A D. Noémia Castelo era das mais idosas no grupo de amigas de que a minha mãe fazia parte, conjuntamente com a minha madrinha Cristina Santos. A D. Noémia era uma pessoa muito alegre, casada com um engenheiro, salvo erro de máquinas, que se formara na Grã-Bretanha – o Jorge Castelo – uma figura notável pois era uma raridade em Luanda, sempre de calções e meias brancas até ao joelho, muito “british.” numa cidade onde os ingleses não exerciam influência cultural, mas sim a França, o Brasil e os EUA.
Nessa altura havia um cine-teatro onde também havia sessões de ópera e de variedades, o Restauração, com restaurante-bar-dancing. Pois uma vez o porteiro tentou impedir a entrada do Engº Castelo, por este ir de calções, traje considerado inapropriado. Enfim ...
Na roda de amigas havia rotativa e semanalmente um lanche na casa de cada uma, juntando também a criançada. O Engº Castelo era especialista em enormes bolos de gelatina, tremulizantes e multicoloridos.
Viviam numa vivenda, na Avenida Brito Godins onde se situava o Liceu Salvador Correia, com um grande quintal com criação e dois esqueletos completos e em tamanho natural no escritório, que eu ia ver às escondidas.
Na semana do lanche em nossa casa era uma festa, a minha mãe com um arsenal de bolinhas pequenas multicolores e de garrafinhas cada uma com seu corante ou paladar (essência) e nós a raparmos as formas dos bolos e dos biscoitos ou - para “desespero” materno - a comermos à sucapa o fiambre, com um sabor delicioso que já não lhe encontro.
Neste grupo algumas eram apenas domésticas, como a Bia, a Beatriz , a Cristina ou a D. Noémia, outras exerciam uma profissão, como a Laura, a Maria Arnalda ou a minha mãe.(in "Victor Nogueira - Viagens - memórias e registos volume I – África")
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)