Rimances do Kant_O_XimPi (1)
6 de Novembro de 2010 às 0:02
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.* Victor Nogueira
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RIMANCE DE JOAO BAPTTSTA
Andando João Baptista
Mal descansado da guerra
Caminhava pela pista
Do mar ao cume da serra,
Bem ao longe avistou
Um Paço no horizonte;
Pela ponte atravessou
Chegando ao cimo do monte.
Viu uma bela Princesa
Que na fonte se banhava,
Por ela ficando acesa
A flama que incendiava,
- Que fazeis aqui senhora
Dona da pele morena?
A noite será cantora
Se vossa mão for serena.
- Por alguém vim em caminho
Com muitas naus voando
Mas não ficarei sozinho
Se convosco for ficando.
Ouçam qual foi a resposta
Calmosa, doce, brilhante,
Sem temor de lua posta,
Precioso diamante.
- Num crescendo de calor
Nesta fonte mergulhada
Por vós espero, senhor
Não me deixeis assombrada.
- Belo é vosso cavalgar
Vosso desejo um espanto
Vinde comigo arrulhar
Alegre, mas sem quebranto.
E com esta fala doce
Se prendeu o cavaleiro
Contente como se fosse
Um artista, jardineiro.
- Andando me fui chegando
Para convosco encantar
E ao ver-vos nesse encanto
Passo a descansar.
- Pois vosso olhar é botão
Em busca do sol e do mar;
Sereís bela sem senão
Vinde comigo bailar.
- E convosco bailo a noite
Dedilhando esta guitarra
Não há quem não se afoite
Vendo a fruta sem a parra.
Da fala ficou suspenso
Um punhal no coração
Com olhar lembrando imenso
0 vale da solidão,
Veio o gesto finalmente
Negro de rosa dourado
Rosmaninho com semente
Em seu rosto acobreado,
Cem mil águias voaram
Mais, seguidas dum faisão
E com leveza abalaram
Silentes que nem trovão.
- Convosco não bailo eu
Bem gosto da liberdade,
Ide-vos embora, oh! meu,
Sou presa da soledade.
Com esta fala malina
A pensar ficou João.
Era uma fala felina
D'ensombrar o coração,
Dez mil pássaros em viagem
Sem nada no horizonte,
Fechada aquela portagem
Como arvore sem ponte,
- Sinhá moça, a vida é jogo
Sabemos nós muito bem;
Ele há fumo sem fogo
Sempre que tal nos convém.
Como era belo seu sorriso
D'encantar o navegar!
À Princesa achou preciso
Ver de novo seu falar.
- Como tu desejas ficam
Estrelas no meu olhar:
Doçuras, beijos que picam,
A brisa e o marulhar,
Com esta fala ficou
A Infanta Gabriela,
Um pintarroxo voou
P’ra lá do castelo dela.
1991.06.19 (2)
SETUBAL
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RIMANCE DO CONDE NIÑO
Ia o Visconde Niño
Pelo caminho real
Com andar bem pequenino
Por causa do areal.
Cavalgava noite e dia
Por rio, vale e montes,
Quando o sol refulgia
Bebia água das fontes.
Um falcão no ar voava
Em busca do céu d'anil
Com o seu olhar buscava
Mui para lá do redil.
Numa curva do caminho
Oh! céus, cantando estava
Só, num ermo sózinho,
Quem pelo Niño chamava.
Era uma fada princesa
Com um manto de jasmim
Envolto em muita sageza
Num campo de alecrim.
Com pós de perlimpimpim
Seus cabelos penteava
Enquanto um bom lagostim
No fogaréu se cozinhava.
Bom, soberbo, valioso,
Cálido refrigerante,
Um apelo precioso,
Raro, belo, cativante.
Parou Niño, o Visconde,
Em pose primaveril;
Ao chamamento respondeu
Mui garboso, senhoril.
Com um gesto desenvolto
Tirou, de breu, o capuz,
Com o cabelo revolto
Guardou o arcabuz.
O cavalo à rédea solta
Ali ficou a pastar,
Sua verde crina envolta
Na doce brisa do ar.
A viseira levantada,
Pé em terra, sem temor,
Ao coração descansado
Cantou pacificador:
"Sinhá moça, és tão linda!
Com teu corpo donairoso
Comigo vem na berlinda
Mais teu mosto precioso;
Ao ver-vos sinto o luar
Aquecer-me sem ardor."
Disse o Conde sem pasmar,
armado em versejador.
"De vós não quero eu ser
Prisioneira, cativa,
Ide-vos, ensandecer
Qualquer outra nativa."
"Eu não vos quero guardar
Como o vento vós sois livre,
Assim ide cavalgar
Que não sóis do meu calibre!"
De negro ficou o céu,
De branco, o Visconde Niño,
Na montanha um escarcéu
Mui descontente o malino!
"Chorai, gaivotas, chorai,
Por dona tão altiva,
Na tempestade vogai
A nau presa, fugitiva."
No seu cavalo real
O herói vai abalar.
O canto acaba mal
Se o Conde não ficar?!
1991.Maio.23/28 - Setúbal
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RIMANCE de D.LUCIANO ROBERTO RODRIGO
D. Luciano é marinheiro
Navegando em alto mar;
É bem malino artilheiro
Sem terra onde aportar,
D.Roberto é pregoeiro
Caminhando pela terra dentro
Com bom fato sem dinheiro
Guardando novas do vento.
