quinta-feira, 17 de agosto de 2017

José Luandino Vieira em Os Papéis da Prisão

* Victor Nogueira

Pois ...Mas também marcante na minha adolescência foi o início da Guerra Colonial e a desmistificação  da multirracialidade com os massacres  - indiscriminados - em Luanda post  4 de Fevereiro, em que o Outro, com outra cor de pele, era, para as "milícias" e liminarmente  o inimigo a abater. Sem esquecer a difusão das ideias e dos propósitos do MPLA. a que não poucos de nós aderimos, como simpatizantes ou como militantes.

Naqueles tempos de adolescente também me determinaram livros como Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer (nas aulas de OPAN consegui que a professora concordasse que o nazi-fascismo e o corporativismo eram semelhantes),  A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe  ou o Diário de Anne Frank.

 para 


À partida, tanto quanto posso recuar no tempo, a questão política está antes de começar a escrever. Ainda no liceu, quando fazíamos escolhas para jogar futebol,já fazíamos escolhas políticas. Eu lembro-me que só tive três colegas negros em cento e tal alunos. Mesmo assim quando fazíamos as escolhas para jogar pequenos jogos de futebol, ficávamos juntos, de um modo geral, por exemplo, Gentil Viana, Iko Carreira, na mesma equipa e os outros ficavam noutra equipa. Era uma escolha. Não percebo como, porque é aquela escolha em que se põe um pé à frente do outro, até que quem pisa escolhe primeiro… No fim dávamos conta que eram quase sempre os mesmos na «nossa» equipa. Numa dada altura, com 15/16 anos, houve um clivagem entre os que, na Mocidade portuguesa, escolheram ir para a milícia, para a parte mais militarizada, e os que escolheram ir para os desportos náuticos. E aí nós dividimo-nos. Depois fui-me dando conta da realidade com a leitura dos russos: Gorki, Turguêniev, Techkhov, Dostoievski… só depois Tolstoi… o melhor veio pela literatura.
José Luandino Vieira em Os Papéis da Prisão
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Os três "manos" - Luanda 1951

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)