sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Gostei bué da tua carta

Gostei bué da tua carta mas agora é como se a tivese ido buscar ao apartado 65, em évora, ou ao do terreiro do paço, em lisboa, dirigindo-me para o arcada ou para o nicola ou para a pastelaria no camões - onde ficava a farmácia de que a minha tia-avó era directora técnica, aquela pastelaria com a empregada que tinha uma covinha no queixo. As ventoinhas de pás imensas giram lentamente, fingindo espantar este calor abafado e opressivo, tal como a porta giratória. Tudo é fumarada, quase smog, e o barulho da máquiuna de café ou o tilintar das louças no balcão ou a serem poisadas nas mesas é uma sinfonia pouco melodiosa. Já vim ali da tabacaria onde a menina me vendeu o papel e o envelope, a Pelikan yem tinta preta para muitas folhas (hoje a Parker ou a Mont Blanc ficaram no quarto)
Se for no arcada a resposta no meio do barulho e da fumarada terá de ser escrita nos intervalos dos dedos de conversa na mesa do grupo do arcada ou interpelações de quem passa. Mesmo que me sente sózinho breve estarei rodeado de colegas. Já tenho os selos e mais logo, antes das 21:30, porei esta no marco do correio para que a recebas amanhã. Ainda não sei se pertence ao domínio da ficção científica, nestes anos 70, as pessoas poderem comunicar instantâneamente e, se alguma vez tal suceder, se se perderá a magia !
Isto é o que penso, mas a não ser que te telefone, (mas as chamadas são caras mesmo para quem é relativamente abnado como somos os "estrangeiros" do grupo do Arcada) só amanhã saberás os meus pensamentos. Até lá terei de contentar-me com os sonhos que sonho em ti. Tal como tu.
Enquanto sonho, todo eu sou uma ave em ti, ave alvoraçada mas estrangulada nas tuas mãos, nas quais procuro a nossa liberdade

VM

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)