Estive em Fátima com a minha mãe cerca de 1950, tinha eu quatro anos de idade, e do que me lembro é dos lamaçais e de pessoas arrastando-se de joelhos ou de bruços pelo chão. E creio que também da Capela das Aparições, então modesto edifício, para além de canos verticais com torneira donde pingava ou corria água. Deveria ser inverno e era cinzento o dia, negras as vestes das penitentes. Voltei lá apenas duas outras vezes, como turista, em 1963 com familiares (1) e em 1966 com a minha mãe e o meu irmão, mas não nos anos 90 do milénio passado (2), sempre fora dos "ajuntamentos" e das peregrinações. Mas na realidade as devoções e os "intercessores" a que a minha mãe recorria eram o Menino Jesus de Praga, Santo António (para os objectos perdidos) e N. Sra da Conceição, de todos estes tendo as respectivas esculturas em imagens de qualidade.

O Inferno, autor português anónimo (1510 / 1520) MNAA
Nas minhas deambulações e pelas minhas leituras deparo com inúmeros "santuários" erguidos em locais que naquele tempo de escassa população eram brenhas ou matagais, caminhos inóspitos, onde um devoto ou um sacerdotes milagrosa e surpreendentemente encontrara uma "imagem" em torno da qual se erguia uma mais ou menos "rendosa" devoção, com mais ou menos animadas e concorridas feiras e romarias. (3)
Andou a Igreja Católica aterrorizando os seus fiéis com o fogo do inferno, as pessoas picadas por diabos com chifres e pés de bode, mergulhadas em caldeirões de óleo ou azeite a ferver, para depois um dos Papas devotos de Fátima proclamar que "aquele" Inferno não existe-

Andou a Igreja Católica atemorizando com o 3º Segredo de Fátima, talvez prenúncio do Apocalipse, para depois o mesmo Papa o centrar em si mesmo como água chilra.
Perdidos naquelas ásperas e desoladas serranias, embrutecidos e analfabetos, não conhecendo do Mundo senão o escasso território de alguns quilómetros em redor, sabiam lá os "pastorinhos" que havia um País chamado Rússia, semi-feudal, governado por um Czar tirânico e devoto duma "falsa" religião, a cristã do rito ortodoxo. (4) A grande preocupação era o fim da Guerra, a I Grande, com o regresso de dezenas de milhares de camponeses analfabetos perdidos ou mortos lá longe, nas lamacentas trincheiras em França, como em Portugal de lés a lés atestam as lápides com os filhos da terra la longe falecidos. As preces pela "conversão" da Rússia revolucionária, bolchevique e ateia - cuja Revolução ainda não ocorrera no intervalo das chamadas "Aparições" - são uma "construção" mistificatória e manipulatória articulada com a aliança entre Salazar e Cerejeira, em benefício do Capital e contra os Trabalhadores..


Andou a Igreja Católica atemorizando com o 3º Segredo de Fátima, talvez prenúncio do Apocalipse, para depois o mesmo Papa o centrar em si mesmo como água chilra.
Hieronymus Bosch - pormenor do tríptico "O Jardim das Delícias" (sec XV / XVI) MNAA
Perdidos naquelas ásperas e desoladas serranias, embrutecidos e analfabetos, não conhecendo do Mundo senão o escasso território de alguns quilómetros em redor, sabiam lá os "pastorinhos" que havia um País chamado Rússia, semi-feudal, governado por um Czar tirânico e devoto duma "falsa" religião, a cristã do rito ortodoxo. (4) A grande preocupação era o fim da Guerra, a I Grande, com o regresso de dezenas de milhares de camponeses analfabetos perdidos ou mortos lá longe, nas lamacentas trincheiras em França, como em Portugal de lés a lés atestam as lápides com os filhos da terra la longe falecidos. As preces pela "conversão" da Rússia revolucionária, bolchevique e ateia - cuja Revolução ainda não ocorrera no intervalo das chamadas "Aparições" - são uma "construção" mistificatória e manipulatória articulada com a aliança entre Salazar e Cerejeira, em benefício do Capital e contra os Trabalhadores..
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(1) De Fátima recordava-me do chão enlameado e da Capela das Aparições.A Basílica é bonita. Vi também os moinhos de vento, mas só de longe. (NSF - 1963.09.04)
(1) De Fátima recordava-me do chão enlameado e da Capela das Aparições.A Basílica é bonita. Vi também os moinhos de vento, mas só de longe. (NSF - 1963.09.04)
Rezam os catrapácios e uma lenda local que o topónimo Fátima seria o nome duma jovem moura raptada por um cristão que, ao baptizar-se, teria adoptado o nome de Oriana, donde provém o nome de Ourém, sede do município. Aqui, nesta região desolada, sobre uma azinheira e por vários meses, em 1917, a Virgem Maria teria aparecido a três pastorinhos, o que deu origem ao enorme santuário e a peregrinações de gentes de todo o Portugal e mesmo do estrangeiro. Lugar de peregrinação cristã e católica, em polémica recente deram conta os jornais de pretensões para que viesse a ser também um local de peregrinação e devoção maometanas. (Notas de Viagem, 1997)
Falando como o senhor de La Palisse diremos que de Lisboa ao Porto podemos ir utilizando variadíssimos meios de transporte: barco, avião, comboio, automóvel...
Falando como o senhor de La Palisse diremos que de Lisboa ao Porto podemos ir utilizando variadíssimos meios de transporte: barco, avião, comboio, automóvel...

Foto Victor Nogueira - Em Fátima 1963
(2) Fátima - Povoação muito desenvolvida com prédios altos. Edifício do Exército Azul, nas trazeiras da Basílica, com cúpulas que parecem minaretes. Deste local uma outra visão do Santuário, vista a torre sineira de trás.
Duas rotundas amplas cada uma com enormes conjuntos escultóricos sobre os pastorinhos. Não fui ao santuário e não sei se ainda restam as pequenas casas brancas vendendo inúmeros adereços religiosos que a minha memória guarda.(1998.09.11)
Duas rotundas amplas cada uma com enormes conjuntos escultóricos sobre os pastorinhos. Não fui ao santuário e não sei se ainda restam as pequenas casas brancas vendendo inúmeros adereços religiosos que a minha memória guarda.(1998.09.11)
(3) Numa visita que fizemos à Sé da Guarda, saímos ao mesmo tempo com o pároco e o sacristão, este atravessando o largo ajoujado com grande saco com as moedas acabadas de recolher das caixas das esmolas. Quem controla os rendimentos deste tipo, ~recolhidos nos templos e santuários católicos, sem esquecer organizações como a "Remar" ou os "Emaús", que fogem aos impostos e são passíveis de poderem ser "lavandarias" de dinheiro ?

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)