* Victor Nogueira
LIBERDADE
A felicidade tem o travo amargo
..................de tudo aquilo que é finito
e no entanto distingo
..................por entre a multidão
o teu rosto alegre e o teu ar sereno!
Nas tuas mãos e nos teus dedos
.......................nasce uma criança
que sorri e corre dentro de mim
Em silêncio junto as palavras
................percorro o teu corpo
................flexível e moreno
Um rio enche a casa com o murmúrio de mil candeias
enquanto ouço e reconheço os teus passos
Rio, choro e bailo contigo
quando assomas à porta e
..........busco o veludo dos teus lábios e do teu rosto.
Reparto contigo o pão sobre a mesa
e bebemos o vinho da esperança
Tudo tem agora outra qualidade
.........................a qualidade do trigo em flor
...........................................da brisa incandescente
...........................................da sombra refrescante
...........................................do sol sem ardor
E no entanto
para lá deste dia
moram o medo, a fome e a solidão
quando tu não estás.
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Todo o dia esperei por ti
.................alinhando o tempo em banho-maria
.................num fervilhar lento e calmo
submergindo a ebulição do meu sentir e pensar
Todo o dia tratei dos meus assuntos
................paguei as contas
................comprei livros
................passeei pela cidade
................temperei os bifes e trouxe o gelado
Todo o dia guardei em mim as mil-palavras
................«expressão» do meu sentir que tão bem conheces
................sem volta na ponta
................talvez maçadoras
Todo o dia estive contigo
................retraindo o impulso de beijar os teus lábios
...............de afagar o teu rosto e cabelos
Todo o dia refreei a minha impaciência de subir ao Sol e á Lua e cobri-los de estrelas
Todo o dia estive nas tuas mãos
..............frágil como ave inquieta ou cana agitada pela brisa
.....................sem a fortaleza de saber que me queres
Todo o dia não permiti entusiasmar-me com a tua vinda
Todo o dia contei em silêncio os minutos
..............e as horas passaram lentamente
....................... .....................até ao teu telefonema
.............................................à tua voz triste
.............................................às palavras que não dissemos
.............................................à inquietação e desassossego que ficaram em mim
Todo o dia esperei por ti e dói-me a tua ausência!
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)