Um dia de praia em Luanda, éramos todos, sim todos felizes, todos juntos e misturados, sem distinção de raças como a imagem documenta.
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* Victor Nogueira
1. - A mim parece-me que a foto é uma "montagem", sendo de qualquer modo estranho que não apareçam mulheres nela. E ao contrário do que pretende Carlos Roque, que publica a foto com comentário seu (Um dia de praia em Luanda, éramos todos, sim todos felizes, todos juntos e misturados, sem distinção de raças como a imagem documenta), nesta vêm-se apenas ... "brancos", embora bronzeados.
1. - A mim parece-me que a foto é uma "montagem", sendo de qualquer modo estranho que não apareçam mulheres nela. E ao contrário do que pretende Carlos Roque, que publica a foto com comentário seu (Um dia de praia em Luanda, éramos todos, sim todos felizes, todos juntos e misturados, sem distinção de raças como a imagem documenta), nesta vêm-se apenas ... "brancos", embora bronzeados.
2. - Era considerado "natural" o patrão branco dar umas chapadas a um adulto negro ou levá-lo ao Chefe do Posto de S. Paulo, o Poeira, para apanhar umas reguadas de castigo. Nunca considerei isso "natural" e aceitável.
Quanto ao Posto da PIDE, esse era ao cimo duma Calçada que partia de perto do Baleizão até à Cidade Alta.
A esmagadora maioria dos angolanos não tinha direitos de. cidadania e estavam sujeitos ao Estatuto do Indígena, abolido em 1961, após o início da Guerra Colonial e em resposta aos Movimentos de Libertação (MPLA e UPA). Desde o século XVI e até 1954 às populações autóctones das colónias africanas portuguesas não era de facto reconhecida qualquer personalidade jurídica e civil, nem quaisquer direitos de cidadania. O Estatuto do Indígena estabelecido em 1954 fixava três categorias distintas: os "indígenas", os "assimilados" e os "brancos". A esmagadora maioria dos "indígenas" não sabia ler e escrever em português nem tinha possibilidades de frequentar graus de ensino para além do primário e muito menos prosseguir estudos universitários. A esmagadora maioria das populações eram os "indígenas", sem os direitos dos "assimilados", a escassa minoria que para tal e num país de brancos maioritariamente iletrados e analfabetos, tinha no entanto de provar a capacidade de se exprimire em Português, lendo e falando correctamente neste idioma, professar uma religião cristã, abandonando obrigatoriamente os costumes e o trajar tradicionais. Apenas a minoria dos descendentes destes podiam pois frequentar a rede escolar desde a escola primária até à Universidade, esta e até ao início da Guerra Colonial situada lá longe, em Portugal, no "Puto" . Para os restantes milhões restavam as escolas das missões católicas (portuguesas) ou protestantes (estrangeiras) e nenhuma possibilidade para além do ensino primário.
Em Angola havia brancos racistas embora se possa em não poucos casos falar-se mais correctamente em discriminação social e de classe. Em Angola não havia, de qualquer modo, um regime de apartheid como o da União Sul Africana. Havia de facto, embora nunca me tivesse apercebido disso, a caderneta de trabalho, diariamete assinada pelo patrão, sob pena do seu portado ser forçado a trabalhar nas "obras públicas"
E a Escola nada ensinava de Angola. Nos livros da Escola Primária, "únicos" e obrigatórios do Minho a Timor, apenas apareciam representadas pessoas brancas. Do que se "ensinava" falo no meu poema "Raízes", de que destaco:
(...)
Em Luanda nasci
Em Luanda vivi
Em Luanda estudei
Não Angola mas Portugal
Todos os rios e afluentes
Todas as linhas férreas e apeadeiros
Todas as cidades e vilas
Todos os reis e algumas batalhas
as plantas e animais
que não eram do meu país.
De Angola
pouco sabíamos
até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março
(...)
Quem soube na altura e quando soube dos Massacres de camponeses na Baixa do Cassange, em Janeiro de 1961, metralhados e regados a napalm [pela aviação portuguesa] ? Porque sucedeu isso, que durante longos anos foi silenciado ? Os ditos brancos "civilizados" foram ou não tão selváticos como semanas depois selváticos foram os massacres da UPA no Norte de Angola a partir do 15 de Março, contra os brancos e os Bailundos ? Passaria pela cabeça de alguém que a uma greve dos assalariados rurais alentejanos pelas 8 horas de trabalho ou por melhores salários o Governo de Salazar respondesse com napalm sobre as aldeias e montes do Alentejo ou metralhasse os camponeses brancos em fuga pelas estradas e campos do mesmo Alentejo ?
