* Victor Nogueira
DANIEL OLIVEIRA, embora reconhecendo a complexidade do "conflito", questionando a narrativa "oficial" e descredibilizando-a, nas entrelinhas segue o guião dominante.
Com efeito, cabe perguntar se o que fica - subliminarmente - são afirmações como as que se transcrevem, que não utiliza relativamente a países como os EUA e da União Europeia ou seus dirigentes.
«Putin é um criminoso, mas é um calculista.»
«Querem reconstruir o império soviético, alimentando a ideia de uma “grande Rússia”, que é sustentáculo ideológico do poder de Putin? Essa vontade está bem explicitada num longo ensaio do Presidente, com o título “Sobre a unidade história dos russos e ucranianos”.»
«A Rússia tem o direito de impedir a integração de um país soberano na NATO? Não. Os países são livres de aderir às organizações que entenderem. E, já agora, os países dessas organizações também são livres de não os quererem lá. (,,,) Putin quer ter, e é inevitável que tenha, uma voz na segurança europeia. O facto de a Rússia ser um regime plutocrático e de extrema-direita não muda isto, assim como o facto de a China ser uma ditadura brutal não lhe retira relevância militar e económica.»
Para lá do arrazoado «"nim" pró sim», pode perguntar-se: os EUA ou os da União Europeia são "democráticos", não plutocráticos, não "brutalmente" tirânicos, rendidos que estão ao neoliberalismo, com Estados onde governam forças de extrema-direita ou protofascistas quando não mesmo fascistas? É “democrático” o Estado Ucraniano, que se pretende adira a essa “democrática” NATO?
O que sucederia á Federação Russa ou á China se não tivessem «relevância militar e económica» bem como arsenais nucleares, países contra os quais se encarniça o Império Americano, onde, de Oeste para Leste e de Norte a Sul, o sol nunca se põe e brilham amplas liberdades?
E defendendo Daniel Oliveira que os países são livres de aderirem ou não a qualquer organização, sendo por conseguinte a Ucrânia livre de aderir ou não á NATO, sem que a Federação Russa a isso tenha o direito de opor-se, cabe perguntar se seriam reconhecidas a mesma "liberdade" e o mesmo "direito" á Federação Russa (capitalista) ou á China (popular) para "associarem-se" a países da América Central, Caraíbas, México ou da União Europeia, para neles instalarem bases militares.
EM TEMPO - O site da NATO lista os países “associados”, com indicação do ano de “livre” adesão:
Países fundadores (1949)
BÉLGICA CANADÁ DINAMARCA ESTADOS UNIDOS FRANÇA HOLANDA ISLÂNDIA ITÁLIA LUXEMBURGO NORUEGA PORTUGAL REINO UNIDO
Países que aderiram antes da fundação do Pacto de Varsóvia, socialista, ou durante a sua existência (1955 / 1991)
GRÉCIA (1952) TURQUIA (1952) ALEMANHA (1955) ESPANHA (1982)
Países que aderiram após a dissolução da URSS e do Pacto de Varsóvia, ambas ocorridas em 1991
HUNGRIA (1999) POLÓNIA (1999) REPÚBLICA CHECA (1999) BULGÁRIA (2004) ESLOVÁQUIA (2004) ESLOVÉNIA (2004) ESTÓNIA (2004) LETÓNIA (2004) LITUÂNIA (2004) ROMÉNIA (2004) ALBÂNIA (2009) CROÁCIA (2009) MONTENEGRO (2017) MACEDÓNIA DO NORTE (2020), todos agora países do chamado "Mundo Livre", integrados num bloco capitalista, navegando na órbita da NATO e tutelados pelo Império Americano? NATO cujos fundadores se situam nas margens do Atlântico Norte, hoje espraiando-se pelo Atlântico Sul e absorvendo os Oceanos Índico e Pacífico.
Note-se que o Portugal de Salazar e Caetano figura entre os “democráticos” países fundadores e cabe perguntar se podem ser considerados “democráticos” todos os presentemente “associados” na OTAN, mesmo de acordo com os parâmetros definidos pelos EUA e seus livre-“associados”
2022 02 21
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)