domingo, 18 de agosto de 2013

discursos que ficaram na história da Humanidade - 03

 

18 de Agosto de 2013 às 21:54
* Victor Nogueira

Foi Charles Chaplin um humanista,  pacifista e crítico  do capitalismo, sempre em luta contra a autoridade/autoritarismo e a prepotência. O seu filme O Grande Ditador (1940), denúncia do nazi-fascismo, forçou o seu autor a depor perante o Senado e o FBI a vigiá-lo e persegui-lo, isto no país que se arroga de ser a Pátria da Liberdade e da Democracia, por ele denunciados em Tempos Modernos (1936) e em Monsieur Verdoux (1947).

No final de O Grande Ditador Chaplin pronuncia o seguinte discurso:

"Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.
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O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.
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A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.
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Soldados! Não vos entregueis a esses brutos... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!
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Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.
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É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

segue o estrondoso aplauso da multidão ). Então, dirige-se a Hannah :

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!."

Mas essas liberdades foram sol de pouca dura pois, terminada a guerra, foi quase  de imediato, tal como muitos cineastas, escritores, cientistas e homens da cultura, perseguido e forçado ao exílio para não ficar na Lista Negra, proibido de trabalhar, em consequência das persegições e do clima de caça às bruxas,  isto é, de quem fosse suspeito ou denunciado como membro  ou simpatizante do Partido Comunista dos EUA ou defensor do socialismo.  Com efeito duurante a era de macarthismo, Chaplin foi acusado de "atividades anti-americanas" como um suposto comunista, e estreitamente vigiado pelo FBI, dirigido por esse tenebroso personagem que foi J. Edgar Hoover.

No link a seguir poderás ouvir o discurso de Chaplin atrás transcrito


ou ver o filme em






  • Maria Lisete Almeida Grata Amigo pela partilha!
  • Judite Faquinha Obrigada Victor, eu vi este filme foi espetacular, o seu discurso saiu-lhe do coração eu adorei... aquela revolta tão recalcada que sai com um sentimento á muito contida, transmitindo aos soldados duma maneira tão bela qual era o papel e o caminho que deviam seguir na defesa do povo e contra ao CAPITALISMO REPRESSOR. O CHARLES CHAPLIN!!! BJS
  • Margarida Pino /A tua ideia foi uma surpresa muito agradável. Uma boa surpresa. Obrigada
    19/8 às 1:45 através de telemóvel · Não gosto · 1
  • Erzsébet Judit Bobály 
    Classic scene from the movie Cabaret, censored for many years, in wich a Boy sings the song "Tomorrow belongs to me", in a party, and at the end, all the cro...
  • José Pires Obrigado AMIGO e HOMEM Victor
  • António Barrenho obrigado pela partilha ! 
  • Luisa Neves  - Obrigada pela partilha. 

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)