* Victor Nogueira
Desde há três dias que me levanto de “madrugada”, por causa de inesperadas, mas inadiáveis obras aqui em casa. Esperemos que hoje fiquem concluídas. Olho para lá da vidraça e tudo está mortiço, o verde e o castanho das leiras que daqui avisto, despidas do milheiral que me protegia das agrestes nortadas. Lá ao fundo, muito ao longe, as árvores surgem num verde baço, lá ao fundo junto á estação de serviço da Galp, ali na recta do Mindelo para Vila do Conde. Rápidos, perpassam pombos, isolados ou em bandos, quais esquadrilhas de aviões cruzando os céus em voos rasantes, mas velozes, aparentemente indiferentes á chuva miudinha que, sem brilho, tudo ensopa e encharca. É a chamada chuva molha-tolos! Com os ramos espigados para as alturas, carregado de enormes e odoríferos limões, mais ou menos agitado, balança o limoeiro. Ao lado, que daqui não avisto, está carregado de frutos a tangerineira. Já a oliveira, desde que a transplantei, ainda não voltou a dar azeitonas. Está cinzentoso e tristonho o dia. Tudo é silêncio, quebrado apenas pelo suave ruído com o dedilhar das teclas do pc, gravando o meu pensamento, na companhia dos barulhos do trabalho do pedreiro ou trolha, que vai falando sozinho, com os seus botões. Assomo á porta da cozinha e no quintal corre uma brisa gélida, húmida, trespassante e desagradável. Finou-se o tempo estival, embora tudo em redor e nas cercanias esteja ainda verdejante, sem cobertos dum castanho-dourado e folhas secas atapetando o solo.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)