Mário Soares por Júlio Pomar
* Victor Nogueira
Desde 1969 até hoje as minhas barricadas e as de Mário Soares foram muitas vezes opostas ou antagónicas. Na chamada Primavera Marcelista eu apoiei as CDE, que aglutinava a maioria da oposição ao fascismo, e ele cindiu a Oposição com as CEUD.
Em 11 de Novembro de 1975 eu continuava a apoiar o MPLA, tal como desde 1962, mas ele estava noutra barricada.
Em 1976 e pelo I Governo Constitucional do PS/Mário Soares/Cardia, tal como muitos professores, sofri o meu 1º saneamento, por razões estritamente políticas, seguido dois anos depois pelo despedimento /desemprego / subemprego.
Em 1986 o PS venceu as eleições autárquicas em Setúbal e com muitos trabalhadores sofri novo saneamento por razões estritamente políticas, ao mesmo tempo que sem engolir sapos votei Soares para derrotar Freitas do Amaral. Não fui despedido porque o meu vínculo de trabalho não era precário, mas vontade não faltou ao PS.
Ao longo de 47 anos só conjunturalmente as minhas lutas coincidiram com as do PS e de Soares. O "socialismo em Liberdade" que ele defendia é este, aquele em que estamos, resultante do 25 de Novembro de 1975, das "privatizações" de sectores estratégicos da economia nacional, incluindo a banca (os BANIF, os BPP, os BPN, os BES,os BCP, os BPI ...), das "troikas" e do FMI, do desemprego e do trabalho sem direitos e precário.
Fora das reportagens, dos noticiários e dos debates na TV só vi Soares uma vez. Uma noite descia com a minha companheira o Campo Grande em Lisboa quando o vislumbrámos à porta de casa de camisa desfraldada, descontraído, camisola atirada para as costas segura pelo indicador direito, enquanto o motorista retirava da bagageira caixotes de garrafas de vinho. Parámos brevemente à esquina apreciando a cena enquanto o polícia de guarda à residência nos olhava manifestamente sem saber o que fazer se estivéssemos ali para atentar contra Soares. Seguramente não saberia o que fazer. Rimo-nos com a atrapalhação do polícia e calmamente continuámos a descida do Campo Grande até ao local onde deixáramos estacionado o automóvel.
Para um leitor atento e para quem tenha uma vida de luta social e política iniciada anteriormente a 1969, o retrato de Soares, de corpo inteiro, feito por ele próprio, está na alentada entrevista em 3 volumes que deu a Mª João Avillez, em que reescreve a história do modo que lhe convém, com ele como centro do mundo.
Sérgio Godinho e a "Liberdade"
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
habitação
saúde, educação
Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
habitação
saúde, educação
Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
habitação
saúde, educação
Subscrevo o teu brilhante texto, Victor!
ResponderEliminarMaria João