sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

(quase) diário da campanha 17 - o(s) dia(s) seguinte(s)

 * Victor Nogueira 

No "Verão quente" de 1975  e subsequentemente, sobretudo  a norte de Rio Maior, o MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal), o ELP (Exército de Libertação de Portugal) e o Plano Maria da Fonte, em articulação com sectores reaccionários da Igreja Católica e com o General Spínola (posteriormente reabilitado pelo PS e Mário Soares, pelos alegados «feitos de heroísmo militar e cívico e por ter sido símbolo da Revolução de Abril e o primeiro Presidente da República após a ditadura»),  colocaram Portugal a  ferro e fogo, com assaltos, depredações, incêndios, perseguições e atentados bombistas contra as sedes sindicais e de partidos de esquerda e seus militantes ou apoiantes, designadamente do PCP (Partido Comunista Português), UDP (União Democrática Popular) e MDP/CDE (Movimento Democrático Português).   (Victor Nogueira)

“Os vários ‘exércitos’ da contra-revolução foram responsáveis por 566 acções violentas no país entre Maio de 1975 e Abril de 1977, uma média de 24 actos de terrorismo por mês, quase um por dia, causando mais de dez mortes e prejuízos incalculáveis no património de vítimas e instituições”, escreveu Miguel Carvalho. 

"As redes bombistas conseguiram pôr o país a arder, mas o travão ao processo revolucionário em curso (PREC) não partiu delas. Foi, sim, obra dos militares do Grupo dos Nove, aliado ao PS, que, com o golpe contra-revolucionários do 25 de Novembro de 1975,  instaurou um regime democrático semelhante ao das democracias liberais ocidentais.

A partir daí, o MDLP, tal como o ELP e o Plano Maria da Fonte, perderam as razões de existir e, aos poucos, a organização terrorista de extrema-direita foi-se desestruturando, com as suas fileiras a desmobilizarem aqui e ali."

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O texto é longo, mas merece leitura a propósito do nome proposto pelo Chega para vice-presidente do Parlamento, POR Joana Lopes 

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«A rede civil do MDLP incluía militantes de vários partidos de extrema-direita ilegalizados depois da primeira tentativa de golpe contrarrevolucionário, principalmente do Movimento Federalista Português. Alguns dos seus nomes são hoje conhecidas figuras do público português: José Miguel Júdice, Fernando Pacheco de Amorim e do seu sobrinho, Diogo Pacheco de Amorim, hoje vice-presidente do Chega. (…)

Um dos elementos do gabinete político do MDLP que se manteve em Madrid foi José Miguel Júdice, figura destacada do campo nacional-revolucionário em Coimbra na década de 1960, dirigente do Movimento Federalista Português – Partido do Progresso, hoje advogado e comentador na SIC Notícias. Júdice era conhecido por gostar de discutir a situação política no Café Río Frío.

Outro foi Diogo Pacheco de Amorim, hoje presidente da Comissão Política do Chega e autor de um conhecido hino de extrema-direita, o Ressureição, escrito durante o tempo que passou na capital espanhola. “E já ardem bandeiras vermelhas/ Nos campos há gritos de guerra / Nas trevas da noite há centelhas / Das Rosas em festa da terra”, lê-se na letra do hino. (…)

O país preparava-se para eleger a Assembleia Constituinte, mas as bombas da extrema-direita continuaram a detonar às dezenas. O padre Maximino Barbosa de Sousa, de 32 anos, e a estudante Maria de Lurdes Correia, de 18 anos, foram assassinados em 1976 às mãos do grupo do bombista Ramiro Moreira, em tempos segurança do PPD e do CDS em comícios, operacional do MDLP e responsável por mais de 80 atentados.

E só 23 anos depois, após um longo processo judicial, é que a Justiça atribuiu as responsabilidades ao MDLP, sem, no entanto, condenar nenhum dos executantes ou responsável.»    

2022 02 04

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)