sexta-feira, 31 de julho de 2020

Luanda e as churrasqueiras - O “Vilela”, mas não só


* Victor Nogueira


Nos arredores de Luanda havia restaurantes ao ar livre, cujas especialidades eram o frango e bacalhau (banhado de azeite) assados, arroz de cabidela e os bifes com batatas fritas e ovo a cavalo. Haveria talvez outros pratos mas disso não me recordo, regados com refrigerantes (Coca Cola, Pepsi Cola, 7 Up, Fanta, Canada Dry - Spur e Ginger Ale), entre outros, e cerveja (CUCA ou NOCAL), com gambas e tremoços como aperitivo, que faziam parte da ementa habitual ou de fim de semana.

As gambas equivaliam em Portugal aos tremoços e amendoins ou ginguba, mas a sardinha era quase um prato de luxo, ao contrário do que sucedia na então chamada Metrópole, onde era a comida dos pobres e a lagosta e camarão a dos ricos,

Dois desses restaurantes eram o “Retiro da Conduta”, na Estrada da Cuca, e o “Vilela”, na Estrada de Catete, nas cercanias do Observatório Astronómico da Mulemba, do astrónomo amador Bettencourt Faria. Regista uma das fotos que neles havia parque infantil, com escorregas e baloiços, para a criançada.

Estes restaurantes eram palco de almoços de confraternização, quer de alunos do Liceu Salvador Correia, quer familiares. No 3º ciclo do Salvador Correia havia um contínuo, o sr. Sampaio, que alinhava connosco nas almoçaradas no Retiro da Conduta ou no Vilela. A crer nas fotos, as nossas colegas não alinhariam nas nossas patuscadas churrasqueiras.

Nos meus diários da meninice e adolescência há referências a estes convívios, para lá dos registos fotográficos no espólio familiar.

1959
À noite fomos ao Vilela, no km 5. O senhor Almeida chegou atrasado 1 h e 30 m. Comemos churrasco. Eu bebi 2 limonadas e 1 laranjada. Depois de comermos ditei um discurso ao Rui [que fazia 10 anos], que o escreveu. Depois pôs-se em cima de uma cadeira e leu-o. No fim todos assinaram o discurso. O Zé assinou com a mão esquerda [pois tinha o braço direito engessado].

As pessoas que foram ao Vilela foram o Rui, os pais (a sra Deolinda e o sr. Almeida), os tios (o sr. Francisco e o sr. José), o José João, eu, o pai e a mãe. (Diário I 1959.01.01)

1963
Fomos jantar no Santo António (  ), nós os cinco. Conheci as nossas novas vizinhas [as Fardilha]. Não tinha muita vontade de comer. (Diário IV 1963.11.24/26 pag 145/148)

Nós os quatro, o senhor Eng.º Mesquita e a Sra. D. Margarida fomos almoçar ao Vilela (Esplanada de Santo António). À tarde fomos passear. 

Continuo aborrecido. Quando será que deixarei de ser um descontente e um revoltado? 

(…) Faz hoje um ano que embarquei para a Metrópole. E apesar de tudo, tenho saudades. (Diário IV 1963.12.15)

1964
Fomos almoçar ao Vilela, na estrada da CUCA. [O José João comemorava o seu 37º aniversário] Comemos o prato tradicional: bacalhau assado e churrasco. A última vez que lá fora foi no dia da minha chegada da Metrópole. Foi aqui que encontrei pela primeira vez as minhas vizinhas [as Fardilha]. A esplanada possui um jardim acolhedor e as mesas estão dispostas em redor.

Após o almoço fomos todos cinco passear: Cacuaco, Estrada da Circunvalação, Estrada da Samba e pela cidade. Voltámos para casa tendo estado a ouvir música. Foi um domingo bem passado. 

À noite o João e a Estrela vieram cá a casa. A Estrela faz anos para a semana e convidou-nos para a farra que vai dar. (Diário V 1964.06.22)













1958, com os Fernandes Gaspar 



 1959 -  Aniversário do Rui Almeida

 1961, com os Fernandes Gaspar


 


  A malta do Liceu em 1965



  1965 (?)


fotos jj castro ferreira, salvo as da malta do Liceu (Foto Luanda, de António E. Dias Lda)

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)