1º Retrato do pessoal da pensão de Évora
Além da minha pessoa outras mais existem aqui em casa. É
natural. A sra. D. Vitória [Prates]. (1)
A dona da casa. (...) Creio que é boa pessoa. De resto todos para mim são boas
pessoas ... até ver (2)
Ás vezes continuam mesmo a ser! A Ermelinda. Que é sobrinha. Que
anda no 2º ano do Magistério Primário. Minha adversária ao "crapaud"
e parceira à "sueca". Nem sempre. Uma colega: a Ana Maria [a
Macrobianas]. A sra. D.Cacilda, mãe da sra.D. Noémia . Que foi
há dias para Leitora de Português da Facultad de Filosofia y Letras de Santiago
de Compostela. Com quem gostava imenso de conversar. Que via poesia, algo de
valor, nas coisas simples e banais. Nas quais não reparo por não poder não
saber ou não querer. Por demasiado perdido nos meandros das minhas
introspecções filosóficas. A sra. D. Cacilda deixar nos à no fim deste mês de
Novembro. Dois colegas meus do 3º ano de Economia de Empresas: O Alexandre [Vaz] -
alto e de ombros curvados - e o Jorge [Carvalheiro] -
alto e direito (ou não fosse tenente da Guarda Nacional Republicana). (3)
E um terceiro, finalista do mesmo curso. O "fantasma" cá de casa.
Aparece e desaparece quando muito bem entende. Para terminar, a Leolinda -
afilhada e criada da dona da casa. E a filha - uma miúdinha de sua graça Ana
Maria, [a Microbianas] de seis risonhas primaveras. (ELF -
1968.11.24)
Temos um novo hóspede. Ainda não o vi. Deveria ter vindo
hoje. Sei unicamente que está empregado no Banco Espírito Santo. Veio para o
nosso andar [2º], do "tribunal" cá de cima, constituído por mim e
pelo Alexandre [Vaz]. Estou vagamente aborrecido com a vinda deste que é, pelo
menos por enquanto, um estranho. De resto para o ano devo apanhar mais
intrusos, pois as duas miúdas devem terminar o curso este ano. (NSM -
1969.02.11)
Já aprendi, ou melhor, dou assim uns passitos de dança,
consequência dos bailinhos familiares que até ao Carnaval se realizaram cá em
casa. (NSF - 1969.03.08)
2º Retrato do pessoal da pensão de Évora
É um domingo indefinido, um começo de tarde. Três novos
hóspedes entrarão hoje lá para casa. Somos agora oito (para além da hospedeira,
irmão [Ambrósio Prates] e sobrinho [Manuel] ): duas miúdas [Celeste Gato e Bia
Almeida], estudantes no Magistério Primário, como este, e a mãe duma delas
[D.Maria], e o Diogo[Guerreiro] (6º ano liceal e
futuro economista). Os novos são um velhote, [o sr. Marquês],
empregado comercial, uma assistente social [D.Teresinha] e a ilustre mãe
[D.Ilda]. Sou, actualmente, o mais antigo. Todos os outros entraram este
ano. (NSF - 1971.01.31)
A malta e cenas do Arcada I
Olho à minha volta e vejo malta conhecida: além, o Morte que
me acena, como o Calisto, que há muito não via. O namorado da Gabriela discute
acaloradamente e o senhor D. Alexandre de Lencastre (4)
conversa com dois amigos (sê lo ão ?), que falam também com a cabeça e as mãos.
Aqui, à minha esquerda, está o velhote pequenitates que anda à Charlot; costuma
pôr uma flor no copo de água que normalmente acompanha a bica, fala em verso -
os dois últimos primam quase sempre pela falta de rima e métrica - e oferece
moedas da sua colecção às personalidades importantes que passam por Évora e às
caras bonitas. Fala com toda a gente e não sei se falará com alguém. Quando
regressei de Luanda reparou que eu tinha rapado a barba ... largos meses depois
do acto solene que me tornou irreconhecível ao espelho, provocando me, durante
alguns dias, ataques de hilariedade frente àquela face rejuvenescida e
francamente risonha, sem o sorriso voltaireano que dizem ser o meu - irónico e
trocista - de que muitas vezes me apercebo mas não contenho, mesmo nos momentos
mais solenes e sérios, de gravidade de circunstância. (...) O ar está [agora]
pesado; olho à minha volta e há clareiras na humanidade que me cercava. (NSF -
1971.01.31)
Estou no café, no "velho", barulhento e de ar
viciado que é o Arcada. Deixei os jornais em cima de uma mesa, para marcar o
lugar, enquanto ia à tabacaria comprar uma folha de papel. (...) Ao regressar
encontrei um moço a folheá los muito descontraidamente. Devia ser dos Regentes
Agrícolas. Que ficou algo atrapalhado e balbuciou pensando serem do café. Que
não acabou de lê los, apesar da minha cordialidade. Enquanto escrevo vou bebendo
o galão e comendo a sanduíche de fiambre, acto quotidiano das 17 horas. Na sala
meio cheia umas pessoas conversam, outras lêm os jornais da tarde, alguns
estudam, uns olham simplesmente para coisa nenhuma, embrenhados sabe se lá em
que pensamentos. Reconheço alguns, poucos, companheiros indiferentes, quase
móveis da casa. Dos outros, é de assinalar o seu mau gosto no vestir, fatos
escuros, a boina ou o chapéu de abas viradas para os olhos. Conversam com a
cabeça apoiada na mão, uns sorridentes, outros de rosto grave, testas
enrugadas. Por vezes recostam se para trás nas cadeiras, outras juntam as
cabeças, convergindo para o centro da mesa, quais conspiradores. Olho à minha
volta e o café está [continua] meio cheio. O João Luís [Garcia] chegou e começou
a ler o jornal. Daqui a pouco chegarão o Camilo e o Carlos, que virão do exame.
