5 de Julho de 2014 às 1:12
* Victor Nogueira
Mais uma photoandarilhice, desta feita aos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras,precedida dumas divagações em solilóquio, quando não em circunlóquio.
Depois duma interessante BD sobre o Holocausto, "Maus" (Ratos) de Art Spiegelman - cuja tradução é péssima - acabei de ler um livro de Anita Vilar com biografias de mulheres ligadas a Setúbal ao longo das eras, no qual se faz referência a um opuscúlo sobre o mesmo tema escrito por uma colega e amiga minha que foi bibliotecária da Câmara, a Idília das Mercês. Já reformada e com a doença de Alzheimer, um dia levaram-na ao edifício onde eu trabalhava para visitar os colegas, não reconhecendo qualquer deles, com uma surpreendente excepção: ao cruzar-se comigo num corredor, o rosto iluminou-se num sorriso, exclamando: "Olha, o Victor". Também o meu pai já só me reconhecia e às minhas mãe e filha, perguntando pela Celeste. Quando lhe dizia que já tinha morrido afirmava que não sabia e que ninguém lho tinha dito, repetindo-se a cena algum tempo depois, conjuntamente com a afirmação de que o filho Zé Luís também já morrera, interrogando-me sobre a causa da morte do caçula.
Continuo a ler uma obra sobre as civilizações africanas na Idade Média, algumas delas tão avançadas como as europeias e, nalguns aspectos, mais adiantadas. E na forja para leitura uma colectânea de escritos de viajantes estrangeiros que ao longo dos séculos passaram por Setúbal, um dos quais é o autor duma interessante obra que acabei de ler há dias "Portugal, Recordações do ano de 1842", do Príncipe Félix Lichnowsky.
Voltando a "Maus" de Art Spiegelman, de leitura que prende, toda a trama gira em torno da eliminação genocida dos judeus, como se estes - dentro e fora dos campos de concentração e de extermínio - tivessem sido as únicas vítimas. omitindo-se - como é habitual - a perseguição e o extermínio de opositores políticos ou de "sub-humanos", como ciganos, comunistas, socialistas, sindicalistas, eslavos, incluindo os prisioneiros do exército vermelho (soviético), a quem os nazis não aplicavam o estatuto de prisioneiros de guerra.
Em vai-vém, oscilando entre as margens dos rios tejo e sado, entre Setúbal e Paço de Arcos e seus arrabaldes, estilo borda de água, prosseguem os dias de verão, ora chuvosos, ora outonais, ora frementes de electricidade, entre a clara luminosidade e o cinza das núvens acasteladas. As noites são povoadas de contínuas histórias, como se sessões de cinema fossem, cujo enredo procuro fixar ao acordar, logo esvaídos e sem préstimo como matéria prima para "literaturas". Sucedem-se os tempos e os espaços e na tessitura deste (es)correr dos astros, das núvens e das águas, tu não és senão uma efabulação minha, uma ausência de nós e de laços, mas apesar disso contigo percorro e photoandarilho, contigo que és toda a gente e ninguém, cada um metido na dobadoira da vida em caminhos que ainda não se encontra(ra)m na estrada da Junção do Bem. Seria a Junção do Bem ? Huuummmm !!!
1. de quantas pétalas é tecido o sol
e de quantas escamas o mar?
quais as malhas que entretelam o lençol
e de que notas se veste o luar?
é difícil a rima,
verso branco que arrima
e anima
oco louco
muito ou pouco ?
e a seara cerealífera
na esfera da espera
na concha do sentido
caracol
pelíicula a película (des)folh(e)ada
quantos sentidos se encerram ou libertam ?
de quantos caracteres, signos e palavras
se retiram duma só?
sol rissol solidão metanol briol
solário vário
refrigério
quente ou frio
etc & tal
ou assim e assim
afinal
sem pós de perlimpimpim ?
2. De quantas roupagens e de quantos espelhos se veste o amor ? Como e em que balanças se pesam os corações ? De que matéria ou materiais são feitos? De quantos rios refluindo em riacho cada vez mais estreito e para longe do mar ? De quantas luas se faz o sol ? Como se apura o deve e haver da mão invisível que equilibra as curvas da oferta e da procura ? Na economia do amor de que monopólios ou oligopólios se alimenta ? Amor rima com ar-dor e an-dor e amizade com serenidade.Fica um campo de flores estreladas
.
.
