* Victor Nogueira
foto de família - Em 1962 passámos as Férias Grandes na Caala (antiga Vila Robert Williams), em casa do Engº Boaventura de Freitas, colega do meu pai e amigo dos Nogueira da Silva.
Viajámos no paquete "Infante D. Henrique" de Luanda ao Lobito, onde apanhámos o comboio para o Huambo (antiga Nova Lisboa), nos arredores da qual fica a Caala. O regresso fez-se semanas depois por camioneta (autocarro) viagem, que durou dia e meio (545 km).
Da viagem de regresso há um relato meu circunstanciado e dois outros mais sucintos. É um destes que transcrevo de seguida.
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De Nova Lisboa a Luanda, por terra ~ Relato II
Saímos de Nova Lisboa às 8 horas em ponto. A viagem decorreu normalmente e, para mim, não foi muito maçadora, pois tive oportunidade de conhecer novas terras e novas paisagens. Pouco depois de passarmos o Vale do Queve um taxi carro ultrapassou nos, parando à frente do autocarro. Era uma senhora que havia perdido a carreira, por chegar atrasada, e apanhara um táxi, que numa espécie de maratona lá nos conseguiu alcançar. Seguimos viagem, já com a tal senhora. Entre o Cachimbombe e o Hengue vimos um casamento de pretos. As duas noivas iam vestidas de branco, seguidas por numeroso séquito, batendo palmas e cantando
Almoçamos no Hengue. A comida não era nada famosa e o arroz mais parecia uma pasta -. Ainda estive para guardar um bocado para cola.
Levantámos ferro, se assim se pode dizer, cerca das 13:40. A paisagem é maravilhosa, em nada se parecendo com a que percorremos no dia seguinte. Mas o melhor é irmos por partes.
A meio da tarde avistámos duas aldeias do Colonato Europeu da Cela, chegando pouco depois à encantadora vila de Santa Comba Dão, onde merendámos. Gostei bastante da vila e tive bastante pena de a [não] ter visitado, bem como os aldeamentos, mas a carreira não anda às ordens dos passageiros e sim estes às ordens daquelas. Paciência. Ainda assim passámos pelas aldeias de Carrasqueira e Sta. Isabel Isto, com os filmes que o sr. Boaventura teve a gentileza de nos mostrar, sempre nos dá uns certos conhecimentos, embora vagos, sobre este Colonato.
Antes de chegarmos à Quibala passamos por uma povoação de açorianos, o Catofe. Chegámos à Quibala já ao anoitecer, não tendo visitado a vila. No dia seguinte também não tivemos oportunidade ensejo de o fazer, pois às 6:30 já estávamos a caminho.
Esquecia-me de dizer que pernoitámos na Quibala, numa pensão, ou lá o que é, perto da igreja. O que eu reparei na Quibala foi que há quase mais postos de gasolina que casas (exagero!)
Passámos por um cemitério arruinado, que deve ser do tempo do Salvador Correia [século XVII]. Contudo não o posso afirmar, pois não tive oportunidade (outra vez!) de observar as ruínas de perto.
Matabichámos no Munenga, onde acabou o pão de ló que trouxemos daí. [Caala] Ainda assim durou bastante (...). Até esta altura parecia que a paisagem se queria associar ao meu estado de espírito, pois o tempo estava muito enevoado. Onde o sol deu um arzinho da sua graça foi no Dondo mas as núvens não devem ter gostado, pois até hoje e mesmo em Luanda tem estado um tempo triste, embora às vezes bastante quente. Almoçámos aqui no Dondo e demos uma volta pela vila.
Como até aqui e daqui a Luanda, a paisagem é triste e monótona, em nada se comparando com a do Centro. Só imbondeiros, com os seus braços descarnados, e capim, sempre capim. A única nota alegre são as elegantes palmeiras, que por aqui há bastantes, bem como exóticos cactos candelabro. (...) Chegámos a Luanda à tardinha.
Estava ansioso por ver o meu pai, mas fiquei desolado com o acolhimento que nos dispensou. Podia ao menos ter afivelado um sorriso e feito um acolhimento mais caloroso. (BGF - 1962.09.25)
Isabel Magalhães Gosto de ler estas memórias, fazem-me viajar no tempo. Acho que quase conheço a vida em Angola, sem nunca lá ter estado, mas sim pela forma como foi relatada pelos familiares e amigos que lá estiveram. Não fosse a destruição em que está Luanda e pensaria em lá ir. Bjs
Victor Barroso Nogueira Luanda não está destruída e pelo que vejo em fotos e filmes actuais nalguns aspectos até está mais bonita,apesar da especulação urbanística. E abismos sociais sempre os houve, infelizmente
Isabel Magalhães aquilo que ouço das pessoas que lá estiveram recentemente é que aquilo não é bem o vemos nas fotos, pouca coisa faz lembrar o passado. Além de haver pouca qualidade de vida de faltarem inúmeras coisas, de estar um pouco o caos instalado. Ora a ser verdade, dificilmente poderia conhecer e sentir Angola, como tenho curiosidade em fazer. Para assim compreender a maravilha das memórias que as pessoas que lá viveram outrora.😉
Victor Barroso Nogueira Aqui fica para o teu baú das memórias, oh chicolateira :-) aka Isabel Magalhães
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)