Domingo Évora será um deserto, estupidificante. Eis que assomam à porta do café
o Chico Garcia e o Manel. Ficaram se pelo balcão da pastelaria. Entretanto
entra também o Álvaro Lapa, que é pintor, e corresponde cordialmente ao meu
largo aceno. Entretanto o João Luís protesta porque não consegue ler o jornal;
a mesa está desengonçada e tremeliques. (MCG - 1972.03.18)
O café é um mar de gente barulhentamente
conversadora. As ventoinhas giram mas nem por isso o ar está mais fresco.
Évora civiliza se: conto cerca de dezoito elementos do sexo feminino aqui no
Arcada (minha pátria em terras alentejanas). O mundo caminha para a perdição,
diriam os "moralistas" de porta para fora ! (MCG - 1972.07.24)
O Arcada é um mar de gente em burburinho, uns lendo, outros
comendo, outros escrevendo ou preenchendo sonhos de Totobola, outros
conversando com a língua e os dentes e os lábios e as mãos quando não com o
corpo inteiro. Do outro lado, além à minha esquerda, um homem está sentado
tirando dum saco de plástico algo cujo conteúdo lhe enche as mãos: talvez
moedas. Insólito, a seus pés, uma enorme e brilhante bacia de cobre amarelado.
O homem levanta se - tem uma pasta de cabedal quase do seu tamanho - pega na
bacia e encaminha se para a porta, por onde entra e sai muita gente, com ar
lento e vagaroso de quem nada tem para fazer. Lembro me de há quatro anos - ou
mesmo há dois - e há muito mais mulheres e raparigas - algumas bem giras por
estas mesas. Évora "civiliza se". Só a minha hospedeira continua com
as suas concepções retrógradas de outros tempos e outras eras, que continuam
[no fundo] a ser as de Évora. À minha direita dois velhotes conversam: um deles
conta qualquer episódio relacionado com a sua estadia na Grande Guerra de
14/18. Olho à minha volta e o café está mais vazio; não encontro o Camilo, que
pela segunda vez passou há pouco além no corredor central. Deve estar em dia
não. Mais velhotes sentam se ao lado da minha, iniciando amena cavaqueira.
Agora reparo que esta é a mesa deles. Adeus, estudo. Um deles diz que os gajos
da situação são os que mais maldizem o Marcelo [Caetano] e os que mais o
homenageiam. (MCG - 1972.09.28)
(...) Num ápice o Arcada enche se. Terminaram as
condecorações, os toques de clarim e o desfilar das forças em parada. Já ontem
se notavam muitos forasteiros que de longes terras vieram até ao povoado. Aqui
à minha direita, muito ternos, uma moça conversa com o namorado e deixa
entrever um grande pedaço da pele das costas, entre as calças e a blusa.
Questões de posição! à esquerda, um marinheiro com familiares (?) exibe a sua
condecoração de fresca data. Além o senhor Jaime abre e fecha os braços, como
asas, enquanto vai dando lustro aos sapatos de um cliente. Passam empregados
com as bandejas cheias de chávenas, copos e comes. O casalinho de namorados
bebe chá com torradas. O mesmo que um casal já caminhando para a meia idade
aqui à esquerda, na mesa ao lado. Ele já acabou de ler o "Diário de
Notícias" (fraco gosto) e ela dá lhe uma torradinha. (...) O marinheiro
levanta se e parte. Afinal a bengala não é dele mas do amigo que o acompanha. O
senhor Tenente e o senhor Coronel cumprimentam se, batem a pala e apertam as
mãos, enquanto as respectivas esposas se beijam. Na carequinha do senhor
Coronel o vinco na pele assinala a presença do boné, agora sobre a cadeira.
Entram pessoas de luto e há cumprimentos de mesa a mesa. Precisava duma câmara
de filmar. Sobre a minha mesa, "O Século" (sabe) que dentro de dias
será descerrada em Luanda uma estátua ao Marcelo [Caetano]. Para além d'O
Século a lapiseira, um livro ("A Sociedade de Consumo") e o porta
moedas (agora é incómodo trazê lo no bolso). (...) ( MCG - 1973.06.10)
Levanto os olhos e vejo muitos magalas, na sua farda verde
oliva. Andam também pelas ruas, aos grupos, espalhafatosos, como quem já tem o
seu grão na asa. "Cheira me" que haverá dentro em breve mais um
contingente para a guerra em África. Alguns escrevem, curvados sobre o papel, a
caneta firme na mão, como quem não está habituado a frequentes escrituras.
