quarta-feira, 3 de março de 2021

Eros e Afrodite 03 - textos sobre a sedução, o encanto e a liberdade

  * Victor Nogueira

.eu bem sei que talvez já tenham lido, mas .... os dois primeiros correspondem à expressão dum sentir e a uma escrita como que espontânea. O 3º  (Um rio enche a casa com o  murmúrio de mil candeias) e o da 02 (gota a gota)  são fruto duma intelectualização, dum pensar a frio com a busca das metáforas, um trabalho de artesão mas não de artista. O 3º da presente nota é uma reelaboração dum outro texto, declaração de amor e sobre a ausência, que eu transformara "alargara" num hino à "Liberdade" mas que quem lê considera um texto de amor e não  um texto político. Considero tentativas falhadas quer o "gota a gota", quer "um rio ..." - crítico desapiedado de mim mesmo que sou.

Escritas e dispersas ao vento, as palavras deixam de pertencer ao autor e passam a ser vistas e lidas com os olhos e lábios e o pensar de quem as decifra e tenta descodificar.

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SEDUÇÃO

 

O desejo é uma nave

..............penetrando na imensidão destes dias.

Gomo a gomo

desfolhamos o cetim

do nosso corpo.

O ar está pleno

.......deste cheiro agridoce

................almiscarado.

Procuramos a sombra

................fulva e ardente

................fresca

do sol

num murmúrio crescente e

........................ondulante

em vagas sucessivas

no chão arenoso

a macieza da boca

................no seio do ventre

os lábios traçando

..............o mapa do desejo

o sabor da cisterna

.............da viagem dos sentidos

.............ao fim do mundo

nos corredores

a ....ventura

por nós talhada

Descoberta inventada

sem sombras nem limites

.....................(des) enredada

No fragor da tempestade

a serenidade da calmaria

nesta cidadela

......................."sem muros

........................nem ameias"

 

 

 1989.Março.09 - Setúbal 

_________

 

Sedento nas tuas mãos esguias e belas

 

Sedento nas tuas mãos esguias e belas

aqui

na estrada da vida

à beira do caminho

de pé nesta tarde de verão

louco pássaro

.....................de asas partidas

busco a carícia do sorriso

..........o quente murmúrio da voz

..........o frémito das nossas mãos

..........o suave perfume do corpo apetecido

..........turbilhão incandescente sufocante

..........rio mar profundo

sigo ...com os dedos e os lábios o teu contorno

..........aqui os olhos ....a boca ....o lóbulo das orelhas

..........o andar decidido

..........os seios pequenos e firmes

além a ondulante seara

........a curva suave

........o moreno vale

fresco límpido agridoce refrigério

  

1985.Julho.28 - Setúbal

 


__________________

 

 Um rio enche a casa com o murmúrio de mil candeias

 

Um rio enche a casa com o murmúrio de mil candeias

enquanto  

............ondulados

............compassados

............rítmicos

ouço

sinto

e reconheço

............os teus passos

 

Em silêncio junto as palavras

.................percorro o teu corpo

.................flexível e moreno

 

Rio, choro e bailo contigo

quando assomas à porta e

..........busco o veludo dos teus lábios e do teu rosto.

bebendo o vinho da esperança

 

Tudo tem agora outra qualidade

..........................a qualidade do trigo em flor

...........................................da brisa incandescente

...........................................da sombra refrescante

...........................................do sol sem ardor

 

e no ar

o fragor e e a calma silente da tempestade liberta e  amainada

 

Setúbal 1989 / 2000

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Esta é a versão inicial (1989) do último escrito, que prefiro sem dúvida alguma

1989.06.07

Setúbal








nature,sea,black,and,white,ocean,view,water,waves - in http://linhacabotagem.blogspot.pt/2011/05/diurnos_30.html


"Operários", tela de Tarsila do Amaral, observados por olhos de um rosto na multidão - em http://blogdoricardonovais.blogspot.pt/2010/06/um-milagroso-acaso-de-amor.html

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)