Covo

  Como vão essa saúde e disposição? Viemos a Aljezur fazer compras ao mercado. Á tarde vamos para a praia. Ainda não sei quando regressaremos a Setúbal. Depois digo. Estamos acampados no Parque de Campismo de Vale da Telha, perto de Aljezur. Abraços para a Lili, pai e para ti.  VM

 

  Setúbal            87.09.01          SRN    Setúbal, Palácio da Comenda

  Antão, como vai essa praia? Afinal o tempo melhorou, salvo o nevoeiro matinal.

Já tenho as fotografias do campismo. Comecei hoje a trabalhar, mas não há muito para fazer. Ali na tabacaria não havia postais bonitos; este foi o melhor que encontrei. Envio vos um postal da avó Mila.

Penso que a Susana terá levado por engano os meus postais de V.Nova de Milfontes e Odemira. Se assim for, que mos traga no fim de semana, bem como os recibos do livros escolares para entregar na Câmara. Saudações á CELESTE e beijinhos para vós. VM

 

 

 

DISTRACÇÃO

 

Procuro-te

levando-me-te

como quem nas mãos leva

um sopro de fragilidade

que tu

em gesto ou palavra dispersas.

Caindo

na seriedade

o sorriso

apagado.

 

1987.Setembro.13 - Setúbal

 

 

CONTO DE NATAL

OU DE COMO NO MELHOR PANO CAI A NÓDOA

Era uma noite escura. O vento uivava entre os vidros partidos; de quando em vez um relâmpago rasgava o horizonte, iluminando com um tom esquálido o quarto onde sobressaiam uma tosca mesa, as malgas vazias e quatro desconjuntadas cadeiras. A um canto, encurralados, cinco ratinhos tremiam, não se sabendo bem se do frio, se do receio da enorme bota cardada que rapidamente descia sobre as suas lindas cabecitas, de bigodinhos eriçados.

Subitamente, ouviu-se um tremendo chop e um líquido vermelho esparramou-se e salpicou de rubro o lívido rosto de duas criancinhas que desalmadamente choravam a morte dos seus queridos hamsters.

Uma senhora rica e bondosa lhes tinha dado na véspera, quando pelo amor de Deus e da Virgem sua mãe pediam uma esmolinha, por causa do pai não receber salário há dez meses!

Soluçando aflitivamente as criancinhas, agarradas à saia da sua mãe, que era virgem não o sendo balbuciavam:

“Já não temos ratinhos para a Ceia de Natal”

1987.Outubro.23 (Natal) – Setúbal

[Os jovens da equipa de inquiridores pediram-me que escrevesse  u conto comovente e fiz-lhes a vontade com as linhas ateriores]

 

 DESENCANTO

 

Esta avidez no sentir

Esta secura no pensar

Este despojamento no ser

Esta distância no falar

 

Este permanecer na ombreira da porta

Esta dor, esta mágoa!

 

1988.Janeiro.04 (2)  -  Setúbal

 

 

SEM A VENTURA

 

Tu foste a esperança

em que mergulharam meus dias sequiosos

Esperança feita de pequenos nadas

Um sorriso

Uma palavra amiga

Um gesto de alegria!

 

Mil pássaros nasceram nos teus lábios!

 

Mas hoje

hoje

escuto nas tuas mãos

o silêncio dos campos destruídos

enquanto um navio sulca

lento

um deserto de flores esmaecidas!

 

1988.01.04

Setúbal

 


1. Minha Senhora, de si ... parafraseando a Teresa Horta nesta resposta a "uma senhora livre e culta" que daquele jeito se apresentou nas páginas dominicais do respeitável Diário de Notícias, que hoje comprei para saber o que ontem se passou por esse mundo fora.

Olho pela janela nesta tarde soalheira, do alto deste nono andar com os campos, as casas e os carros minúsculos lá em baixo, e pergunto-me quem será que deste modo tão lacónico se apresenta, deste modo hermético ?

Espraio-me ou não na resposta ?! Não começarei por dizer "Cavalheiro ..." porque não faz parte de mim apresentar-me dum modo com reminescências ultrapassadas neste tempo das novas tecnologias, apesar da delicadeza e bons modos ficarem bem a toda a gente.