Parecem rapazes muito novinhos; uns conversam, irrequietamente, outros têm um
ar absorto, ausente.
O barulho invade me e cansa me. Há pouco, dei de repente com
um silêncio gradual, profundo. Levantei os olhos do papel e era um magote de
gente à volta duma mesa, em pé. Um silêncio em crescendo, gradual. Gente
levantando se, esticando o pescoço. Continuo a escrever. Alguém se deve ter
sentido mal, mas o meu curso de primeiros socorros já tem oito anos. Um homem
sai do meio do magote, os seus lábios mexem se e leio "Desculpe me" a
mão passada pela testa como quem tem suores ou tonturas. Sai pela porta
giratória (há pouco atrás de mim) e perde se na noite das arcadas. (MCG -
1973.11.26)
É segunda-feira em Évora. O Arcada vozento e
cheio. Circundo o olhar e não reconheço a maior parte das pessoas, que falam
com grandes movimentos das mãos e do corpo - alguns - ou lêm o jornal: "A
Bola" ou "O Século". Está um dia luminoso e soalheiro, este ano
sem desfiles militares. Jovens esquerdistas cá do burgo pretendiam organizar um
comício anti-colonialista mas parece me que ficou tudo em águas de bacalhau
(MCG - 1974.06.10)
Os Companheiros das horas vazias
Abraça por mim a malta da mesa do café Arcada, companheiros
das horas vazias. Como estas no Porto, aguardando os exames de Fevereiro. Um
abraço especial para a Guida [Morgado] e para a "terrorista" que é a
Zeca. (5)
(Lídia - 1972.01.01)
3º Retrato do pessoal da pensão de Évora
[Foi] o tempo de ter visto a D.Vitória e lhe ter dito uns
piropos até ao próximo chá. Tempo de travar conhecimento, ao jantar, com duas
novas hóspedes - temporárias - cá de casa. Ambas de Montemor: uma é velhota,
professora primária, de sua graça Maria Inocência, outra auxiliar social, a
menina Maria do Céu, em breve senhora de não sei quem. Enfim, se eu não
conseguir "controlar" as conversas à mesa terei de ouvir conversas de
chacha - Porque será que há pessoas tão chatas?! (...) [Esta] minha falta de
jeito para conversar em qualquer circunstância e sobre qualquer assunto! (MCG -
1972.06.07)
4º Retrato do pessoal da pensão de Évora
O silêncio que substituiu as discussões políticas à mesa
após a partida da sra.D.Ilda e do sr.Marquês tem sido agora substituído por
"importantíssimas" discussões entre o Diogo da Amareleja e
o Victor[Dordio] do Cano sobre as altas percentagens de reprovações no
Liceu e, sobretudo, como hoje, [por] questões automobilísticas. Enfim, se todos
gostassem do mesmo era esta vida uma sensaboria, como diria a sabedoria
popular. (MCG - 1972.06.30)
O senhor Marquês escreveu me [de Aveiro], uma carta muito
formal. Está bem. (6).
Da Bia [Almeida, de Safara] não há notícias; escrevi lhe meia dúzia de linhas
pelo aniversário. O Diogo Fialho [de Santo Aleixo da Restauração] foi se embora
sem dizer água vai nem a mim nem ao seu homónimo. O Diogo Guerreiro [da
Amareleja] - agora mais sorridente e falador - fez hoje oral de Inglês [e
passou com 13] (MCG - 1972.07.21)
Sabes quem apareceu por Évora, hoje?
O Aristides [Picanso da Silva] ! Vem fazer quatro exames, regressando
aos Açores no fim de Outubro. Até lá será hóspede da D.Vitória, a quem pagará
... 50$00 diários. Safa! (MCG - 1972.09.29)
5º Retrato do pessoal da pensão de Évora
O Diogo Guerreiro fica cá em casa. O Diogo Fialho ainda não
deu notícias. Comigo devemos ser os únicos hóspedes este ano, que a D.Vitória
está cansada. O quarto do sr. Marquês [e que fora do Jorge Carvalheira] agora é
sala de visitas e o que foi vosso [com escadas para o terraço] é agora do sr.
Prates e do Orlando - sobrinho - que vem estudar para Évora. (MCG -
1972.09.22)
6º Retrato do pessoal da pensão de Évora
Isto aqui em casa são umas correrias escada acima, escada
abaixo, que nem calculas. Sim, que o amigo Orlando anda alvoroçado com a escola
e um mundo novo para ele, de que me não fala mas pressinto. Os cuidados com os
livros, todos bem arranjadinhos, o ar tímido quando com ele falo! (...) O sr.
Prates já foi largando a bisca para um explicador ... À borla, pois então. Só
que o coração já me caíra aos pés quando na véspera a D.Vitória me comunicara
que a minha pensão aumentara de 200 $ 00 mensais, isto é, para 1600 $ 00. (MCG
- 1972.10.04)
O Diogo Fialho regressou ontem, mas não foi colocado na mesa
dos hóspedes [sala de jantar] mas sim "adoptado" pela família Prates
[mesa da cozinha]. (MCG - 1972.10.10)
A D.Vitória arranjou uma ajudante, que chegou hoje de manhã.
