quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Em torno duma entrevista a Francisca Van Dunem



* Victor Nogueira

Por acaso encontrei no Facebook um post com parte duma entrevista da Van Dunem e fui relê-la, daí resultando esta publicação de hoje em https://daliedaqui.blogspot.pt/2017/12/angola-e-francisca-van-dunem.html

Os Van Dunem e os Van der Kellen eram de cor e descendentes dos holandeses que de 1642 a 1648 ocuparam Angola, com excepção do presídio de Massangano, onde se acantonou a resistência portuguesa. A ocupação de Angola tal como a do Brasil pelos holandeses  destinou-se a controlar o lucrativo tráfico de escravos de Angola para o Brasil e Antilhas Holandesas, o que é tema dum romamnce do escritor angolano Pepetela, "A  Gloriosa Família", aqui resumido  em http://www.passeiweb.com/estudos/livros/a_gloriosa_familia.


Ao ler este artigo reparei no termo "matulo", que na altura designava os holandeses. Talvez daí derive o termo "matulão/matulona", que em Luanda era o que se chamava aos rapazes/raparigas muito crescidos/as. Alguns dos Van der Kelen  e dos Van Dunem foram meus colegas no Liceu e um deles, com o Nito Alves e a Sita Vales, próximos da URSS,  foram mortos com muitos outros militantes do MPLA em 27 de Maio de 1977, na sequência duma revolta contra a linha política doutra facção do MPLA, a que governava.

Outro "glorioso" foi Salvador Correia de Sá e Benevides (patrono do Liceu de Luanda), proprietário de engenhos de açúcar no Brasil e capitão da Armada financiada pelos outros senhores dos engenhos e das roças em terras de Vera Cruz, com a finalidade de expulsar os holandeses e retomarem o controle do tráfico de escravos. Na altura pretendiam eles que os Reinos de Angola e de Benguela (Luanda e Benguela eram entrepostos esclavagistas) ficassem ligados ao Brasil e não a Portugal, mas a burguesia angolana envolvida no comércio de escravos opôs-se porque sairia a perder no negócio e preferiu continuar ligada a Portugal.

Mas voltando à Van Dunem, é como ela diz, naquele tempo cursos eram os de Engenharia ou Medicina (mas também Direito), o resto era para os nossos pais perder tempo. O meu pai decidira que eu iria para Engenharia Civil (embora eu preferisse engenharia electromecânica ou geofísicas) uma "dinastia" familiar na área da Construção Civil e Obras Públicas Como eu queria sair de casa dos meus pais mas o meu pai disse-me que não me pagava Engenharia em Portugal pois havia tal curso em Luanda, na recém criada Universidade de Angola. Assim, decidi  escolher  um curso que não houvesse em Angola, Economia (porque tinha disciplinas de que eu gostava: Matemática, História e Geografia.

Quanto ao meu irmão caçula, o meu pai decidira que seguiria Arquitectura, como arquitecto  era o nosso  tio paterno, Contudo, quando anos depois se suicidou em Lisboa, frequentava medicina, depois dum para ele traumatizante serviço militar obrigatório em Angola.

Apoiaram-me na minha decisão +o médico daa família 8zo Dr. Amílcar Martins e amigos da família, incluindo o reitor do Liceu  Salvador Correia (Dr. Armindo Gonçalves), os quias convenceram o meu pai que era um curso de futuro e ele acedeu, contrariado, mas durante muitos anos quase deixou de falar comigo. E quando desisti de Economia e mudei para Sociologia, o meu padrinho de baptismo,  em Lisboa em vão tentou contrariar-me, dizendo que isso do "comunismo", só causava problemas e  era uma ideia ultrapassada e sem futuro. No tempo de Salazar Sociologia estava na lista negra, considerado como um curso subversivo, e a única escola em Portugal era a dos Jesuítas, em Évora.

Quanto à casa onde morávamos, na Praia do Bispo, ainda existe, mas o bairro já não é o mesmo e deixou de estar à beira-mar devido ao assoreamento da baía defronte, entre a marginal e a Ilha.

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