Assim, direi que estou interessado em conhecê-la. (...) Gosto de ler, escrever e contar, para além de cinema, música e teatro (como simples mas crítico consumidor ) Também gosto de conhecer novas terras, gentes e costumes, embora com peso, conta e medida.

É muito, é pouco o que lhe disse ?! A sua resposta o dirá !

2. "Mais uma ... ! " pensará para consigo, perante a avalanche de cartas diáriamente caídas na caixa do correio, cada uma delas com seu jeito e feitio.

Uma vez mais aqui em Paço de Arcos, onde venho com frequência, olho desta feita para o sintético anúncio do Ponto de Encontro, estendendo-se perante mim a estrada para Porto Salvo e o campo cada vez mais polvilhado de casas, que se vão juntando até formarem novos povoados.

Olho pela janela nesta tarde soalheira e tenho algum interesse em conhecer e saber um pouco mais de quem se apresenta deste jeito simples e simpático e parece apreciar algo tão fugaz e frágil como a paz e a felicidade, objectivos perseguidos pela humanidade desde a bruma dos tempos.

Olho pela janela para o céu azulado e para os campos verdejantes, reparo que o gravador transmite como sempre música, desta feita o Paulo de Carvalho em duas canções com poemas que aprecio, como o de De voz em voz e Olá, como vais ? ...

Do meu nome já falei logo ali no princípio, quando escrevi Do Victor Manuel para Ana Paula, saudações. De mim posso acrescentar algo mais ao que transparece nas linhas anteriores. (...) E porque gostei do modo como se apresentou, resolvi esta visita; se quiser pode escrever-me, quanto mais não seja para dizer "Olá, como vais ?".

3. Nesta azáfama quotidiana as horas vão somando dias e as semanas meses, até que um dia voltamos a encontrar o recorte da revista que então nos despertou a atenção. Aproveita-se um fim-de-semana para tentar pôr algo em dia, talvez extemporâneamente, como seja responder a uma jovem de 26 anos, que escreve "a solidão retira o sentido à vida", apesar de médica e psicóloga, portanto e aparentemente em profissão ou actividades onde o interesse e a solidariedade pelo(s) outro(s) são ou deverão ser uma constante.

Porque escreve desta maneira a Ana Cristina, esperando de outrem, desconhecido e talvez distante, amizade, inteligência e alguma cultura ? (...) Quanto à solidão, bem .... quanto à solidão nem sempre será fonte de sofrimento; ás vezes é necessária, outras vezes dói mesmo.

Morando e trabalhando em Setúbal, que outrora me encantou mais, quando jovem estudante em trânsito de Évora para Lisboa, Porto ou Luanda, procuro no mapa onde fica Estarreja, nome que me não é estranho. Cá está, mesmo ali ao pé de Aveiro, que só conheço dos filmes ou de passagem nas minhas idas e vindas, outrora mais frequentes, entre Lisboa e o Porto.(...)

Paço de Arcos, 1988.MARÇO.06

*********************** 

No silêncio

deste cinzel baço e crespo

É de pedra o meu sorriso!

Abro o pensamento

E dele escapou o azul cinzento do tempo

Nos meus dedos secaram as fontes

E as aves passam de longe

Em busca de outras marés,

Do cais partem navios

Lentos como este pensar

 

1988.Julho.13 - Setúbal

 

 

  Beja     88.08.03          SRN    Beja, Ermida de Sto.André

  Estou em Beja, na casa da Cultura. Está uma tarde de verão, apesar do inverno não ter ainda acabado. Ontem à noite andei a passear pelas ruas da cidade, que me pareceu mais bonita na parte velha, fazendo me lembrar Faro. Logo à noite vamos jantar a uma cooperativa em Pias.

Encontrei a vossa prima Milinha que vos manda beijinhos, bem como o vosso primo João Manuel e o tio Janica, que estavam a arrumar o talho.

Esta Ermida [de Santo André] não é tão bonita como a de S.Brás, em Évora,  mas é mais um postal para a colecção da Susana. Beijinhos do VM 





Van Gogh - a sesta

Van Gogh, - Par de sapatos - 1886

Sem comentários:

Enviar um comentário

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)