Não conheço ainda a sua graça: é uma rapariguinha - 12/13 anos - de negros e
revoltos cabelos e um ar de bicho de mato. Enfim, mais uma pessoa que entra
para a vida, possivelmente para servir os outros. (MCG - 1972.10.26)
7º Retrato do pessoal da pensão de Évora
Tenho de interromper que a D.Vitória já me chamou pela 3ª
vez - com inflexões de zangada - e o Aristides deve ir no 2º prato.De resto o
coraçãozinho deve estar em trevas, pois hoje uma miúda amiga veio visitar o
Aristides e ele mandou a subir. E como era uma miúda toda alegre, nova e de
mini saia ... bem, imagino a tempestade que deve ser o sentido de honra e
decência da recatada senhora! Se a coisa me não tocasse também dar me ia vontade
de rir de tudo isto. Raio de gente que só vê pernas abertas e "poucas
vergonhas!" (MCG - 1972.10.17)
8º Retrato do pessoal da pensão de Évora
A propósito de miúdas, a D.Vitória desistiu da salinha de
estar para as visitas importantes - agora é o seu quarto de dormir - por ter
alugado o outro a três alunas do Magistério, altas como torres. Como é natural,
há duas mesas - a dos senhores importantes (eu e o Diogo Guerreiro) (7)
e a outra. Ah!Ah!Ah! (MCG - 1972.12.04)
Já almocei. Isto agora come se mal p'ra burras. Como comerão
o Diogo [Fialho] e as miúdas na cozinha? (MCG - 1973.01.10)
Disse me a D.Vitória que a "menina" Celeste
telefonara. (Ah! este tratamento!) Não sei se haveria "festinha
familiar" [pelo meu 27 º aniversário], mas sabes como as não aprecio por
nada me dizerem. Jantar fora e chegar de madrugada foi um pretexto para malográ
la e, simultaneamente, estar com amigos. (MCG - 1973.01.06)
É sem grande prazer que daqui a pouco vou até ao café perder
mais tempo. Aborrece me, no entanto, este enorme quarto, vazio de pessoas. A
casa da D.Vitória, por motivos óbvios, não oferece condições para convívio. E
este ano é o fim. O Diogo [Guerreiro] passa a vida fora de casa. As miúdas,
enfiadas no quarto. De resto as nossas relações agora estão muito desagradáveis
para mim. Como não sou tipo de salão e como as condições de convívio são
praticamente nulas, limito me ás minhas secas e distantes saudações, a que nem
sequer correspondem. Mas já antes disso passavam pela sala [vindas da cozinha],
quais bichos do mato, sem nos saudarem. (...) Ouço subir as escadas. A
propósito, sabes que estas miúdas não vêm cá acima senão duas a duas !? Que
reles! Imaginar me ão e ao Diogo G. ali atrás da porta de olhos brilhantes e
respiração opressa prontos a "saltarmos-lhes ao espinhaço", como se
diz na gíria?! Já o sr. Prates não se enfia no quarto dele sem dar duas voltas
à chave! Ah! Ah! Ah! (8)
(...) Daqui a pouco vou sair - à chuva, ao vento, desafiando as intempéries e o
furor das divindades - para meter esta presença de mim no marco do correio.
(MCG - 1973.01.16)
Ali na sacada a Eglantina - com os seus longos cabelos
louros e os bonitos olhos verdes - secava aqueles enquanto estudava Geografia
Económica. (...) A Vicência aprimaverou se no vestuário mas eu é que não
abandono a gabardina enquanto não vierem melhores dias. (9)
(MCG - 1973.03.22)
O sorriso e a voz terna da Eglantina fazem[-me] desejá la
com toda a pureza da simplicidade que haveria de haver entre um homem e uma
mulher. (MCG - 1973.06.17 A)
O Orlando faz hoje anos. Deve haver festinha. Reprovou na
Escola e anda ouvindo discursos por causa disso há tanto tempo que já estou
enjoado(....) A Vicência faz exame depois de amanhã. (...) [O Orlando] deu
me alguns dos desenhos dele (que eu podia ficar com todos os que quisesse). Vai
sendo altura de mudar a decoração do meu quarto. O rapazinho agora pediu me
trabalho - não tem nada que fazer - de modo que desde sábado que me anda em
arrumações aqui no quarto - ordenou me revistas, separou me jornais e amanhã vou
comprar umas folhas de cartão para fazer cadernos para arquivar a papelada e
revistas. (MCG - 1973.06.17 B)
9º Retrato do pessoal da pensão de Évora - Que sucedeu ?
Ora, recolhi ontem a vale de lençóis, com temperatura
elevada, que assim como veio, assim se foi, durante a noite. De qualquer modo
resolvi hoje manter me encafuado no quarto, malgrado a minha impaciência ...
Por toda a casa soam estalidos, consequência do
irrequietismo do Orlando. Não descortino bem qual o gozo daquilo, mas enfim ...
Volto a página e pergunto me que mais vou eu escrever?
