* Victor Nogueira
O tempo escorre, mais ou menos rápido, mais ou menos lento. as memórias esvaecem-se, ficam talvez algumas lembranças e os registos, escritos ou fotográficos. As redes sociais permitem por vezes o entusiasmo do reencontro, o desfiar/desfilar do passado, nítido ou simples borrões, esmaecidos. Dia após dia o sol e a lua prosseguem a sua imperturbável marcha e tudo vai de novo caindo no esquecimento, cada um na sua vida ou com os novos círculos de amizades entretecidas. Do passado, restam muitas vezes apenas a neblina, cada vez mais cerrada, fiapos, gotículas, poalha cinzenta ou dourada.
Nas minhas memórias de exílio em évoraburgomedieval o Luís é um dos personagens que nelas surge, na minha intensa correspondência que então mantive, durante anos, sobretudo com a Celeste.
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Amanhã o Luís Carmelo inaugurará na sala de convívio do Instituto uma exposição de pintura, englobando dez quadros seus. Lá andava hoje afanosamente com o Pedro, arrumando-os nos expositores, mostrando-me, numa breve escapada que lá dei, a lista das altas individualidades a quem enviará convites. E eu sinto-me constrangido e nada entusiasmado. É tão pobrezinha a exposição! E depois, as pessoas irão ou não. A sério ou a brincar, o Pe. Borges, s.j., entusiasmou-o a fazer a exposição. Logo se verá o que dali resultará. (MCG -1973.01.30)
A exposição do Carmelo foi inaugurada hoje. Não estive lá, apenas ouvi uma grande musicada quando ao fim da tarde passei pelo Instituto, em missão de serviço. Disse-me o Carlos [Nunes da Ponte] que nenhum jesuíta foi à inauguração e que o pintor estava com um certo ar tímido. (MCG - 1973.01.31)
Hoje num intervalo fui ver a
exposição do Carmelo. Não desgostei, embora a temática não seja muito variada. Por
lá andava também o amigo Diogo [Guerreiro], muito preocupado em saber o significado dos
quadros e da lua que em todos aparecia. (MCG
- 1973.02.01)
Escrevo-te aqui nos "Manuéis" [Restaurante na R. Raimundo] enquanto espero o peixe grelhado. Vamos lá ver que tal o GORAZ. Em frente a mim o [Luís] Carmelo aguarda também o seu almoço. O dia está chuvinhante. Vou para Lisboa daqui a pouco no comboio das 14.45. Cerca das 18 lá estarei. O entusiasmo não é grande, pois tenho presente o sossego que não tenho. Estarei de volta 5ª feira. (MCG 1973.10.30)
E então, que me dizes ao aumento do preço do petróleo e seus derivados? (Lá para Abril deve haver mais. Olarilas!). A velhota dos jornais ali ás portas do Arcada já desabafou comigo esta manhã: não haver um raio que os partisse! Há 10 dias encomendara uma garrafa de gás; está cozinhando a lenha. Que só na 3ª feira. "Os patifes, os espertalhões, já sabiam disto e obrigam-me a pagar o gás mais caro!" Como dizia o Carmelo, muito solene e sisudo na sua pose á mesa do café: "Isto está cada vez pior!" (MCG - 1974.01.003)
A mesa do café não é propriamente um local de recolhimento e, em sentando se o primeiro, logo chegam os outros. Resultado: muitas vezes os trabalhos têm de ser interrompidos. (MCG - 1973.11.12)
Ali ao lado o Carmelo submete o
Carlos [Nunes da Ponte] a testes de inteligência. Pelas mesas vizinhas malta conversa ou estuda;
as vozes do Camilo [Monteiro] e do João Luís [Garcia] sobressaem aqui na mesa atrás de mim. (MCG - 1973.11.16
in Viagens,
memórias e registos
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Em
1973/74 a malta dos três primeiros anos resolveu retomar a associação [dos estudantes doç ISESE] através
de eleições e pressionavam-me para que encabeçasse a lista.
Realizávamos
então reuniões clandestinas numa sala das traseiras do Café Parque, junto à
Praça de Touros, para preparar o processo eleitoral e programa da lista. Dos
conspiradores lembro-me que também faziam parte o Tó Veladas, o Carrageta, o
Manuel Gonçalves, o João Garcia e creio que a Maria Antónia, entre outros.
Entretanto aconteceu o 25 de Abril e em Plenário Geral de Estudantes realizado
a 26 de Abril de 1974 estes elegeram uma I Comissão Coordenadora das
Actividades da AEISESE, constituída por representantes de cada um dos anos,
malogrando a tentativa da Direcção do ISESE impor uma nova Comissão Administrativa.
Esta I Comissão Coorenadora era constituída por:
Victor
Manuel Barroso Nogueira da Silva (5º ano) - Coordenação e Contactos com o
Movimento Associativo Estudantil, partidos políticos e outras entidades
João
Luís Garcia (3º ano)
Luís
José Pereira Carmelo (2º ano)
Manuel
Cunha Rego (4º ano), posteriormente substituído por Diamantino Pardal Ribeiro
José
Maria Simões Ribeiro (1º ano) - Tesouraria
Faria
Monteiro (1º ano) - Tesouraria
Esta
Comissão Coordenadora esteve em funções até 23 Maio de 1974, data em que RGA
(Reunião Geral de Alunos) ratificou o pedido de demissão de Vitor
Nogueira, João Garcia e Luís Carmelo, sendo eleita nova Comissão Coordenadora
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)