* Victor Nogueira
Fui ao cine Restauração ver o filme "Parada Imperial"
À tarde fui ao Coliseu (do Porto) ver o "Amor sem Barreiras" (West Side Story). O filme, de Robert Wise e Jerome Robbins (1961) é óptimo, com um bom colorido, música e bailados. O argumento inspira se no "Romeu e Julieta" [de Shakespeare]. Trata se da rivalidade entre dois grupos de West Side [bairro de New York]: os Jactos, americanos, e os Tubarões, porto riquenhos. Termina com uma briga em que morrem os dois chefes e um outro é assassinado. Gostaria de vê lo outra vez. (1963.10.07 - Diário IV) (1)
Comprei o livro "West Side Story", baseado no filme homónimo. Contudo há algumas diferenças. A reunião entre os Jets e os Sharks no filme é na loja (café) do velho Poc e não num café. No filme nunca aparecem os pais de Bernardo e Maria. Neste, quando Tony é morto, os dois "gangs" encontram se frente a frente e juntos transportam o cadáver de Tony. Este sorria para Maria quando foi abatido. Também não se faz referência à mãe de Tony. Mas o esqueleto, por assim dizer, é o mesmo. (1963.10.17 - Diário III)
A TV apresentará, cerca das 20:00, o filme "A Loja da Esquina" (The shop around tbe corner), realizado em 1940, com James Stewart. O filme era bom, bastante cómico. O realizador foi o mesmo de "Ninotchka", Ernst Lubitschk. Com poucas excepções desenrola se na loja da esquina. Um rapaz corresponde se com uma rapariga, no fim ficando surpreendido por se encontrarem. Ela não era outra senão uma das empregadas da loja onde ele trabalhava. (1963.10.22/23 - Diário IV)
Como ainda estava a tempo resolvi ir ver "Uma Réstia de Azul" (A Patch of Blue), de Guy Green (1965), no Estúdio. É a história duma rapariga cega que vivia com a mãe, desnaturada e prostituta, causadora da sua cegueira, e com o avô, um velho bêbedo, que gostava dela mas era um falhado. Apesar deste ambiente pernicioso, ela é uma boa rapariga, sedenta de amor. E no jardim para onde costumava ir, conhece um homem e entre eles surge uma sã amizade. Mas ele era preto, e isso nos EUA é um crime. No entanto ele conseguirá libertá la da mãe. Embora á primeira vista o filme pareça piegas, eu considero o profundamente humano, mostrando nos que ao lado da podridão podem florescer bons sentimentos, ao contrário de muitos outros que só nos apresentam o lado deprimente da vida, sem esperança, trágico, como os de Antonioni (A Noite, O Grito, O Eclipse, O Deserto Vermelho), um Bergman (O 7º Selo, A Fonte da Virgem), entre muitos outros. (MEB - 1966.12.12)
Fui ontem ver um filme todo bonitinho, [Viver por Viver] (Vivre pour vivre)(1967) bestialmente policrómico, cheio de grandes planos, com um Montand cínico, uma Girardot boazinha (entenda-se, com bons sentimentos) e uma americanazinha (Candide Bergen) com um sorrizito fácil e encantador. Um filme pleno de ternura e tédio. O Montandzinho engana a mulher com a maior das calmas, o desavergonhado; ela, "tadinha", quer salvar o casamento e finge que é parva e cega. O amor consegue sublimidades! Enfim, tantas vezes vai o cântaro à fonte...! Claro, o sol quando nasce é para todos - já lá dizia o Waskylcowskix - e ela manda-o ver se está a nevar e - fazendo das tripas coração - leva uma vida airada com o Henriquinho. Entretanto o Bertinho (Montand) cai prisioneiro dos vietcong - era repórter - ninguém sabe dele. Lá na longínqua América e apesar dos seus desesperados esforços para retomar a sua juventude estílo "made in USA", esquecer a Europa e o Bertinho e casar com um americano de Boston ou de Houston, a Candide (que já não é) devora os jornais em busca de notícias do ex-queridinho (e eu tão longe para poder consolá-la e extasiar-me face ao seu " Candide sourire"!). Ah!, mas as saudades da Girardot não são menores. Mas os viets, no fundo, são bons rapazes ( ... se não fosse aquela simpatia pelo Mao e aversão pelo Johnson, os melhores motores marítimos e o talco do bébé ... ) e o repórter é libertado. Roído de saudades (ai, que nostalgia!) regressa ao lar! que encontra vazio. Parte para os Alpes,"à la recherche du temps perdu", perdão, da Giradinha. Ela fá-lo passar maus bocados (a sádica ou a vingaça é o prazer dos deuses) mas, oh! abismo insondável do coração humano! oh! maravilha das maravilhas! oh! paradoxo dos paradoxos! o gelo do ambiente não consegue evitar a fusão do gelo dos seus coraçõezinhos!... Tudo termina em bem: volta o disco e toca o mesmo. Ou não? Tudo isto misturado com tiradas sublímes: "Cada vez que um vencedor espezinha um vencido, é a dignidade humana que é espezinhada!" "Nós, os mercenários, somos a ponta de lança da Civilização Ocidental: defendêmo-la do comunismo!"Oh! pobres ismos" tendes um grande guarda-roupa e umas largas costas!
