sexta-feira, 14 de setembro de 2018

d' Os poemas intemporais

* Victor Nogueira
(texto e fotos)



Numa clara madrugada, haverá Novas Cartas a Penélope, ou a Faia Maria ?. A encruzilhada é um areal, um pântano, faz que anda mas não anda, num caminho de cinzas e de flores esmaecidas por onde os rios correm sinuosamente, Num balançé entre o sim e o não,  signos sem poesia para lá das de metáforas, baças e opacas. Nada de novo surge dos escaninhos do presente, na maioria plenos apenas palavras - mais ou menos desalinhadas - plenas de ar e vento. São palavras, apenas palavras  Que caminhos se abrem no horizonte para João Baptista Cansado da Guerra ? Que chaves e claves trazem as aves, que não sejam caves ? Estão pois adormecidas as palavras. Quem as despertará  e as libertará na concha do  seu olhar?





É bom ter quem afague nossa  vida

É bom ter quem afague nossa  vida,
Por nós espere e faça companhia,
Ajudando, sem dor ou gritaria,
Ambos na cozinha, com sua lida,

É bem não andar só, em má corrida,
Ver o cinema e ter cantoria,
Viajando em paz pelo dia-a-dia,
Sem pranto nem a  cabeça perdida.

Mui gostoso é ter uma presença,
Com pele doce, suave, morena,
Sonante, sensual, maliciosa,

Como a da mui linda, bela Princesa,
Trazendo o sol e a lua, serena,
Com o canto e o riso duma rosa.

Setúbal 1989.09.10


Sentir

Sentir
............. o veludo
........................... da voz
............. o calor
........................... do sorriso
............. a fragrância
........................... do olhar
 .............o encanto.
 ...........................da alegria
 Libertar
 .............os gestos
 .............o silêncio
..............o riso
 .............as lágrimas
 Dizer
 .............amor
 .............camarada
..............amiga
..............companheiro


Setúbal 1985.07.15


 NOTÍCIAS DO BLOQUEIO - I

 Do Victor Manuel para alguém, saudações

 Não as notícias do meu amigo
 mas apenas um aceno
 entre a espontaneidade e a reserva
 com maior ou menor lucidez e serenidade
 neste deserto mais ou menos florido
 neste caminho quotidianamente (des)feito
 .
 por entre os farrapos das alegrias
 ..................................dos sonhos
 ..................................das imaginações
 por coisa nenhuma
 um apelo
 um gesto
.....................apenas
 uma simples palavra
 Olá amiga!
.
.
Setúbal 1985.08.11



Notícias do Bloqueio - II

Estão suspensas as palavras
Proibidos os gestos
de ternura, amizade e amor.
O silêncio invade as ruas
entra nas casas
senta-se à mesa da gente.
Que sentido tem dizer
amor
amiga
camarada
companheiro?
Que sentido tem
abrir as mãos e os olhos
e perguntar qual o significado do
que vemos, ouvimos, entendemos e sentimos?
Gaivotas loucas, alvoraçadas, enchem os ares
de movimento e ruído.
Enquanto a vida escorre pelos dedos
indiferente
medíocre
submissa.


Setúbal, 1985.10.02 


FLOR DO MAR sem GUARIDA   

 1. É bom ter
quem nos afague e faça companhia
e nos diga:
olá, bom dia
com alegria e fantasia.

2. É bom ter quem nos aguarde
uma casa aberta
onde o fato não aperta
riso pleno de sol e mar
sem noite em noite de luar!

3. É bom pensar em ti
como nave que sorri
na brisa do meu olhar.

4. É bom falar-te sem dor
com valor, satisfeito
perfeito,
uma flor.

5. É bom estar contigo
num passeio sem receio
com amizade
ternura de permeio.

6. É bom que os gestos não sejam novelo
enleado, em atropelo,
e que as palavras não sejam punhal
quando me recebes mal!

7. Este é um fraco poema
pobre teorema
rima que não rema
perdida na tua calema!

Paço de Arcos // Lisboa 1991.04.05



O AMOR É BEM QUE SUAVIZA
A tua presença na minha casa
Enche o ar de color e alegria,
Arte, doce, terna, bela magia;
Assim meu coração ganha outra asa.

Cozinhamos o pão que não esfria,
Brincando, procuramos boa vaza
P'ra espantar a tristeza, que arrasa
Rio, danço, com tua cantoria.

Com tua feição nos vasos pões flor
 A tudo dando vida e bom sabor;
 Caricio teu corpo, os teus lãbios,

Afago teu rosto, aparto as dores;
A rua, plena de sol e louvor,
É verde planura com riso dos sábios.

Setúbal, 1989 Setembro.05


O que amo em ti e a vica


O que amo em ti é a vida

são os campos, as encostas verdejantes

a cidade, os carros que passam

os animais, as plantas e as árvores

as montras iluminadas e coloridas

a chuva na vidraça ou no rosto

o sol, o mar, a brisa

o cheiro a maresia

o perfume das flores

.

O que amo em ti é

a verdade

a ternura amor que entre nós é

a camaradagem

o andar que percorre o corpo

sem segredos nem esconderijos

a novidade aventura

o frémito, o prazer, a paz

.

Somos milhares somos milhões

...........pelas estradas e pelos atalhos

...........pelos campos e pelos pinhais

...........pelas ruas e pelos becos

na cidade dos homens

................ombro a ombro

................frente a frente

................lado a lado

desencontrados

.


1982.01.16 Setúbal




FOTOS em Beringel (aves ao  pôr-do Sol)
Mindelo (a teia da aranha)
Setúbal (Pôr.do-sol e O homem da bicicleta)
Sesimbra (A resistência da árvore)
Cela (Coutos de Alcobaça, na Herdade que foi do General Humberto Delgado) - Por-do-sol

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)