quarta-feira, 17 de maio de 2023

António Couvinha - Mais uma vez relembrar Cachatra


António Couvinha - Mais uma vez relembrar Cachatra

Um óleo sobre madeira que ele me ofereceu.

José Carlos Cachatra foi meu professor de desenho no Liceu e depois de ele ser expulso do ensino, continuei ainda a aprender mais com ele pois ficámos amigos e a conviver quase diariamente, ele, o Raul Ramos e eu. Geometria, perspectivas, o claro/escuro. O ponto de encontro e local de grandes especulações sobre geometria e as diversas dimensões, (quantas?) sobre o tempo, o espaço e a cor era na Pastelaria Bijou, Só mais tarde passou a ser o Café Portugal e o Arcada. Foi com ele que me habituei a fazer desenhos a café. De vez em quando desaparecia por uns tempos. Havia nele algo das alucinações e da fascinação pela luz de Van Gogh e de Munch.

Nos últimos tempos parecia que para ele o corpo era já um obstáculo à sua dimensão.

Convivemos até eu sair do país e já não voltei a tempo de o reencontrar.

Morreu uma semana antes do 25 de Abril de 1974

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Victor Nogueira - Lembro-me do Cachatra, que surge na minha correspondência e nas memórias do meu exílio em évoraburgomedieval, uma ilha de pedra e cal perdida no meio da imensidão da sofrida planura alentejana. Os pais do Cachatra , na Rua do Raimundo, tinham uma taberna, paredes meias com a casa de hóspedes de Vitória Prates, que me acolheu durante seis dolorosos anos. 

O Cachatra aparecia pelo Café Arcada, tentando  vender aos clientes os seus quadros. Mas mesmo para  um estudante, na altura medianamente abonado, 20 escudos era um rombo na mesada paterna. Por isso nunca comprei qualquer quadro do Cachatra, alguns dos que me agradaram persistem nos escaninhos da minha memória. Abri apenas os cordões à bolsa numa das campanhas eleitorais das CDE, adquirindo com algum sacrifício uma serigrafia de Ribeiro de Pavia, como forma de financiá-las.

Disse-me -em tempos a  minha muito querida amiga Joana que os quadros de Cachtra valem hoje muitíssimo, no mercado das artes, mercado do qual Cachatra pouco ou nada  beneficiou. 

Lembro-me também que a D. Vitória Prates tinha um retrato dela, executado por Palolo ou Álvaro Lapa, qualquer deles, presentemente, um valioso e  afamado pintor. Que destino os herdeiros terão dado  a esse retrato?

António Couvinha  - Victor Barroso Nogueira boa memória do Cachatra. Era ele mesmo. Sobre o retrato da autoria do Palolo ou Álvaro Lapa nunca ouvi falar.

Victor Barroso Nogueira   António Couvinha Qualquer deles, Lapa ou Palolo, tem ligações a Évora e, um deles, teria conhecido Vitória Prates, da vila do Cano, em Sousel, minha hospedeira em évoraburgomedieval. Álvaro Lapa surge na minha correspondência e nas minhas memórias epistolares.

Lembro-me perfeitamente do quadro, endurado em local de destaque numa das paredes da casa de hóspedes de Vitória Prates.

O quadro foi executado, lembro-me perfeitamente dele, pendurado em destaque numa das paredes da casa de hóspedes do 44 da Rua do Raimundo, muito provavelmente oferecido por um deles, talvez em início, a Vitória Prates, pois não a vejo como compradora do mesmo.

António Couvinha  - Fui muito amigo pessoal dos dois. Convivi muito com eles. Acho estranho retratos feitos por qualquer um deles. Se visse uma imagem do quadro faria uma ideia com mais fundamento.

Victor Nogueira  - Nada mais posso acrescentar salvo sugerir a um eventual interessado que se desloque atá a Vila do Cano, perguntando pelo retrato junto dos familiares de Vitória Prates.

2023 Maio

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)