Levanto me, dou uma volta pelo quarto, remexo numas quantas coisas e torno a
sentar me para escrever isto.
Entretanto a D.Vitória regressa, para levantar a bandeja do
lanche e despejar o cinzeiro (o João, o Carlos, o Tobias e a Lídia empestaram
me o quarto com cigarros). Há cinco anos que lido diariamente com a D.Vitória e
nunca as nossas relações foram muito cordiais nem estreitas!
Acendo o candeeiro, não porque seja absolutamente
necessário, mas num gesto algo inconsciente ou automatizado.
Olho para a minha direita e vejo um enorme calhamaço:
"Os Macondes de Moçambique", vol III - "Vida Social e
Ritual". Terei de consultar este e os dois primeiros para redigir a
monografia de Antropologia Cultural. (MCG - 1973.01.26)
10 º retrato do pessoal da pensão de Évora
Verdadeiramente o quarto até parece outro, mesmo atendendo à
evolução na continuidade. Que não gostou muito da brincadeira foi a
D.Vitória, que ficou enxofrada por eu ter posto no corredor a abominável
moldura do espelho da cómoda. Ao regressar a casa hoje aquilo estava de novo no
meu quarto, arrumado embora num canto. Quando desci a ilustre senhora começou a
mandar vir, que aquiloficava no meu quarto e mais blá blá que me ia
enchendo as medidas. Enfim, disse me que me alugou o quarto para dormir e se eu
queria uma sala de convívio que alugasse um apartamento. (!) Ah! Ah! Ah! ... e
este até tem sido um ano sossegado: pouca gente vem para cá para o paleio e
para ouvir música ou estudar como nos primeiros anos, nem as meninas (10)
ainda cá puseram os pés, como algumas de outrora, muito menos tendo eu feito
qualquer tentativa nesse sentido. Enfim, a gente tem de desculpar os nervos dos
outros! (Aquilo deve também ser por causa das fotografias e posters
"imorais e contra os bons costumes". " Porcarias e palhaçadas",
como doutras vezes desabafou. (11)
Mas o problema é que o monstro acima referido não ficará no meu quarto. Vamos
deixar arrefecer o copo de água e quando a vozinha estiver menos agreste e o
olhar menos sofredor atacarei novamente, desta vez com um sorriso Pepsodent,
que doutro modo não vai a ilustre senhora. (MCG - 1973.03.13)
Os ares lá por casa andam tempestuosos. Começou já não sei
bem porquê, continuou no dia em que paguei a pensão e deve ter piorado ontem: o
João Luís e a Maria Antónia estiveram no meu quarto, à tarde, ouvindo música. A
D.Vitória não grama o João Luís e uma rapariga lá em cima - ai Jesus, credo,
que lá se vai o bom nome da minha casa! Para além disso o João Luís não tem o
mínimo sentido das conveniências, o que de modo algum serve para lançar água na
fervura. (MCG - 1973.03.20)
A Ermelinda veio cá este fim de semana, agora com o cabelo
castanho fulvo e ondulado, mais o seu ar imponente, majestoso, de quem se julga
e sabe boa (ou "sexy", que é o mesmo), de gato que brinca com o rato.
Tenho ganas de quebrar lhe toda aquela prosápia de mulher fatal. Mas, adelante.
(MMC - 1973.03.25)
Temos uma criada nova, a Ricardina, míope e vestida de
preto, com um ar submisso e tímido. O que não a impediu de pedir-me um casaco
velho para o pai. Não, foi a resposta. (12)
(MCG - 1973.03.30)
1º instantâneo da pensão de Évora
Ainda estou a mastigar a última talhada dum dos bolos que a
D.Vitória deixou naquela travessa, especialmente para o "menino", a
transbordar. Só lá ficaram umas poucas de migalhas: um tipo não tem nada que
fazer e nos intervalos do trabalho (muitos devem ser eles, não?) vá lá uma
trincadela! Ah! Ah! Ah! Pois é, a ilustre senhora foi de abalada para o Cano,
mai la sua sobrinha, mas o seu derradeiro gesto, à partida, comoveu me. (MCG -
1973.04.16)
11 º retrato do pessoal da pensão de Évora
Apareceu me hoje o Aristides lá pelo café; veio dos Açores
para fazer exame de Economia II. Penso que tenciona fixar residência no Porto.
Ficou hospedado na casa da D.Vitória, mais concretamente, no meu quarto.
Esperemos que não me chateie muito a molécula. Sou amigo dele, mas isso não
impede que me aborreçam algumas das suas tiradas. Reage, parece me, mais com
ressentimento do que sentido revolucionário. (MCG - 1973.07.04)
Quem vai entrar em compressão de despesas sou eu. A
D.Vitória, no próximo ano deixa de dar me comida (ela acha que eu sou muito
exigente e que não me contento com qualquer mistela) Assim, diz que me leva 500
paus pelo quarto e banhos. Com tratamento de roupas, 750 $ 00. Mas não me põe
cadeiras novas no quarto nem me substitui a rede do divã ("Venha a nós o
Vosso Reino"). Desabafou, desabafou, com a minha ingratidão. A conversa do
costume, e que ninguém lhe dissera, como eu ontem, que antigamente o serviço e
a comida eram melhores. Ai, como ela é minha amiga! Mas isso é lá à maneira
dela. (...) "Que eu só gostava de comer com quem me agradava. Que quando
era com as "senhoras" [D.Ilda e Teresinha] preferia comer
sózinho" (MCG - 1973.07.08)
A D. Vitória sempre pôs-me um colchão novo no divã. Sempre
terá valido para algo a minha conversata de há dias. (1973.07.15)
O Aristides foi-se embora hoje. Reprovou a Economia II. O
que não é de admirar, cada vez mais desnorteado que ele anda, inquieto e sem
rumo. (13)
(MCG - 1973.07.20)
Instantâneo do pessoal da pensão de Évora e da malta do
Arcada.
