quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Textos em janeiro 19

  * Victor Nogueira

2023 01 19Foto victor nogueira - Vila do Conde - Palácio da Justiça (2023 01 14 IMG_1929) - Defronte situa-se o topo Norte da Alameda dos Descobrimentos, que se estende para Sul até à margem direita do Rio Ave, onde se localizavam os estaleiros navais e a Alfândega Régia e, actualmente, também está acostada a réplica duma nau quinhentista.

Tribunal Judicial de Vila do Conde - Embora estruturado dentro de um discurso de carácter moderno, o edifício não deixa de transparecer o paradigma "clássico" do modelo francês setecentista de "Templo Judicial", introduzido em Portugal na década de '30, do século XX, equipamentos congéneres, manifestando uma ligação evidente às soluções equacionadas para o Tribunal de Tomar. Este modelo teve origem no final do séc. XVII, na Bretanha, com a construção do Palácio da Justiça de Rennes, que se constituiu um edifício paradigmático com uma influência determinante na estruturação formal e conceptual da arquitectura judicial europeia ao longo de todo o séc. 19 e só renovado a partir da década de '60 do séc. XX.

Projectado pelo Arqº Januário Godinho de Almeida (1910-1990), foi construído com mão-de-obra prisional, sendo inaugurado em 1972 Actualmente está classificado como Monumento Nacional.

 (Adaptado de http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?)


2020 01 19 CORAÇÃO ROSA DOS VENTOS - Victor Nogueira

A tua carta é um pássaro pintado
…………………………com emoção e alegria!
Cada folha é uma seara dividida em quatro e
na delicadeza do teu olhar
sou um rio
…….... leve rumor
…. ......suave brisa que passa e canta!
(Setúbal, 1992)
Ilustração: personagem dos Schtroumpfs, uma criação de Peyo


2020 01 19 foto de família - quem seja o retratado e em que lugar, desconheço. Será em Lisboa, a Basílica da Estrela? Quem me ajuda a identificar o local? A foto será de 1945.03
EM TEMPO - Trata-se do Santuário de N.. Senhora do Sameiro, em Braga e a retratada é a minha avó materna Francisca da Conceição Barroso


2015 01 19 foto victor nogueira - Vila do Torrão (Alcácer do Sal) - estátua de Bernardim Ribeiro (Menina e Moça)
NÃO SOU CASADO, SENHORA

Não sou casado, senhora,
que ainda não dei a mão,
não casei o coração.
Antes que vos conhecesse,
sem errar contra vós nada,
uma só mão fiz casada,
sem que mais nisso metesse.
Dou-lhe que ela se perdesse!
solteiros e vossos são
os olhos e o coração.
Dizem que o bom casamento
se há de fazer de vontade.
Eu, a vós, a liberdade
vos dei, e o pensamento.
Nisto só me achei contento:
que, se a outrem dei a mão,
dei a vós o coração.
Como, senhora, vos vi,
sem palavras de presente
na alma vos recebi,
onde estareis para sempre,
não de palavra somente;
nem fiz mais que dar a mão,
guardando-vos o coração.
Casei-me com meu cuidado
e com vosso desejar.
Senhora, não sou casado,
não mo queirais acuitar!
que servir-vos e amar
me nasceu do coração
que tendes em vossa mão.
O casar não fez mudança
em meu antigo cuidado,
nem me negou a esperança
do galardão esperado.
Não me engeiteis por casado,
que, se a outra dei a mão,
a vós dei o coração.
Bernardim Ribeiro, in 'Antologia Poética'


2013 01 19 texto de Victor Nogueira - Foto de Lowtide - ParkeHarrison 2002

FLOR DO MAR sem GUARIDA
.
1. É bom ter
quem nos afague e faça companhia
e nos diga:
olá, bom dia
com alegria e fantasia.
.
2. É bom ter quem nos aguarde
uma casa aberta
onde o fato não aperta
riso pleno de sol e mar
sem noite em noite de luar!
.
3. É bom pensar em ti
como nave que sorri
na brisa do meu olhar.
.
4. É bom falar-te sem dor
com valor, satisfeito
perfeito, uma flor.
.
5. É bom estar contigo
num passeio sem receio
com amizade
ternura de permeio.
.
6. É bom que os gestos não sejam novelo
enleado, em atropelo,
e que as palavras não sejam punhal
quando me recebes mal!
.
7. Este é um fraco poema
pobre teorema
rima que não rema
perdida na tua calema!
.
Victor Nogueira
1991.04.05
Paço de Arcos //


2013 01 19 - Foto victor nogueira - Setúbal - pôr do sol na estuário do Rio Sado, antes do Porto de Setúbal ocupar a margem ribeirinha ~~~~ Para quem quiser ouvir em fundo enquanto eu faço uma pausa nos meus trabalhos para aproveitar o sol e a claridade para dar - sozinhito - uma volta pela cidade e ler um livro com vista para o estuário do sado e a serra da arrábida no horiznte. Não vou levar para ler "A vida quotidiana em Portugal na Idade Média", de Mattoso - demasiado volumoso e pouco maleável - mas um livrito de contos que me estão a encantar. Conhecem "Contos Bárbaros", de José Aaújo Correia, numa edição Livros RTP, do tempo da outra senhora ? Uma delícia ! Claro que uma delícia é a prosa do contista, não os tenebrosos e cinzentos tempos da outra senhora que bárbaramente e com passes de coelho sócretinamente seguros e escavacados estão de regresso !
Plácido Domingo, Anna Netrebko & Rolando Villazón in Sommer Nachtm para ouvir aqui




2013 01 18 DEPOIS DA TEMPESTADE ...

Não foi um mar de sangue e fogo duma revolução nem o campo uma seara dourada de trigo em flor ou um imenso laranjal. Toda a noite choveu chuva miudinha que rebrilhava o asfalto ou a pedra da calçada, lá em baixo no largo ou mais além na avenida.
A tempestade veio de manhã, um vento sacudido e forte, que agitava a flexibilidade das árvores ainda novas, mas sem que as árvores enormes e mais velhas caíssem aqui e por toda a cidade, devido à fraqueza das raízes e destruindo alguns automóveis. Aqui no largo e no parque verde não houve tragédias como sucedido há uns anos atrás, quando o meu Fiesta escapou por dois ou três escassos palmos de ficar esmagado - como outros - debaixo da enorme arvore, poiso da chilreada das aves saltaricas que nela se abrigavam na sua larga e frondosa copa.
Sumiram-se pois os pássaros tal como há muito as andorinhas nos beirais das casas, substituídos uns e outras pelos pombos e pelas gaivotas perdidas em terra e grasnantes na sua rouquidão sem melodia.
De manhã o vento soprava rijo, num barulhão crescente, agitando as janelas nas calhas e aos arranques como se a música fossem lençóis num estendal por ele batido e agitado e pela chuva ensopados, em gotejar contínuo.
Veio o sol apesar do céu dum cinzento azulado, a tempestade afastando-se como trovoada que se vai perdendo ao longe, deixando em seu lugar um mar de calmaria. E o sol iluminando tudo até ao afastado horizonte vislumbrado do último andar desta torre no cimo duma encosta com Setúbal lá em baixo, como se a meus pés estivesse.
Paro e o silêncio e o sol enchem o meu olhar. Sempre é verdade: depois da tempestade a bonança num mar de calmaria. Pura frase feita que não entra em mim !

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)