domingo, 25 de maio de 2014

poesia de alberto caeiro


25 de Maio de 2014 às 15:33
* Victor Nogueira

Não tenho  na vida a simplicidade de caeiro nem a minha filosofia é a dele. Na minha juventude - homem da cidade e da beira-mar que sou, do espaço sem fronteiras e  do movimento - preferia álvaro de campos. Mas por vezes gosto de ler caeiro como se fosse eu defronte de mim mesmo.

«O discurso lógico trai a manifestação dos sentimentos; "as palavras são (redes) de dois gumes..." e o discurso lógico uma corrente que nos arrasta para onde não queremos. Um olhar, a mão que se levanta para acariciar um rosto, os dedos entrelaçados, o corpo que sentimos junto ao nosso, a simples presença, o saber-te aqui nesta sala ou na outra, não entendes que tudo isto, na sua simplicidade, diz mais e responde e/ou acalma mais interrogações que todas as palavras? É preciso saber ler para além das palavras ou não recusar essa leitura. Lembro-me dum poema do Alberto Caeiro, cuja humildade e simplicidade me atraem, humildade e simplicidade perante as pessoas e as coisas que talvez nunca sejam minhas. Levanto-me e vou ali á estante buscá-lo. Escolho o poema que trancreverei. Hesito na escolha. Será este!

XLV - Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renques e o plural árvores não são coisas, são nomes.
   
Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!    (MCG - 1972.07.14)»

http://daliedaqui.blogspot.pt/2014/05/alberto-caeiro-verdade-mentira-certeza.html


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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)