3. retrato de gioconda por Fra Angélico
Uma expressão de nórdica Gioconda, branca de neve contrastando com ondas de azeviche da cabeleira como se visão de El Greco fosse.Na contrastaria e em fundo a delicadeza colorida e nipónica, o verde do canavial, junco ou papiro, a seara de esmeraldas … e o solário. O equilíbrio, a diversidade e … o enigma! A roca e o fuso, a esquadria curvilínea. Para lá da imagem a cisterna do mar dourado e a flexibilidade das ondas em crescendo, serpenteante e diamantífero caracol. A sintonia da sinfonia.
4. os dedos em arremedos
um beijo em solfejo
abraços em baraços
nós sem laços
e na rua
a lua nua`
lassa
cruciforme
baça
sem ti
e o destino
um malão de cartão
no porão
e
a
ínsula
onde a pena ou a "pen" da península
istmo com ritmo
o sábio astrolábio ?
João Baptista
~~~~~~~~~~
O passeio de hoje é uma deambulação pelos jardins do Palácio do Marquês de Pombal, na vila de Oeiras. Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal, foi o poderoso e autoritário Ministro de D. José, cujo poder - baseado no despotismo iluminado - procurou fortalecer contra muito poderosas casas senhoriais, como as dos Marqueses deTávora ou dos Duques de Aveiro, ou de influentes ordens religiosas como a Companhia de Jesus, vulgo Jesuítas, cujos colégios espalhados pelo país, incluindo a Universidade de Évora, extinguiu.
Representante dos interesses da nascente burguesia, aboliu a distinção entre cristãos-novos e cristãos velhos, reformulou o ensino em novas bases e lançou os alicerces para o desenvolvimento económico através da criação de manufacturas, cujos produtos eram protegidos através de pautas aduaneiras, ou de companhias majestáticas e monopolistas, designadamente no campo dos tecidos (seda e lanifícios), das pescas e da vitivinicultura, ou comercias, nas colónias (Brasil), reprimindo violentamente as manifestaçãos populares e dos pequenos produtores, como as dos vinhateiros e pequenos comerciantes (Motim dos Taberneiros do Porto), a dos pescadores de Santo António da Arenilha (Algarve) ou o incêndio da Trafaria, povoação de pescadores onde se haviam refugiado fugitivos à Justiça Real.
O racionalismo iluminista no campo da urbanização é bem patente na reconstrução da baixa lisboeta após o terramoto de 1755, e na construção de raiz de Vila Real de Santo António, no Algarve. Li algures e em tempos que em Setúbal, arrasada pelo terramoto, tentou aplicar os novos princípios racionalistas no traçado urbanístico, mas a vila reconstrui-se mais rapidamente no seu traçado medieval.
Foi o Marquês de Pombal quem quebrou o poder da Inquisição em Portugal (que viria a ser definitivamente abolida com a Revolução Liberal de 1820), embora sintomáticamente o último auto-de-fé, "encomendado" pelo Marquês, tenha queimado o padre jesuíta Malagrida (que defendia que o Terramoto tinha sido provocado não por causas naturais mas pela ira de Deus). Em estátua ou efígie, porque fora do alcance da Justiça Real, foi executado o Cavaleiro de Oliveira, libertino, racionalista, que havia abjurado a fé católica, crítico impiedoso da Inquisição e da Igreja Católica (religião única da Monarquia), a cujo obscuranturismo atribuía a miséria de Portugal e o seu atraso económico.. Também em efígie, porque já haviam morrido, foram executadas duas pobres mulheres, talvez acusadas de bruxaria ou feitiçaria.
Para além do Palácio no Bairro Alto, em Lisboa, o todo-poderoso Ministro, oriundo da pequena burguesia rural, feito Conde de Oeiras na sequência das medidas tomadas após o terramoto de 1755, na povoção do mesmo nome ficou proprietário de vastas e férteis terras, junto à Ribeira da Laje, combinando a quinta de recreio e palácio com a exploração agrícola segundo métodos avançados. Foi também em Oeiras que o Marquês de Pombal realizou a 1ª Exposição Agrícola e Industrial portuguesa. (1770).
