segunda-feira, 20 de julho de 2020

UM HOMEM NA LUA

* Victor Nogueira

"Objectivo Lua" (1953) e "Tintin na Lua" (1954) são dois saborosos álbuns de Hergé, na sequência dos romances "De la Terre à la Lune", (1865) e "Autour de la Lune" (1869) de Jules Verne, e  do filme "Le Voyage dans la lune", de Georges Méliès (1902), todas elas obras de ficção científica, pois  a ida do homem à Lua ocorreu apenas em 1969. 

Os astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin alunaram em 20 de julho de 1969. Armstrong tornou-se o primeiro ser humano a pisar a superfície lunar e, seis horas depois, foi já no dia 21, seguido por Aldrin vinte minutos depois.

O registo que transcrevo de seguida aconteceu mesmo, .não é ficção mas  realidade: 

«UM HOMEM NA LUA

Ontem um bêbado abordou-me quando via os livros na montra da Livraria dos Salesianos [Évora]. Queria saber qual era a melhor história que ali estava. Ou a maior ? A de todo o mundo! De todos os tempos. Que todos aqueles livros eram mentiras. Para as pessoas comprarem pensando serem verdades. Era a máquina! Se eu acreditava que  o homem tinha ido à Lua, se eu vira com os meus olhos. Que os jornais e os livros só diziam mentiras. Que nenhum homem pudera ter ido à Lua porque ele não vira. E que eu tinha sido enganado pelos jornais. Era mentira, talvez tivessem ido, mas tinham morrido todos. Que isso dos submarinos andarem debaixo de água era diferente: era a Terra. Quanto pagaria eu para ele me contar uma história daquelas, vinda do fundo do coração? ( E vai daí, faz um gesto como que proveniente das profundezas do mesmo mas, ou pela bebedeira, ou lá porque fosse, o gesto iniciou-se baixo demais e não pude deixar de comentar com a minha habitual ironia: "O seu coração está baixo demais!"). Quis saber o que eu fazia - se era escritor e já escrevera o meu livro - e não acreditava que eu vivesse do ar e do vento. Enfim, que se tivesse 25 anos como eu estava mas é em Lisboa, que isso sim! E lá se ia agitando desequilibradamente  o velho (de 57 anos), num asilo, convidando-me (ou convidando-se) para um copo ali na taberna, beata ao canto da boca com um grande morrão e deitando perdigotos como nuvem rota em dia de inverno. Mas nem queiras  saber a insistência com que ele duvidava da ida dos homens à Lua. (MCG - 1972.10.23)

Georges Méliès havia imaginado assim a Ida à Lua  


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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)