* Carlos Rodrigues
Deslizar o tempo pelos carris da memória, sobre calçadas de basalto,
Navegar rios subterrâneos, liberto de correntes interiores,
Mergulhar para além da foz dos vidros das janelas, com a alegria infantil
de quem não se apercebe ainda da imensidão dos Paquetes trágicos,
Não atender aos icebergs da condição humana e colher apenas as
algas indispensáveis ao adubar das flores rubras nas esquinas da
alma da cidade, Viajar, então, entre a Graça e os Prazeres,
Acenar amistosamente ao sinaleiro, como da primeira vez,
ao curvar de São Vicente para São Tomé, a certeza do círculo metálico,
manuseado com eficácia profissional, verde avança, vermelho
pára, se o homem não se fizer à calha é porque já mudou de linha,
Deixar que a criança não pense nessas coisas e continue
a viajar, sem dúvidas no percurso que lhe turvem a vista,
Miradouro de Santa Lúzia, apeio-me sempre aqui, a meio caminho da
de casa, mais tarde contornarei a Sé, sem olhar, comove-me em Santo
António, o pão dos pobres, mas apetece-me ver mais longe,
a mala às costas, transbordante de letras frescas e folhas brancas,
daquelas que nem o Outono amarelece como os eléctricos,
porquanto preenchidas pela claridade de um olhar novo,
Rasgar todas as outras, as que cheiram a mofo,
São recordações não convocadas, nunca se abster de brincar
com coisas sérias, mas jamais inquirir, tardiamente, no Vinte e Oito,
porque razão chamam Prazeres à Aldeia Branca dos Ciprestes,
onde uma viagem termina e outra recomeça dentro do
horário imprevisto, porque a pergunta é uma perda
de tempo e apenas a inocência de um jovem passageiro
lhe permitiria, então, interrogar o Revisor e acreditar que outro
veículo metálico, cor de limão, estaria nesse preciso momento,
a sair da Graça, pronto a abalroar, eternamente, as nossas
convicções e a nave dos Prazeres, por onde toda a lógica
da viagem perde a cor ou descarrila
num Titânico Jardim de frutos proibidos.
Carlos A.N. Rodrigues, 07 / 02 / 2012.
Victor Barroso Nogueira
Uma bela viagem por Lisboa dos meus encantos e das muitas e desvairadas gentes, ao leme de Carlos Rodrigues no amarelo da Carris 🙂
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11 ano(s)
Victor Barroso Nogueira
Não foi preciso esperar pelo Natal para eu aparecer, Carlos Rodrigues LOL
Carlos Rodrigues
Ainda bem, Victor, vieste pelo Carnaval, Ahaha, mas assim com máscaras no perfil, nem sei bem se és tu, mas acho que já te identificaste no gosto Alfacinha desse vídeo, mesmo não tendo cá nascido. Grande abraço.
11 ano(s)
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)