O filme: "Viver por Viver"; o realizador: Claude Lelouch, o tal de "Um homem e uma mulher". Desta feita abusou. Um filme recreativo: a vista delira com isso. Mas, ... só? Mais nada? Que sensaboria! Uma das cenas do filme impressionou-me bastante: aquele excerto (seria?) do jornal de actualidades cinematográficas, mostrando o brutal espancamento de africanos por tropas Congolesas. Homo homini lupus. Um sentimento, misto de raiva, desespero e impotência apoderou-se de mim. (JJF - 1968.08.17)
"A Solteira e o Atrevido"era uma comédia, de Richard Quine.(1964) (O título original era "Sex and the Single Girl) Era para rir! (MCG - 1972.11.04)
Fui ao Núcleo Juvenil de Cinema de Évora ver pela 3ª vez "Sentimento" (Senso), de Luchino Visconti. (1954) Uma fotografia bela, expressionista, um tema interessante, algumas cenas chatas. Daqui a pouco talvez volte novamente ao cinema para ver um filme com Peter Sellers. (MCG - 1972.12.05)
Fui ontem ao cinema ver "Nossa Senhora de Paris", baseado num romance de Victor Hugo. Uma tragédia ... Morre tudo, minha gente: a cigana Esmeralda (que amava a vida), o padre (que desejava a cigana inacessível - que odiava a vida), o sineiro corcunda (que descobrira a vida graças à cigana) e muitos mendigos que a queriam libertar. Gramei o filme, pelo modo como retratava (fielmente ?) o ambiente medieval e a sua miséria (que são de todos os tempos, afinal). (MCG - 1973.03.09) (2)
Ontem sempre fui ao cinema e gramei o filme "Lamiel", de Jean Aurel (1967)), ironizando sobre uma jovem que, no século passado, partia para Paris em busca do amor! Uma "piquena maravilha, muito bacana", como diria o amigo Pedro. (...) A rapariga, Lamiel, diz que não é o Conde que a rapta mas sim ela que rapta o Conde. (MCG - 1973.04.27)
De modo que vi forçadamente uma comédia romântica na Televisão, "Pizza, Amor e Fantasia" (Mystic Pizza), de Donald Petrie (1988). onde no fim todos(as) casam e presumívelmente viveram felizes até ao fim dos seus dias, como nas histórias de fadas. A história passava-se nos Estados Unidos, pretensamente numa colónia de emigrantes portugueses que tinham um restaurante especializado em ... pizzas deliciosas, com ingredientes cujo segredo passava de geração em geração desde uma avó algarvia!
E eu a pensar que as pizzas eram uma especialidade italiana. Nada como estas histórias americanas para melhor ficarmos a conhecer este Portugal á beira-mar plantado. É verdade que durante o filme só se falava inglês e que as únicas palavras portuguesas constavam dos cartazes turísticos nas paredes do referido restaurante. Ah! mas não haja desesperos, porque deram a festa de casamento duma das três meninas luso mericanas do filme e durante a mesma os espectadores foram brindados com duas canções em português castiço e mau sotaque: a Sapateia açoriana e um fado lisboeta, que já não me lembro bem se era aquele da morte da andorinha que não põe termo à Primavera.
O filme era muito ajuízado Pois é, mas uma das meninas, a doidivanas que andava com este e com aquele, casou com o filho dum ricaço, nos primórdios canalizador, enriquecido à custa do seu (dele) trabalho (quando me parece que apenas se enriquece à custa do trabalho ... dos outros). A outra menina, que também gostava do fornicanso, mas só com o noivo, todo de moral á moda antiga, acabou por render-se-lhe, casando com o dito cujo,. um pescador cujo pai seria patrão da futura sogra, embora não me tenha ficado claro se o dito pai era dono dum barco de pesca. A mais intelectual e santinha, irmã da primeira, perdeu o arquitecto de cuja filha era baby-sitter, pois o dito intelectual (muito parecido fisicamente com o meu chefe) preferiu continuar com a esposa legítima. E embora a santinha tivesse rasgado o cheque dos serviços prestados como baby-sitter, por causa das confusões, não perdeu tudo, pois sempre conseguiu ingressar na prestigiada Universidade de Yale, para tirar um curso de Astronomia, graças a um empréstimo-donativo da bondosa patroa da pizzeria. (MMA - 1993.08.10)
Dos filmes que abordam a relação entre um homem e uma mulher há dois que aprecio sobremaneira, embora sejam de géneros diferentes. Talvez porque me identifique com os personagens masculinos, isto é, com o modo como através deles as coisas são apresentadas. Um deles, África Minha (Out of Africa), de Sydney Pollack, baseado num contoç de Karen Blixen com Meryl Streep e Robert Redford, é um drama. O outro, que de novo revi há pouco com boa disposição e sonoras gargalhadas, é Um Amor Inevitável (no original "When Harry met Sally, de Bob Reiner /(1989), com Billy Crystal e Meg Ryan.
