sexta-feira, 18 de maio de 2018

Acampamentos na Ilha do Mossulo em 1961 e em 1962

* Victor Nogueira

Em 1961 o Colégio Cristo-Rei, dos Irmãos Maristas, onde estava matriculado, organizou nas Férias de Natal um acampamento na Ilha do Mossulo, a Sul de Luanda, no âmbito da Mocidade Portuguesa, que foi objecto duma reportagem na Revista de Angola e a que me refiro também em correspondência epistolar minha da altura.






"Fizemos um acampamento na ilha do Mossulo, nas férias. Gostei imenso da vida ao ar livre e lamento não ter tomado parte noutros acampamentos. Levantávamo-nos entre as 6:00 e as 6:30. Como era o primeiro a acordar, na minha barraca ( ) acordava os meus três companheiros. Até às 7:00 havia missa, às 8:00 mata-bicho ( ). Até às dez passeávamos, depois tomávamos banho [na praia] e às 13:00 almoçávamos. Às 17:00 tornávamos a tomar banho e em seguida lanchávamos. Por volta das 19 horas era o jantar e às 21:00 a "chama" ( ). Finda esta, deitávamo-nos.

A ronda era feita pelos Irmãos [Maristas]. O tempo corria calma e alegremente. Pena é que fossem só quatro dias. Na "chama" houve números muito bons. Contavam-se anedotas, cantava-se e, no final, após as exortações do capelão militar, senhor alferes Alexandre, guardava-se um minuto de silêncio. [o irmão director. José Hermeto, interpretou canções do folclore brasileiro]. Formou se uma orquestra, com vocalista, reco-reco, tambor (um caixote), pandeiretas, ferrinhos, castanholas e uma garrafa e uma faca (instrumento musical inventado por nós).

O capelão cantava bem. No último dia estiveram lá uns brasileiros, entre eles o vice-cônsul do Brasil [muito brincalhão], que animaram a "chama" com as suas anedotas." (CS - 1962.01.15)

"Gostei bastante dos dias que passei no acampamento. Passámos uns dias alegres e em franca camaradagem. (...) Na última noite os pretos que foram connosco fizeram uma batucada e se os deixassem seriam capazes de batucar a noite inteira. (...) Os únicos "senões" foram os mosquitos, os meus braços pareciam uma planície com montes, e os caranguejos. 

Na minha barraca nunca apareceu nenhum, a não ser na última noite, mas esse deve lá ter sido posto. Já estávamos deitados quando um dos meus companheiros de barraca gritou "um caranguejo!" Agora imagine-se três pessoas levantarem-se e tentarem sair da barraca ao mesmo tempo, por uma porta estreita. Por fim lá conseguimos sair daquele inferno. Lá dentro só ficou o quarto rapaz, que, acendendo a lanterna, se pôs a perseguir o caranguejo com uma machadinha. Subitamente ouvimos um berro e pensámos que o caranguejo lhe tivesse mordido. Nada disso, ele é que o tinha morto, celebrando a "passagem de mundo" daquele perturbador do nosso descanso. 

Uma noite duas barracas ruíram uma "cónica" e outra "canadiana". Os donos da "cónica" - três alunos – ergueram-na. Mas o irmão [marista] a quem pertencia a canadiana teve de dormir ao relento, pois não sabia montá-la e nenhum se ofereceu para ajudá-lo. Foi bem feito, pois ele durante todo o tempo que durou o acampamento distinguiu-se sobremaneira pela sua atitude antipática. " (MLF - 1962.02.01)

NOTA - Na 1ª foto o escriba e o Victor Marques. Na 2ª foto, na fila para o rancho, o escriba de costas, identificando-se da esquerda para a direita - Irmão Hermeto e os estudantes  Lemos, Gilberto, Sampaio e César

Tome parte, pela 1ª vez, num acampamento na Ilha do Mossulo. Na barraca nº 1, além de mim, ficaram o Victor Marques (comandante de castelo), o Alberto Lemos e o Zé Augusto, todos do 5º ano, menos este último, que era do 4º ano. O chefe da barraca era o Victor Marques. Havia missa campal todos os dias. Comunguei. À noite havia a "chama", com números humorísticos e musicais (improvisou-se um conjunto). [27 a 31 de Dezembro de 1961] (Diário III, páginas 10 / 11)

A Reportagem na Revista de Angola



Páscoa de 1962 - 2º acampamento em que tomei parte, desta vez com os alunos do Colégio D. João II - Fiquei na barraca com o Zé (meu irmão), o comandante de castelo e o clarim. O acampamento foi na Ilha do Mossulo, num fim de semana, mais ou menos no local do anterior. (Diário III, páginas 11 / 12)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)