Podia falar te da tristeza sem sentido desta vida que levo.
Da necessidade de agarrar o presente com ambas as mãos. Do nenhum entusiasmo ao
avistar anteontem à noite as luzes de Évora. A viagem [de regresso da
Amareleja] foi rápida, com minutos de silêncio, outros de conversa animada e
outros de busca desesperada de palavras, no negrume da noite, com a estrada deslizando
sob nós, o rádio transmitindo música e as pontes aparecendo bruscamente na
curva da estrada, dois parapeitos brancos, esguios, varridos pelos faróis do
automóvel. Chegados ao burgo, deixada a Marília e [outro] em casa, foi a busca
dum lugar para estacionar. As aulas recomeçaram, mas ... quero ir me embora. É
quase uma obsessão. Évora e o Instituto não são apenas o negativo. Mas é ele
que sobressai. Obsessivamente. O Diogo e eu temos falado. Como dantes. Quanto à
Adélia ... tenho de dar lhe a desculpa dos seus quinze anos! Quanto à D.
Vitória tem me recebido com um sorriso bom. (14)
O sorriso que não tenho à minha volta nem dentro de mim. O Orlando tem feito
grandes estádios no meu quarto. Por causa da máquina de escrever. O Camilo lá
anda, com a verborreia do costume, um enorme trabalho de fim de curso (três
caloiros a trabalharem para ele). O Carlos [Nunes da Ponte] com a pacatez
habitual. O Guerreiro com os seus problemas, intolerável porque só descobre
defeitos e motivos de críticas a mim. Sou a válvula de escape dele. Muito lhe
deve aturar a Elvira! (MCG - 1973.11.20)
Descobri hoje que a Eglantina tem olhos verdes. Encontrei a
ali na Rua Nova, quando ia ao correio. Apanhámos uma frialdade por causa do
paleio. Falou-me nas "desventuras" da nossa amiga [Adélia] e na
desculpa que merecem os seus 15 anos. O que não impede que os "ares"
andem maus. (MCG - 1973.11.27)
12 º retrato do pessoal da pensão de Évora
Lá em casa houve mudanças. As miúdas passaram para o
"vosso" quarto [o das escadas para o terraço], no 2ºandar. Agora
passam o tempo lá em cima e - parece me - acabou o sossego, com subidas e
descidas constantes, a porta sempre abrindo e fechando, chamamentos do fundo
das escadas para cima. Esperemos que acalme.
Vindo da rua, deparei com a D.Vitória carregada com camas,
que ajudei a transportar escadas acima, enquanto ouvia um desabafo: "Muito
pena a gente para ganhar uns tostões!" Já ontem o Orlando me retorquira
"ora, isto vai mal!"quando lhe fiz a pergunta habitual: "Então,
sô Orlando, como vai isso?!" Referir se ia à sua "exclusão" do
2º andar? (MCG - 1973.12.04)
A Adélia [Guerreiro] agora passou ao outro extremo e anda
muito cumprimentadora e sorridente. (MCG - 1973.12.06)
No Café Parque
São 20:30; aqui estou [em Évora] no café Parque, um
bocadinho contigo, a televisão trabalhando e homens ao balcão conversando e bebendo
a bica. Ali a minha mãe faz as contas com a sra.D.Alice [Quaresma], das
refeições na messe [dos oficiais]. Estava eu aqui muito bem acabando o meu
jantar com o João Luís e o Guerreiro quando elas irromperam por aqui a dentro.
A Maria Antónia - penso que é o nome da cozinheira -muito delicada e
sorridente, "recebe as ordens". Sou levado a concluir que tem
qualquer preconceito contra os homens, pois nunca lhe ouvimos nem saudação ou
vislumbrámos um sorriso. (MCG - 1973.12.04)
(...) Lá em baixo no café Parque (a cozinheira anda muito
simpática. Até já me trata e ao Guerreiro pelos nossos nomes!) (MCG -
1973.12.06)
A malta do Arcada III
No Arcada o João [Garcia], a Filomena, o Camilo, o Zé Pinto,
o Ribeiro, o "Chinês" e o irmão cantavam em coro desde as
cantiguinhas da primária ("Ó Rosa, arredonda a saia", "Tia Anica
de Loulé"...) às excursionistas ("Santa Catarina",
"Rapsódia Portuguesa" ...) passando por cânticos gregorianos e pelos
coros alentejanos e canções da Beira Baixa. Enfim, uma grande audição, no café
cheio e entretido com outros assuntos. (15)
(MCG - 1974.02.11)
2º instantâneo da pensão de Évora
O quarto está gelado. Passei o fim de semana lendo umas
coisas de antropologia. Tenho os "conhecimentos" um tanto ou quanto
baralhados. A D.Vitória veio aqui há pouco trazer-me um doce e pêras de arroz
doce. Está uma simpatia de senhora! (MCG - 1974.01.03)
A D. Vitória levou me hoje ao quarto uma dose de arroz doce.