Na 4ª classe estudava-se a "história" de Angola num livrito onde tudo começava em 1482 com a chegada de Diogo Cão ao Rio Zaire ou Congo. Das personalidades gentílicas praticamente apenas se falava do Reino do Congo para além da Rainha Ginga e sobre o tráfico esclavagista nem uma palavra. Nem se esclarecia que o objectivo da esquadra de Salvador Correia em 1648 era o de restabelecer o tráfico esclavagista, em favor dos senhores do engenho no Brasil, ao qual Angola e Benguela deveriam ficar ligados, e não a Portugal. E nos níveis de ensino subsequentes apenas se estudava a história de Portugal e dos seus "heróis", desde a Pré-História, incluindo as vitórias sobre os "infiéis" ou "mouros" e os "espanhóis" de Leão e Castela.
De Angola ou das outras Colóniass, nem cheiro, salvo as vitórias sobre os povos autóctones, como em Ambuíla, que em 1665 ditou o fim do Reino do Congo, ou nas campanhas de ocupação e "pacificação" após a Conferência de Berlim (1884), de que Mongua (Angola) e Chaimite (Moçambique) eram "glórias" das Forças Expedicionárias Portuguesas. Nada se dizia sobre a secular resistência dos povos autóctones das Colónias, enaltecendo-se apenas a Batalha de Aljubarrota (1385) e a Restauração da Independência de Portugal face a Espanha em 1640 ou a resistência dos portugueses às Invasões Francesas no século XIX. [Dos verdadeiros feitos "heróicos" de Vasco da Gama ou de Afonso de Albuquerque no Oriente, de pirataria, saque, depredações e massacres e terrorismo sobre sobre indús e árabes, nem uma palavra, apesar de referidas nas Cartas para El-Rey e nos Diários daqueles "ilustres" antepassados e denunciadas já na altura por Fernão Mendes Pinto e Diogo de Couto, respectivamente em "Peregrinação" e em" Diálogo do Soldado Prático".]
Nos livros da Escola Primária, únicos e obrigatórios do Minho a Timor, apenas apareciam personagens brancos, com a única excepção do livro da 3ª classe onde aparecia uma única gravura com três crianças, todos rapazes: o "branco", de lacinho ao pescoço, e cabelos claros (louros ?), o "oriental" com traje "típico" e o "negro", de tronco nú e de tanga.
De Angola ou das outras Colóniass, nem cheiro, salvo as vitórias sobre os povos autóctones, como em Ambuíla, que em 1665 ditou o fim do Reino do Congo, ou nas campanhas de ocupação e "pacificação" após a Conferência de Berlim (1884), de que Mongua (Angola) e Chaimite (Moçambique) eram "glórias" das Forças Expedicionárias Portuguesas. Nada se dizia sobre a secular resistência dos povos autóctones das Colónias, enaltecendo-se apenas a Batalha de Aljubarrota (1385) e a Restauração da Independência de Portugal face a Espanha em 1640 ou a resistência dos portugueses às Invasões Francesas no século XIX. [Dos verdadeiros feitos "heróicos" de Vasco da Gama ou de Afonso de Albuquerque no Oriente, de pirataria, saque, depredações e massacres e terrorismo sobre sobre indús e árabes, nem uma palavra, apesar de referidas nas Cartas para El-Rey e nos Diários daqueles "ilustres" antepassados e denunciadas já na altura por Fernão Mendes Pinto e Diogo de Couto, respectivamente em "Peregrinação" e em" Diálogo do Soldado Prático".]
Nos livros da Escola Primária, únicos e obrigatórios do Minho a Timor, apenas apareciam personagens brancos, com a única excepção do livro da 3ª classe onde aparecia uma única gravura com três crianças, todos rapazes: o "branco", de lacinho ao pescoço, e cabelos claros (louros ?), o "oriental" com traje "típico" e o "negro", de tronco nú e de tanga.
Esta era a imagem "oficial" do Minho a Timor, embora quem vivesse em África soubesse que não era bem assim que se vestiam as pessoas não brancas.
comentário em Sanzalangola https://www.facebook.com/photo.php?fbid=201450793606755&set=gm.10153713583536035&type=3&theater
Os livros liceais de Botânica e de Zoologia apresentavam apenas espécimes de Portugal e em Geografia a maior parte do "livro único e obrigatório" era consagrado a Portugal.
As ilustrações acima, nos livros únicos e obrigatórios do Minho a Timor, que tinham a ver com a realidade que era a nossa em África ?
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)