* Victor Nogueira
(texto e fotos, excepto as imagens com livros)
Ontem o dia esteve soalheiro e as nuvens dariam interessantes fotos ao pôr-do-sol, mas não saí de casa. Hoje o céu esteve límpido e acabei por não sair pelo motivo que mais adiante será exposto.
Há pouco o carteiro entregou-me três livros de poesia remetidos pelo meu amigo Filipe Chinita e por ele autografados: "Do tamanho das nossas vidas", "a(s) mãos ambas sobre o corpo (d)o amor" e "deste temporal de (te) amar". Aprecio na sua poesia a contenção depurada e (quase) ascética com que se exprime.
Sem televisão por cabo não posso ver os canais FoxCrime, RTP Memória e FoxMovies, os que mais me interessam com a RTP2, mas apenas a TDT. No entanto desde há dias só consigo apanhar a RTP2, mas sem. possibilidade de ver em diferido senão os poucos programas da RTP Play, no computador. Mas mesmo isto foi à viola, pois a NOS cortou o acesso gratuito à Internet pelo hotspot, sem limite de tráfego - com alta velocidade, oferta de verão - e repentinamente passei a tê-lo empastelado, a 124 kb/s, o que me dificulta a edição dos blogs e os downloads ou uploads ou impede o visionamento de filmes e vídeos on line. Uma seca.
Para agravar de vez em quando fico sem acesso e sou redirecionado para comprar pacotes suplementares de acesso rápido. Como não estou para isso pois seria uma fortuna ao fim do mês, lá me restabelecem a ligação a ... 124 kb/s e assim ciclicamente. Para tornear este handicap "oferecem-me" acesso rápido XL pelo hotspot sem limite de tráfego mediante mais 15 € mensais para além do que já pago normalmente, o que não é pouco. E vivam a "democracia" e a "liberdade" que dizem ser a Web, com esta obrigação de subscrever outros serviços que não utilizo, a que não tenho acesso fora da minha residência habitual ou que não me interessam, tudo isto para ... engorda de tubarões.
No quintal tem sido tempo de arrancar a maioria das plantas, de podar a palmeira e de preparar a terra para as sementeiras que serão quando for a próxima Lua Nova. Preparava-me para sair, aproveitando o tempo soalheiro, deslocando-me a Vila do Conde ou mais adiante para tomar café com a menina da Póvoa. Mas de repente um cheiro incomodativo feriu a minha pituitária e apercebi-me que no campo defronte de mim começara a adubagem do terreno com água choca, isto é, com água das pocilgas, pelo que resolvi fazer a reportagem fotográfica da faina agrícola.
Uma tarde destas quando saí ainda o milheiral estava ali, mas quando regressei ao anoitecer já fora tudo colhido mecânicamente. Já não há desfolhadas, eiras e cantorias ou milho rei.
O milho verde, cantado por José Afonso ...
Milho verde, milho verde
Milho verde maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa
Milho verde, milho verde
Milho verde miudinho
À sombra do milho verde
Namorei um rapazinho
Milho verde, milho verde
Milho verde folha larga
À sombra do milho verde
Namorei uma casada
Mondadeiras do meu milho
Mondai o meu milho bem
Não olhais para o caminho
Que a merenda já lá vem
Os trabalhos hoje foram pois a adubagem do campo seguida da sua aragem, o depósito e o arado puxados por tractores, cada um com seu condutor, o ar empestado. O que me recorda as moscas, que aqui mais parecem carraças ou sarna, habituadas que estão ao gado, aparentemente imunizadas aos insecticidas domésticos. E desde ontem provocaram-me uma intensa comichão com três babas que me puseram no braço, aparentemente resistentes ao Fenistil e aos anti-histamínicos.. Nem tudo são rosas e doce lirismo nos bucólicos campos (en)cantados por poetas e poetisas.