Ah!Ah!Ah! (MCG - 1974.02.16)
13º retrato do pessoal da pensão de Évora
A Adélia não está já em casa da D.Vitória - quando fora de
férias ia com armas e bagagens. Quanto ao Diogo - que passou a tarde no meu
quarto - disse me que vai também sair. Está nas mesmas condições que eu e paga
mais 50 paus que eu, i.e., 800 $ 00. (MCG 1974.04.17)
3º instantâneo da pensão de Évora
A D. Vitória levou me 500 paus pelo quarto em Agosto e 250
pela semana que estive em Setembro!!! Amigos, amigos, negociatas à parte. Diz
que a partir do momento em que estiver empregado passarei também a pagar o
armazém. Entretanto o [Custódio] Cónim ofereceu se para guardar a tralha toda
lá no monte do pai, em Évora Monte. (MCG - 1974.09.13)
A malta do Arcada IV
Passei pelo café onde encontrei o João Luís, a Filomena, o
Marçal. Fiquei contente por vê los mas já não é como antigamente. É como um
fósforo que logo se apaga. De resto o João Luís é muito infantil. A Filomena
manda cumprimentos e isso faz me lembrar que o mesmo fizeram o Manuel Gonçalves
(cada vez mais louco) e a mulher do Queiroga (reaccionária em questões de
namoros)
Évora é uma cidade estúpida. 6 meses de ausência (e se
calhar a saturação de 6 anos) fazem me ressaltar toda esta falta de dinamismo,
de interesse, de imaginação. É um encolher de ombros, um arrastar se pelos
cafés, um encostar se pelas paredes, um nada ter que fazer ou para onde ir. Uma
perfeita estagnação. (MCG - 1974.11.27)
2 -
A D. Vitória, em contrapartida, dizia que primeiro tinha que se provar que se merecia
a amizade.
3 -
Não sendo o Jorge afecto à situação, provocávamo-lo perguntando
o que faria se o mandassem carregar contra os estudantes do Instituto e seus
colegas caso houvesse agitação estudantil. Respondia que daria a volta a Évora
pelos caminhos mais compridos. Perante a nossa insistência - Então, e
se ainda não tivéssemos dispersado quando chegasses à frente da
cavalaria? Outro motivo de conversa eram as sessões
musicais no meu quarto, onde passava montes de malta, da casa da D. Vitória ou
do Instituto, para ouvir a minha discoteca. O Jorge aparecia sempre
empertigado, com um lote de discos dele debaixo do braço, para ouvir. Quando se
retirava, retirava-se com eles debaixo do braço, insensível aos nossos
comentários. Lá deixá-los, isso é que não!
4 -
O senhor D. Alexandre de Lencastre era entre nós conhecido pelo BIDON, porque a
família o baptizara como D. Alexandre de Lencastre, conveniente para o devido
tratamento numa república. Mas assim sendo, ele ficou a ser o Senhor D. D.
Alexandre de Lencastre! Se a história verdadeira é esta, não sei, mas lá que
era o que corria, disso não tenho dúvidas.
5 -
A Lídia, a quem se dirigia esta carta, era uma das nossas companhias num tempo
em que as meninas sérias não andavam com os rapazes nem iam ao café. Por isso
tinha má fama perante as boas consciências eborenses. Depois empregou-se nos
correios e entretanto nunca mais soube dela.
6 -
O senhor Marquês era um velhote, empregado bancário, que por problemas
familiares que não recordo teve de ir para Aveiro. Na tertúlia da casa da D.
Vitória era um pacato conversador, delicado, mas pouco sorridente, parceiro nas
partidas de cartas. Fisicamente fazia lembrar o David Niven, embora sem
bigodinho. Passado algum tempo soubemos que se suicidara.
7 -
Desde sempre e por princípio os rapazes, cada um com seu quarto e pagando mais
por isso, e as pessoas empregadas e mais velhas comiam na sala, que dava para a
cozinha, onde comiam as alunas do Magistério, que compartilhavam o(s)
respectivo(s) quartos, pagando individualmente menos de pensão. Na cozinha
comiam também a hospedeira e família.
9 -
O esquentador a gás encontrava se dentro da casa de banho, cuja janela dava
para um telhado sem vistas indiscretas. Contudo, ao contrário dos rapazes, as
raparigas cerravam sempre a janela, o que era perigoso quando os banhos se
sucediam uns aos outros sem que se arejasse o aposento. De modo que algumas
vezes lá havia uma miúda com princípio de intoxicação por monóxido de carbono.
