terça-feira, 15 de julho de 2014

talent de bien faire

* Victor Nogueira

ora ouça, mal sorrindo
cai a louça, se partindo.

O Manel tinha uma bola
a brincar ninguém a viu
pois com Joana rebola
o que na maré subiu

São tão lindos os coelhos
que a cenoura bem rói,
está maria de joelhos
vassourando seu dói-dói

Sobe sobe João Feijão
por cima do feijoeiro:
trepa, trepa, faz ão-ão
dando à cauda, mui lampeiro.

Em casa do chocolate
os dois manitos trancados
com dedos mostrand'áparte
corações aperreados.

Duas-a-duas, cerejas,
atrás dumas outras vão,
com as canecas, cervejas,
em festival, a canção.

O José, lambão, cozinha,
partindo a cantaria;
com foguetes a rainha
'voaçando na calmaria.

Bem vermelho, capuchinho,
com destemor na floresta,
vai topando de mansinho,
espreitando pela fresta.

O papagaio é louro
gabiru d'olho azul,
no mar dá grã-estouro
com bico virad'ao sul.

Aladino no serralho
Ali Bá-Bá, aos sacões,
carteando em baralho,
salta-ricando, ladrões.

Ora, ponha aqui seu pézinho,
de cinderela, cristal,
o príncipe pobrezinho,
vogando no pantanal.

Sebastião tudo papa
com manha e sem rebuço
o rosto atrás da capa
como zorro com seu chuço.

Pé aqui, um pé além, 
no bem-bom vai navegando;
em roda-viva, vai-vém,
nas janeiras rabejando

A tríade da trindade
com porquinhos a dançar
saltitantes na maldade,
e a língua a dar-a-dar.

A oliveira da serra
na candeia faz truz-truz,
a chama acesa, cerra,
de verde, o arcabuz.

Pobre lobo com barriga
na mira do caçador,
chumbaria na barrica
do paço, com esplendor.

Versos novos, infantis,
são os do pregoeiro,
aprontem bem os fuzis
na rota do caminheiro.

"honni soit qui mal y pense"
o real com aparências,
é cantiga de "suspense"
se há coincidências.



Setúbal, 2014.07.15

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)