quinta-feira, 28 de maio de 2015

Sintra e Castelo dos Mouros


texto e foto victor nogueira - 

Sintra e Castelo dos Mouros alcandorado no cimo da penedia - Lá em cima estive há décadas e no passado milénio, no tempo em que era menino e moço, modo de escrever para tornar distante no tempo o que na história do Universo ou mesmo da desHumanidade não passa de fugaz instante, mais breve que o fugacíssimo lampejo dum fósforo que de imediato se apaga entre os dedos e ao sopro de levíssima brisa. 


Tenho de lá voltar, vencida a inércia em que estou emaranhado, photoandarilhando por aquelas pedras e ruínas, buscando o horizonte infindo em redor. E talvez dalgum recanto e das penedias e fraguedos (res)surja a moura encantada que o meu desencanto quebre. Bem posso esperar sentado, para não me cansar, na úmbria, murmuram-me os meus botões e o meu lado racionalista.

Mas ... por falar em descanso: áqueles povoados fortificados defendidos por castelos alpendurados em rudes e pedregosos fraguedos, deveriam chegar com os bofes na boca e tremuras nas pernas e nos braços , os peões de ventre ao sol e os cavaleiros de ferro cobertos para mal das cavalgaduras em que se transportavam, equinos ou mulas, após percorrerem penosamente estreitos e sinuosos carreiros, levando pelos costados acima com pedregulhos, setas e óleo fervente. O que hoje nos parece paradísiaco na sua verdejante serenidade seria então a antecâmara do inferno. 

Tão dolorosas as queimaduras que se prolongavam no bailar das chamas e dos tormentos nas profundas do reyno de Belzebu, sem mil virgens que em Cristo amenizassem a glória dos cavaleiros e seuus peões de brega.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Por Sintra com brevidade



texto e fotos victor nogueira

São 3 as janelas gradeadas com vista soalheira e verdejante, num amplo salão, que me dizem ter sido a cadeia de Sintra, talvez em tempos medievos, atendendo a um arco ogival cuja vetustez não garanto, perto das Escadinhas de Lord Byron (o poeta romântico), e do hotel Lawrence (fundado em 1764) - não o das Arábias e dos "Sete Pilares da Sabedoria", livro cuja leitura vivamente aconselho, onde o deserto surge cheio de vida e diversidade paisagística, nada tendo a ver com o do célebre filme de David Lean interpretado por Peter O´Toole.

Hoje o que teria sido a cadeia é um local coberto e mal amanhado para estacionamento não de cavalgaduras mas sim de automóveis, através dum estreito acesso, em ruas sinuosas e de calçada irregular, polida pelos passeantes. Se cadeia  foi e se as vistas de então fossem semelhantes às de hoje, não teria o ar soturno e sombrio de outras enxovias, como as do Limoeiro, em Lisboa, ou daquela no Porto em que estiveram  presos Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, estes cada um para sua banda porque  para escãndalo já chegavam os seus adúlteros amores e as tragédias do "Amor de Perdição".

Há muitas décadas que não ia a Sintra de comboio e a estação cheia de barreiras para controle de  blhetes dos passageiros já não é o que era. Mas adelante.

Pela vila e na encosta do Castelo dos Mouros acima  -  que me faz lembrar Coimbra em torno da Sé Velha e da Calçada do Quebra-Costas - pelas estreitas ruas ou pelo amplo largo do Palácio da Vila, acotovelam-se turistas, incluindo brasileiros com seu falar cantante. Num banco um jovem alegre e risonho, colorido nas suas vestes e pele como se fosse uma estátua de bronze, toca viola e amealha uns cobres deixando-se fotografar junto às turistas.

Entramos na Igreja de S. Martinho, templo medieval completamente derrubado pelo terramoto de 1755 e muito descaracterizado. Insólito: pelos bancos algumas pessoas sentadas e duas delas  embrenhadas em ver talvez vídeos em tablets ou smartphones.  Uma placa publicita um Museu de Arte Sacra que não vislumbramos nem nos afadigamos a procurá-lo.