A entrada principal do palácio, projectado por Carlos Mardel, é feita por um amplo terreiro onde actualmente se localizam o edifício da Câmara Municipal, o Pelourinho e um grande chafariz. Olhando para mapa, o palácio situa-se no canto superior esquerdo, numa das laterais do largo fronteiro aos Paços do Concelho, onde se situam os referidos pelourinho e fontenário com as armas do Marquês. No lado direito, na extrema do mapa, os edifícios da adega e do lagar de azeite, junto dos quais fica a Cascata dos Poetas ou Gruta Nobre, construção artificial, com os bustos dos quatro poetas preferidos de Pombal, entre eles Camões e Virgílio. Adjacente ao Palácio desenvolvem-se espaços, decorados com estátuas e bustos de mármore, muretes e escadarias revestidas de azulejos. Nos jardins, atravessados pela ribeira da Laie, encontram-se excelentes bustos de autoria de Machado Castro, para além do Jardim das Merendas e da Casa do Peixe. Os jardins deste palácio são representativos da arte do paisagismo em Portugal, apresentando uma concepção do século XVIII europeu, mas permanecendo fiel a uma tradição portuguesa que produz a partir do século XVI as Quintas de Regalo. Era nos jardins em torno do palácio que se realizavam os eventos culturais: teatro, bailado, música, entre outros. Do renomado escultor Machado de Castro, já falámos em notas anteriores, das photoandanças por Lisboa (Arco da Rua Augusta e Praça do Comércio) e por Caxias (Quinta Real).
Nestes quentes dias estivais o sol ofusca e a luminosidade fere o olhar, não se ouvindo o rumorejar das águas na cascata nem o trinado de aves ou o sussurrar das folhas agitadas pela brisa e o perfume das flores não volteia em meu redor.
MEMÓRIA DESCRITIVA
no jardim
aragem chinesa ou nipónica
em filigrrana rendilhada
um jogo de luzes em chiaroscuro
dicotómico e caleidoscópico
sombria de sombras
na penumbra em contrastaria
rútilo é o i
entre o gradeamento
e a folhagem
a preto e branco
síntese ou ausência da cor
senza cuore il senso
a cinza e a neve
il silenzio
sem refração
na espiral rectilínea
visto o registo
em curvilínea planura
As propriedades que o Marquês de Pombal possuía em Oeiras englobavam oito olivais, cuja colheita era transformada no Lagar de Azeite, parcialmente recuperado.
Uma parte do jardim, na margem esquerda da Ribeira da Laje, é o Jardim Público da Vila, estendendo-se quase até à estrada marginal. É dos Jardins do Palácio e do exterior deste que falam as photos seguintes.
vem de entre eros e afrodite 23 - cartas a Penélope 09
Foto Victor Nogueira - vista do palácio com terraço das araucárias
Foto Victor Nogueira - vista fachada lateral do palácio com terraço das
araucárias
Foto
Victor Nogueira - painéis de azulejos do século XVIII nos muretes
Foto
Victor Nogueira - painéis de azulejos do século XVIII nas escadarias
Foto Victor Nogueira - Terraço das araucárias e jardins de
buxo
Foto Victor Nogueira - Terraço das araucárias e jardins de
buxo
Foto Victor Nogueira - Terraço das araucárias e jardins de
buxo
Foto Victor Nogueira - flores do jardim
Foto Victor Nogueira - flores do jardim
Foto
Victor Nogueira - Ribeira da Laje
Foto Victor Nogueira - Jardim das merendas.
Foto
Victor Nogueira - Fonte das 4 Estações (antiga Horta ajardinada)
Foto
Victor Nogueira - jardim
Foto
Victor Nogueira - jardim
Foto
Victor Nogueira - Ribeira da Laje
Foto Victor
Nogueira - Cascata do Poeta
Foto Victor
Nogueira - Cascata dos Poetas
Foto Victor Nogueira - Cascata dos Poetas
Foto
Victor Nogueira - Ponte sobre a Ribeira da Laje em direcção à Cascata dos Poetas.
Foto
Victor Nogueira - Ribeira da Laje
Foto
Victor Nogueira - aqueduto vendo-se em 2º plano o pombal.
Foto Victor Nogueira - fonte (pormenor, com as armas do
Conde de Oeiras)
Foto Victor Nogueira - pombal, junto à estrada da Junção do
Bem
Retrato do Marquês de Pombal, por Louis-Michel van Loo (sec
XVIII)
5 comentários
Comentários
Maria João De Sousa Obrigada, Victor
Nogueira! Muito bem tratas a minha linda terra!!! Quando era pequenina e,
ainda morando em Algés, Oeiras era, para mim, um sítio que ficava "muito
longe" e onde eu ia passear, com o pai e a mãe, aos fins de semana, a
cascata do Poeta fazia as minhas delícias!
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Carlos
Rodrigues Muito bom, Vitor e que belas fotos. Obrigado, um abraço.
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Alice
Coelho
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)