quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A morte das livrarias e dos livreiros


* Victor Nogueira


Vão fechando as livrarias, vão morrendo os livreiros. Cada vez mais substituídas pelas grandes superfícies comerciais, do livro vendido a peso ou pelo apelativo das capas. Ou pelos gigantes que fazem do livro uma mercadoria sujeita cada vez mais ao princípio intocável do lucro garantido aos "investidores". Que não são nem os escritores nem os leitores, cada vez mais vistos e considerados uma massa anónima, uma massa massificada.


Vão fechando as livrarias, vão morrendo os livreiros, vão minguando os espaços de tertúlia. Quando vim trabalhar para Setúbal em 1977 - como docente na antiga Escola Industrial e Comercial - as livrarias ainda eram espaços de tertúlia e de cultura - sobretudo a Antecipação, do falecido senhor Graça, ou a Culsete, do Medeiros e da Fátima.

Fecharam a Caminho, os Armazéns do Sado, a Antecipação. e uma outra cujo nome me não ocorre, junto à Livraria Hemus, que no início também era tertúlica. Restam pequenas livrarias - como a ainda tertúlica Uni-Verso do Raposo.

Vão fechando as livrarias, vão morrendo os livreiros e a cidade e todos nós ficamos cada vez mais pobres. Morreu o Medeiros da Livraria Culsete, figura característica com o seu ar british e o seu chapéu à tirolês e que se distinguia pelo seu saber, pela sua delicadeza e urbanidade, pela sua "resistência", pelo seu trato afável. Depois do Graça, expansivo, de sorriso aberto e caloroso, partiu o Medeiros.

E nós e a cidade ficámos mais pobres com a sua ausência, com a ausência de pessoas que amando e conhecendo os livros e as pessoas, eram muitíssimo mais que simples comerciantes!


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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)