Voltando à "prisão" cuja janela ilustra este post, lembro-me do casarão duma amiga numa vila alentejana (Sousel), remontando aos tempos do senhor D. Manuel I, embora as janelas deste não tivessem grades mas sim uns banquinhos de pedra de cada lado, adossados à parede, para as damas outrora apreciarem o movimento da ruas, talvez bordando e cavaqueando entre si, resguardadas embora e possivelmente por detrás das janelas com adufas, como  aquelas que ainda existem no Algarve, sobretudo em Tavira, e que foram preservadas nos balcões duma das ruas do centro histórico de Braga.

E se pachorra houver para ler, aqui se fala duma outra cadeia, a de Arraiolos, nos idos de 1973, em  

Na cadeia e no tribunal de Arraiolos

 e dum outro passeio a Sintra em 

Photoandando por Sintra

domingo, 24 de maio de 2015

luanda - aldeia de pescadores na samba



foto jj castro ferreira - luanda - aldeia de pescadores na samba -

Uma paisagem seca, árida, calcárea, de capim e plantas xerófilas como o imbondeiro, à esquerda. Um dongo ou piroga com vela desfraldada (a profundidade do mar não permitiria o ximbicar) e duas outras canoas varadas no areal. As cubatas, casas de pau-a-pique com paredes e telhado de folhas de palmeira, uma delas com a roupa estendida no varal, a secar. 



  • Maria José Fonseca Mais uma foto dum sítio que faz parte das minhas recordações. Obrigada Victor. Beijinho
  • Fatima Mourão obrigada pela partilha 
    smile emoticon
  • Manuela Miranda Lindo este lugar Amigo , os lugares de onde vivem os pescadores são sempre lindos, Estou a lembrar-me de Nazaré também é um lugar lindo, Afurada em Vila Nova de Gaia e Matosinhos também foi já não é tanto, mas gosto desta por causa das casinhas Obrigada Amigo Sê Feliz beijinhos
  • Maria João De Sousa Obrigada, Victor Barroso Nogueira! Belíssima fotografia!
  • Maria Lisete Almeida Grata pela partilha Amigo Victor Nogueira. Estes lugares, embora não façam parte das minhas lembranças, são para mim de uma beleza que me sensibiliza.
  • Teresa Mercês de Mello Que saudades e que fotografia linda! Obrigada Victor.
  • Arminda Griff Não me situo aqui... gosto muito da foto 
    heart emoticon
     Beijinhos Victor.


  • Judite Faquinha Bela foto camarada Victor, e à sempre encanto nas sonas de pescadores, e a sua azáfama, na arte de pescar que eu adoro a sua labuta, por vezes pondo a própria vida em risco pelo mar agitado... na sona da Costa que eu assistia muitas vezes...e me encantava. Obrigada Victor pela partilha beijokas 
    heart emoticon
    Gosto · Responder · 19 h
  • sexta-feira, 15 de maio de 2015

