sábado, 12 de novembro de 2016

sobre a reutilização de manuais escolares contra a corrente do "use e deite fora"



* Victor Nogueira

Percebe-se que a Porto Editora e a Leya  defendam a sua galinha dos ovos de ouro que são os manuais escolares. È comovente a sua preocupação pelo eventual encerramento de 1 600 livrarias locais e independentes,  “um sector de actividade fulcral para a economia do conhecimento”. Os dois gigantes preocupados com a "economia do conhecimento" (sic) e com a "sobrevivência" de 1 600 livrarias "independentes" ? Há quem seja ingénuo para neles acreditar ? Acreditar em oligopolistas que fazem do ensino e da educação negócio ? Oligopolistas que guilhotinam livros e literatura em armazém em vez de "oferecê-los" à comunidade ?

Mas as questões que eu levanto são outras. Uma coisa é a partilha de livros, seja pessoal, seja pelo acesso a bibliotecas públicas ou escolares. Ou, vá lá, disponibilizando e-books. Outra é a descartabilidade. Um livro, seja ou não de estudo, é de uso pessoal, faz parte ou poderá fazer parte duma biblioteca pessoal, Um livro é ou poderá ser algo que se estime ou venha a estimar, que se usa ou a que se aceda sempre que necessário. Para reler ou para relembrar. Para consolidar conhecimentos. Para fruir do prazer da leitura e do saber. Ou para partilha voluntária e solidária.

Mas para a PE e a Leya (cujo negócio é  acumular cifrões) ou para o Governo isso é irrelevante. E parece-me que em nome da "igualdade" e da "democracia" o que a medida do Governo introduz é uma nova fonte de discriminação: para uns, os "carenciados", livros com marcas de uso, para outros, os "privilegiados", livros novos que a bolsa  dos papás pode suportar. 

Entre o  "livro único" e o livro "usado"  não haveria outras medidas que o Governo pudesse implementar que facilitassem o acesso dos estudantes do ensino obrigatório ao contentamento e à cultura, conjuntamente com o "amor" aos livros ? Contra a corrente do "use e deite fora" ?

 

Porto Editora e Leya bloqueiam acordo sobre reutilização de manuais


A expectativa era que do grupo de trabalho saísse um relatório com recomendações sobre a implementação concreta da reutilização dos manuais em toda a escolaridade obrigatória.

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/porto-editora-e-leya-bloqueiam-acordo-sobre-reutilizacao-de-manuais-1750813

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)