E pronto, vou tratar do jantar, linguado grelhado com salada e sopa de legumes ali da horta do quintal. São servidos ? Ah! também há ainda um pedaço de bolo que me trouxe uma vizinha, que pela textura mas não pelo gosto supunha ser pão-de-ló mas me esclareceu que era bolo de folar.
Continuo a ler de Andrew Marr "História do Mundo", de que me falara o Nunes da Ponte um dia destes. É um livro escrito numa linguagem acessível e fluente, com alguns factos que desconhecia. Contudo, a despropósito, seja qual for o período da História, lá surgem referências aos crimes soviéticos ou de Estaline, para além de afirmar - ao tratar da Guerra Civil Americana - que se não fosse a chegada dos norte-americanos à Europa os "alemães" teriam vencido a Grande Guerra. Presume-se que se refere aos desembarques na Sicília e na Normandia, "esquecendo" as derrotas ds nazis em Estalinegrado e em Kursk, que essas sim, apressaram a intervenção do "amigo" americano. Está-lhes na massa do sangue o TINA (there is no alternative) para o capitalismo, mesmo que falem dos crimes e mortandades deste, para tentarem dar credibilidade "isenta" ao pró-capitalismo..
É como sucede também num outro livro que acabei de ler um dia destes - "As decisões mais inesperadas da História" - de Luc Mary (cuja capa já é por si mesma elucidativa), que começando na Antiguidade com a Grécia, Roma e Cartago, lá vem com descarados anti-comunismo e anti-sovietismo ao abordar episódios do séc XX. Mas como a obra de Andrew Marr está a ser distribuída em volumes semanais, tenho de aguardar para verificar como nela será abordado o século XX.
OS TRABALHOS NO CAMPO DE MILHO
1. Antes e depois da colheita
2. - Adubagem
3. Aragem
(nas fotos acima vê-se em duas "folhas" o campo que está estrumado e o que não estava ainda)
4. - Fim dos trabalhos
A desfolhada em Lumiares (Armamar), com trilha sonora do poema de Ary dos Santos, A "desfolhada portuguesa", interpretada por Tonicha, causou enorme escândalo em 1969, ao vencer o Festiva da Canção da RTP. musicado o texto de Ary por Nuno Nazareth Fernandes
Corpo de linho
lábios de mosto
meu corpo lindo
meu fogo posto.
Eira de milho
luar de Agosto
quem faz um filho
fá-lo por gosto.
É milho-rei
milho vermelho
cravo de carne
bago de amor
filho de um rei
que sendo velho
volta a nascer
quando há calor.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Minha raiz de pinho verde
meu céu azul tocando a serra
oh minha água e minha sede
oh mar ao sul da minha terra.
É trigo loiro
é além tejo
o meu país
neste momento
o sol o queima
o vento o beija
seara louca em movimento.
Minha palavra dita à luz do sol nascente
meu madrigal de madrugada
amor amor amor amor amor presente
em cada espiga desfolhada.
Olhos de amêndoa
cisterna escura
onde se alpendra
a desventura.
Moira escondida
moira encantada
lenda perdida
lenda encontrada.
Oh minha terra
minha aventura
casca de noz
desamparada.
Oh minha terra
minha lonjura
por mim perdida
por mim achada.
As picadas das moscas continuam a incomodar-me com prurido e comichão ou coceira e só um grande esforço me impede de coçar o braço até ficar em chaga. "Verdes são os campos / da cor do limão / ... " e blá blá. Antes "A Mosca", suplemento humorístico do extinto Diário de Lisboa mais as Redacções da Guidinha e os Cartoon de João Abel Manta.. Ao menos divertiam-nos e despertavam riso e bom humor.
EM TEMPO - No alto da serra, lá no cimo da montanha, encerrada, Penélope continua a desfiar de noite a teia que de dia não fia ! Não haverá madrugada de nevoeiro que a descerre e nos valha em alvoreada alvorada?
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
José Afonso em Canto Moço ou ...
Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamosÀ procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
a sesta, de van gogh
salvo a "Teia" e "Antes e depois da colheita", as fotos foram tiradas em 2016.10.25 / 26
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)