    Na cadeia e no tribunal de Arraiolos

    * Victor Nogueira

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    Ontem em Arraiolos, enquanto fazia horas aguardando as vinte, quando regressariam a casa os únicos dois inquiridos que me restavamfui visitar a cadeia lá no largo onde param as camionetas da Setubalense e fica a Câmara mais o posto da GNR, os CTT e a praça de táxis (e quiçá também da má-língua). Do largo a cadeia destaca-se pela sua torre sineira, qual igreja, e pela suas duas janelas fortemente gradeadas. Há muitos anos que no seu segundo piso flutua um pano branco, indicativo de desocupação. O sr. não sei quantos (motorista de táxi que me tem trazido a Évora, de Arraiolos ou de Santana do Campo ou S. Pedro da Gafanhoeira) apresentou-me ao carcereiro, o sr. Agostinho, um velhote forte, de cara quadrada e enrugada, respirando solidez por todos os poros. As celas são em número de quatro, grandes e frias, além do segredo, um tugúrio agora transformado em casa de banho da cela do primeiro andar (a dos pequenos delitos), todas elas de paredes larguíssimas e portas duplas, a interior de ferro, gradeada, e a exterior de madeira. Outrora os presos dormiam em enxergas, que de dia eram arrecadadas, mas uma oferta de camas de ferro pelo sr. qualquer coisa Mira e de colchas (dez, que custaram na altura mil escudos) pela esposa dele acabaram com as dormidas no chão.
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    Outrora a cadeia, segundo o sr. Agostinho andava que nem um brinco ("Nem cheira a cadeia", teria dito um juiz qualquer de passagem) e os presos faziam gala disso ("Não pode ser uma cadeia, parece uma enfermaria", diriam as pessoas que da rua espreitavam pelas grades).
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    Mas os tempos são outros, agora há menos delinquência porque a miséria é menor, há mais trabalho e tudo apresenta um ar de abandono, a caliça a cair, as cadeiras partidas ou rachadas, poeirentas, as colchas brancas com flores encarnadas agora manchadas ("Sabe, antigamente eram lavadas todos os anos, mas agora já há três que isso não sucede").
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    Também os juízes permitem que a prisão por pequenos delitos seja remível em escudos (o que em meu entender constitui um aumento das receitas do estado e uma diminuição das suas despesas!). Apesar do respeito dos presos pelo sr. Agostinho ("Lá vem ele!" diriam ao ouvir os seus passos:"Nunca nenhum me faltou ao respeito"), houve pelo menos duas tentativas de fuga., duma ainda se vê o remendo na parede; outra foi descoberta no momento X: um pau enfiado num cobertor, um varão da cama partido ao meio servindo de alavanca, o entulho e pedras escondidos debaixo das outras camas, o buraco por outra, a espessura da pedra estava quase em nada, quando as vibrações foram detectadas por um motorista de praça que ocasionalmente se encostou à parede.
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    Não me parece que quem quer que fosse se regenerasse numa cadeia assim, que até nem seria das piores. Mas a inactividade e a tristeza que emanam de toda aquela penumbra e do encerramento em quatro paredes!...
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    O sr. Agostinho não sabia com quem falava, e não ficou muito convencido:"o sr. se aqui está por alguma coisa é!" "Isto deve ser um inquérito, não?". "Mas eu estou a falar-lhe com o coração nas mãos." Como não podia convencê-lo, continuei a minha visita, que terminou na sala do tribunal. Sim, que até essa ele me mostrou; a primeira em que entrei nos dias da minha vida. Ah!Ah!Ah! estas minhas visitas turísticas! (... )
    ....
    Mas,....voltemos àquilo de que estávamos falando, da sala do tribunal, à qual se ascende por um corredor azulejado e por umas escadas de pedra, no cimo das quais uma porta à esquerda nos introduz numa sala grande dividida em duas partes. Atrás bancos de encosto corridos, para o público. Uma grade, como as que outrora separavam - nas igrejas - os fiéis dos catecúmenos, separa este daquilo que eu chamaria - por comodidade - o palco - com os cacifos do juiz, do delegado do procurador da República, dos advogados e do escrivão. Em frente ao juiz um banco corrido - o do(s) réu(s) - e, um pouco ao lado, uma cadeira - para a testemunha que estiver a ser inquirida. Pelos bancos umas capas pretas (sujas) e na parede por cima do juiz um busto amarelecido representando a República. De cada lado uma porta, dando para dois cochichos cada um com uma secretária e uma estante, gabinetes já não me lembro de quem, com um aspecto desolado. Do outro lado, ao fundo da sala, uma porta de madeira dando para uma sala escura, com um escarrador e bancos corridos, um armário velho sem prateleiras, tudo com um ar muito soturno, e onde as testemunhas estão encerradas, fechadas à chave, enquanto o oficial de diligências as não chama, uma de cada vez, para prestarem declarações ao tribunal.
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    Um dia destes tenho de ir até ali ao tribunal, nas portas de Moura[Évora], para assistir a um julgamento. Já agora gostava de ver uma representação ao vivo! (MCG - 1973.03.14)