À Vicência deu lhe forte e feio. Alertado pela barulheira no quarto ao lado da
casa de banho e do meu, lá fui, encontrando a D. Vitória muito aflita tentando
desatar o cordel que cerrava o postigo, para poder abrir a porta por dentro. Lá
fui buscar uma tesoura ou canivete, cortei o cordel, abriu se a porta e, oh!
céus, estava a Vicência inconsciente no lajedo e como Deus a pusera ao mundo.
Mandei que chamassem uma ambulância e entretanto fiz-lhe a respiração boca a
boca. Entretanto chegara a ambulância e a D. Vitória, escandalizada com a
nudez, queria à viva força que se levantasse a mulher, ainda inconsciente, para
vestir-lhe um roupão, antes de metê-la na maca. Irritado, disse à D. Vitória
que aquilo era o menos importante, pois com tanta delonga ainda a rapariga
morria. Oh! Deus, o que fui eu dizer! A Vicência levanta-se num repente,
descendo as escadas completamente nua, a caminho da ambulância pelo seu pé e
bramando: Não quero morrer! Não quero morrer!
11 -
As porcarias a que a D. Vitória se referia eram um poster com
um casalinho sentado junto a um muro e beijando-se, com o título O amor
é um pássaro azul no alto da madrugada. Outro era uma inocente
fotografia a preto e branco dum dorso feminino, das nádegas ao pescoço. Um
terceiro era uma fotografia retirada duma revista (Paris Match?), salvo erro
relativa ao Maio de 68 e mostrando jovens de ambos os sexos sentado no chão dum
modo descomposto. Enfim ... Não sei se também incluiria duas
fotos coloridas, uma expressiva do rosto da Liz Taylor chorando, do filme Quem
tem medo de Virgínia Wolf e outra relativa à guerra do Vietname, com
uma mãe chorando com o filho morto ao colo, talvez um guerrilheiro vietcong!
13 -
O Aristides era um açoriano "perdido" no Continente. Ex-seminarista,
como muitos nos cursos de Sociologia do ISESE, fizera a guerra colonial. Era um
revoltado, sempre contra a situação, mas tinha uma bonita voz a cantar. Não
aceitava as imperfeições dos outros e sempre ia dizendo que
nem sempre estava com o nosso grupo, mas como não se podia incompatibilizar com
todos, então nós éramos os menos maus. Nunca mais soube dele, salvo numa
notícia de jornal, post 25 de Abril, sobre uma manifestação do PRP-BR (Partido
Revolucionário do Proletariado - Brigadas Revolucionárias), lá no Norte, onde
aparecia o seu nome.
14 -
A nossa relação mútua sempre foi algo distante, talvez por não sermos muito
expansivos. Mas a verdade é que a D. Vitória me aturou algumas madurezas e
creio que me estimava. Sempre foram seis anos de convivência. Visitei-a algumas
vezes quando ia a Évora depois de sair de lá e telefonei-lhe algumas outras,
ficando contente por não esquecê-la. Morreu em 1998 e desse facto soube
acidentalmente pela Noémia, que me vai dando notícias dos nossos conhecimentos
comuns em Évora. A D. Vitória era solteirona, tal como os irmãos que com ela
viviam: o sr. Prates e, posteriormente, a D. Joana. Na pensão ficavam
sucessivamente os sobrinhos que do Cano vinham para Évora estudar, como o
Manuel, a Ermelinda e o Orlando.
15 -
Bem, por vezes dávamos outros espectáculos no café, quando a noite ia
adiantada, cujo programa era imitarmos vozes de animais, ao desafio!
2 comentários:
adelia disse...
Engraçado como após tantos anos e, por mero acaso, deparo
com este blog em que sou uma protagonista secundária ou se calhar...melhor
dizendo, figurante. Até receio perguntar como decorreram estes anos. São
tantos!Contudo gostaria de saber
Adélia Guerreiro
Victor
Nogueira disse...
Olá, Adélia :-)
Não sei se lerás estas linhas. Fiquei contente por te «ver»,
mas a hiperligação leva a lado nenhum, o que é frustante e uma «maldadezinha»
tua. Olha, se quiseres, escreve-me,tens nos meus blogs montes de endereços
meus.
Um beijo, mocinha. Eu agora, naturalmente, estou mais
velhote do que quando nos conhecemos. Mas gostava de saber de ti, da tua
família e da malta da Amareleja.
Bjo
Victor Manuel
2 comentários:
adelia disse...
Engraçado como após tantos anos e, por mero acaso, deparo
com este blog em que sou uma protagonista secundária ou se calhar...melhor
dizendo, figurante. Até receio perguntar como decorreram estes anos. São
tantos!Contudo gostaria de saber
Adélia Guerreiro
Victor Nogueira disse...
Olá, Adélia :-)
Não sei se lerás estas linhas. Fiquei contente por te «ver», mas a hiperligação
leva a lado nenhum, o que é frustante e uma «maldadezinha» tua. Olha, se
quiseres, escreve-me,tens nos meus blogs montes de endereços meus.
Um beijo, mocinha. Eu agora, naturalmente, estou mais velhote do que quando nos
conhecemos. Mas gostava de saber de ti, da tua família e da malta da Amareleja.
Bjo
Victor Manuel
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)