Victor Nogueira
«A que chama guerra de memória?
Tenho pensado muito na memória da Guerra Fria, sobretudo em países como a Rússia ou a Polónia, que estão tentar construir uma memória completa ao adoptar uma certa versão da história e prometer uma pena para os que não a apoiarem ou para quem apontar incongruências acerca de alguns acontecimentos que não sejam reconhecidos pela polícia de estado. Por exemplo, a Polónia está a criminalizar todas as menções a cidadãos polacos envolvidos no Holocausto durante a ocupação alemã.
A Rússia está a prometer consequências sérias para aqueles que compararem a União Soviética dos anos trinta e quarenta à Alemanha de Hitler, ao ponto de a visão da História promovida pelo estado ser profundamente problemática para a população. Há uma guerra promovida por um estado e parte da população discorda do abuso de poder por parte desse estado; um abuso que se apoia na promoção de uma versão da História em relação ao país vizinho. E está a fazê-lo usando qualquer coisa parecida com a velha guerra de trincheiras.
Já não é a memória da Guerra Fria, mas continua a ser uma memória de guerra. Os métodos são bem arcaicos. Há um anacronismo nesta guerra. Não vemos drones, nem novos instrumentos de guerra. E sabemos que a Rússia soube usá-los na Síria. Mas agora o que fizeram foi praticamente uma encenação de algumas memórias, ou talvez de alguns filmes sobre acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Só que na Rússia. Ataques, bombardeamentos. Se no dia 7 de Agosto de 1941 começaram a bombardear Kiev, agora, uns oitenta anos depois, a Rússia volta a bombardear Kiev usando os mesmos métodos, a mesma lógica. É bizarro.
Tenho a convicção de que Putin e os seus apoiantes estão profundamente insatisfeitos por viverem no século XXI. E não é que quisessem apenas viver no século XX, mas era mais fácil organizarem as suas máfias debaixo da mesa e continuarem como se nada fosse, numa sociedade em que não havia qualquer espécie de activismo, movimentos de mulheres, blá blá... Era apenas o grande jogo oligarca dos que estão no poder. Não sabemos o que vai sair daqui, mas acho que estamos sob uma grande ameaça.» (
Que diz a autora noutro passo da entrevista:
«Este é um livro de não-ficção porque não inventei ou acrescentei qualquer espécie de enredo. Não é um trabalho de jornalismo, mas é uma tentativa de escrever o que aconteceu como aconteceu. Comecei a escrever fisicamente este livro quando tinha dez anos.
Rebobinando, que diz Stepánova?:
«Por exemplo, a Polónia está a criminalizar todas as menções a cidadãos polacos envolvidos no Holocausto durante a ocupação alemã.
A Rússia está a prometer consequências sérias para aqueles que compararem a União Soviética dos anos trinta e quarenta à Alemanha de Hitler, ao ponto de a visão da História promovida pelo estado ser profundamente problemática para a população. Há uma guerra promovida por um estado e parte da população discorda do abuso de poder por parte desse estado (...)» (in Público 2023 01 02)
Estamos conversados sobre a bizarria desta salgalhada em torno da(s) memória(s) distorcida(s) de Maria Stepánova.
EM TEMPO - Escreve um -dos comentadores no Público, on line;
Francisco M. INICIANTE
«A memória como outros elementos sociais é sempre negociada. Pode ser colectiva mas também tão individual ao ponto de se tornar irreconhecível. Nós em Portugal tanto cremos que a carreira da Índia acabou com as caravanas terrestres e pelo Mar Vermelho e Golfo Pérsico entre Ásia à Europa que nada se conta que as caravanas simplesmente foram desviadas para norte, para a Rússia. Que São Petersburgo só vingou depois de Pedro I ter "forçado" os comerciantes a trazer as suas mercadorias ao novo Bazar de São Petersburgo em vez de Moscovo. Que o "grande jogo" dos ingleses na Ásia central tinha como objectivo acabar com essas caravanas que faziam uma tal concorrência ao comércio por mar. A memória de Moscovo da Sr.a Stepanova é bem diferente da de um Russo de Vladivostok ou das dos do Donbass.*
2022 01 02 - HÁ 4 ANOS, MARCELO DE SOUSA, O GLOBE-TROTTER, PARABENIZANDO O SEU IRMÃO BOLSANERO, O INGRATO QUE SE NÃO CANSOU DE DESFEITEÁ-LO E FAZÊ-LO ENGOLIR SAPOS: «“Como eu disse e como disse o Presidente Bolsonaro, era uma reunião entre irmãos e entre irmãos o que há a dizer se diz rápido, como se diz em família”.
2018 01 02 - Foto Victor Nogueira - em setúbal, fogo de artifício na passagem do ano visto duma das varandas no cimo da torre no alto duma encosta. Não tão majestoso como o da beira rio, para nornordeste também houve festa: no Faralhão e Praias do Sado, na Azeda e muito mais para lá, talvez no Montijo ou Pinhal Novo, embora neste caso muito minúsculo. Suponho que também terá havido em Palmela, mas não reparei nele,caso tenha sido lançado.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)