quinta-feira, 24 de outubro de 2019

pingos do mindelo 05.19 - rosas, não de hiroshima

* Victor Nogueira

O tempo por aqui está cinzentonho, húmido, tristonho. Fora a música que vou ouvindo e o bater monótono  das janelas nas calhas, tudo é silêncio. Agora a proposta é bossa-nova, na voz de Nara Leão.

 

Nara Leão - "Garota de Ipanema" [1985] 

Não me apeteceu cozinhar e limitei-me a deglutir qualquer coisa para alimentar a trituradora que é o estômago. A tarde tornou-se soalheira, quentinha na varanda, de brisa fresca no quintal, fazendo ondular as roseiras, agora cheias de botões que floresceram e pintalgam de amarelo e rosa a verdura da folhagem.









E, mudando de registo, a  vez à voz de Paxti Andion, numa canção da Guerra Civil Espanhola:


Paxti Andion - "Ay Manuella"

E em maré de rosas, duas rosas...

... a de Hiroshima, poema de Vinícius de Morais....

A ROSA DE HIROXIMA
rio de Janeiro , 1954

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

.. e a rosa vermelha, a rosa de sangue, poema de António Ferreira Guedes musicado por Adriano Correia de Oliveira 



Adriano Correia de Oliveira - "Rosa de Sangue" (EP 1968)

Os olhos dos camponeses
São fogos na madrugada,
Os olhos dos camponeses
São fogos na madrugada.

Mal o seu corpo tombou
A noite ficou cerrada,
A noite ficou cerrada.

Tiros soaram longe
No silêncio da campina,
Rosa de sangue brotou
Dos seios de Catarina,

Maduro se fez o trigo
Em terra sem ser regada.
Quem no sangue semeou
Há-de colher uma espada,


Imagens captadas em 2019.10.23

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)