D.Rodrigo é narrador
De quadras ou verso branco,
Nas feições levando ardor
De ser como saltimbanco.
Luciano Roberto Rodrigo
Não é herói de novela;
Ide ouvir bem o que digo
Acerca de MarPorTela.
Mulher moça era aguardada
Com vera interrogação:
Seria colega apartada
No tempo da dispersão?
Finalmente a moça veio,
Trigueira como mil sóis,
Era pão, vinho e centeio
Num campo de gira-sóis.
Era outra MarPorTela,
Nunca vista e maneirinha,
Com ar doce, mui singela,
Cravo, rosa, porreirinha,
Era triste seu sorriso;
No seu magoado olhar
Sembrava ter muito siso!
Como iria navegar?!
Sendo mulher pensativa
Com seu ar muito sério
Parecia fugitiva
Com receio do despautério.
Tudo queria muito recto,
Direitinho, com acerto;
Sem mil voltas, mas directo,
P'ra matar o desconcerto.
Era sinhã moça bela,
Moça bela, d'encantar,
Raro se via à janela,
Palavrosa ou a veranear
Ao virar-se para D.Roberto
Seu sorriso era canção;
Papoila em céu aberto
Medrava por ele, não!
Mulher de maravilhar
Andando, mas sempre sózinha;
Ele com ela quis bailar
Liberto como andorinha.
- 01á, doce MarPorTela,
Como vais, bem ou mal?
Sem vagar vem à janela,
Vem bailar no arraial.
Mas a falar só ficava,
Nas mãos rolando o chapéu,
0 mote não encontrava:
Distante ficava o céu!
Pois na mansão dele entrava
Sem lhe lançar saudação;
Era andor que mal ficava
No meio da encenação.
P'ra Princesa tão galante
Mal era tal pedestal;
Parecia bem distante
Do povo, do maralhal.
Luciano Roberto Rodrigo
Tinha dela outra feição,
Bem ele quis ser amigo:
Não achou embarcação.
Se toda a vida é jogo
Biscando boa ou má vaza,
É preciso haver bom fogo
Para não ficar sem asa.
Pois a moça era gentil
Valerosa, bem sonante,
Não seria qualquer ceitil
Falso, de passar avante.
- Viva D. MarPorTela
Que fabricas, que me dizes?
Menina, deix'a sentinela
Não te cuides com juizes!
Luciano Roberto Rodrigo
Por si buscava El Dorado,
Cantando-lhe "Vem comigo,
Com andor bem torneado."
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... ... ... ... ... ...
Bem tocava o clarim!
Luciano em mau concerto,
Roberto perlimpimpim,
Rodrigo sem epicentro.
Palavras, tudo ilusões
De quem castelos no ar
Faz, em tarde com sezões,
Com sorriso a dar-a-dar.
Quem vir nisto semelhança
Com personagem real
Tire d'aí lembrança
Pois adivinha bem mal.
Nem tudo o que luz é d'ouro
Em verde campo florido:
Fica, porem sem estouro,
Rimanso, descolorido
1991.07.09/11
Paco de Arcos/Setúbal
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Rimance no deserto desertificado
Sete anos andou João
Vagueando p'lo deserto
Sem vinho, água ou pão,
Indo por destino incerto.
A mingua d'água mirrava
Sem o frescor duma fonte
Em fome se esgotava
Sequioso duma ponte.
Em tiras estava o fato
Sem veludo que se visse!
Descalço o pé, sem sapato,
A vida era uma sandice.
Fizera grande viagem
Com o coração cinzento
Sem escudeiro nem pagem
Ou pedra que fosse assento.
Pela areia caminhava
Joelho aqui, pé além.
Na jornada trauteava
Sem saber o que lá vem!
Seu coração era grande
Para quem lá coubesse
Cantando mui radiante
Como se mal não houvesse,
Seu cavalo não era novo
Cansado da caminhada
De Luanda a Porto Covo
Por terra já navegada,
Que buscava não dizia
Calado com seu segredo
Por ver que não merecia
Ser mal preso, em degredo.
Seu caderno era escrito
Com tinteiro invisível,
Silencioso, sem grito,
Em novela incredível.
Então que é feito bela
Deste rimance heroina,
Personagem da novela,
Tão certa como haver sina?
Assim perguntava arraia
Miúda como convém,
Atenta ao rolar da saia
Que na cintura mantém.
Bem pesado é o fado
De quem quer algo inovar
Logo está ameaçado
De não poder inventar!
Não há princesa no conto
Assim quero, pois então!
Por isso aqui aponto
0 que tenho na razão.
Bem podeis vociferar
0 cavaleiro vai sozinho
Não tem quem acompanhar
Indo só pelo caminho.
"Sete anos serviu Labão ..."
Assim Camões escreveu
Mas não tem dona João
Por nenhuma ensandeceu.
Esta vida é um novelo
Numa roca a girar
Sem forma nem modelo
Nunca para de rodar.
Aqui nesta lazeira
Em remanso vai surgindo
Uma grande cantareira
Verso a verso subindo.
Deixemos o cavaleiro
Seguindo a sua jornada,
A caneta no tinteiro:
Até 'manhã, camarada!
1991.06.20
SETUBAL
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)