O filme conta com humor a história dos (des)encontros do Harry e da Sally. No primeiro detestaram-se, porque nada tinham em comum (o que não foi o nosso caso), no segundo tornaram-se amigos (o que aconteceu connosco) e no terceiro casaram-se (o que ainda não sucedeu connosco). O primeiro encontro é numa viagem que fazem juntos, para a universidade, durante a qual Harry afirma que é impossível um homem e uma mulher atraente serem amigos porque surge sempre o desejo de sexo pelo meio. Na sequência do segundo encontro, anos mais tarde, Harry confessa a um amigo que é amigo de Sally e como não há mais nada pelo meio não precisa de mentir-lhe e podem falar e estar á vontade um com o outro. Á terceira casam-se mesmo. O filme tem cenas deliciosas. Numa delas, na fase em que eles são apenas amigos, á mesa dum restaurante Harry gaba-se do seu sucesso entre as mulheres, o que leva Sally a interrogá-lo sobre os fundamentos da sua presunção. Perante a convicção dele de que um orgasmo não se simula, ela, na cadeira, com a voz e gestos, "representa" uma cena de amor e orgasmo, finda a qual termina voltando á pose anterior como se nada se tivesse passado perante a estupefacção dos comensais e o embaraço do presunçoso. Pois é, nesta sociedade pretensamente dominada pelos homens, a estes cabe a presunção da iniciativa, mas nem sempre a conseguem fechar com chave de ouro!
Em África Minha identifico-me com o modo como aquele homem e aquela mulher tentaram e em certa medida conseguiram viver o seu amor respeitando a independência de cada um deles. (MMA - 1993.09.15)
Nas minhas idas a Lisboa, acabadas as reuniões, vou até ao cinema. Gosto de ir às sessões do fim de tarde. Duma das últimas vezes gostei muito de "A Idade da Inocência (The Age of Innocence) um filme muito bonitinho, de Martin Scorcese (1993), mas duma extrema violência, passado na alta sociedade nova iorquina da passagem do século. Sob o manto diáfano das boas maneiras e dos sorrisos, a extrema violência da hipocrisia e das convenções sociais, da escolha da segurança e do bem-estar em detrimento daloucura do amor e da paixão.
Outro filme que vi foi M.Butterfly, de David Cronenberg (1993). "A Madame Butterfly" é uma ópera que canta os amores dum ocidental por uma japonesa, que se suicida quando aquele a abandona, comoventemente para o público ocidental. Com base nisso, o filme narra a paixão (verídica) dum diplomata francês pela intérprete de M.Butterfly no Teatro de Pequim. E o que parecia uma grande paixão, iniciada na China e prosseguida em Paris, anos mais tarde, não passaria duma sórdida história da paixão e degradação dum homem apaixonado por outro homem, ambos presos e condenados por espionagem.
Claro que uma leitura linear pode levar-nos a perguntar como pode um diplomata desconhecer que na China os papéis femininos eram interpretados por homens (como aliás na Europa, nos tempos de Shakespeare ou de Gil Vicente) ou como pode um homem manter uma relação amorosa com umamulher (afinal homem) que simula uma gravidez ( que implica a existência de relações sexuais ) sem que alguma vez durante anos o suspeite? (Aliás caso semelhante teria acontecido em Portugal com a história da generala). Mas é o próprio francês que nos dá a resposta, quando afirma que se apaixonou não por um homem, mas sim por uma mulher criada por um homem (e quem melhor que um homem pode saber o que um homem pretende duma mulher, perguntar-se-á? Ou, na mesma ordem de ideias quem melhor que uma mulher para saber o que uma mulher espera de um homem? ). E no fim é o francês que se suicida, num acto teatral, travestido de Madame Buterfly, enquanto o espião chinês é deportado para a China).
Afinal todo o amor (ou a paixão?) não será senão uma encenação, uma ilusão dos sentidos, uma elaboração mental, uma construção ( social ? ) que em certa medida a sabedoria popular expressa em ditos do género O amor é cego ou Quem o feio ama, bonito lhe parece ?! O que me levaria ao programa do Júlio Machado Vaz, Sexualidades, que já não via há muito tempo, ontem dedicado ao namoro e ao casamento ou ajuntamento, ao (des)conhecimento das pessoas, aos papeis masculinos e femininos, com filhos, filhas e algumas mães e nenhum pai. Por sinal todas as mães presentes (nenhuma divorciada ou solteira) com ausentes mas compreensivos maridos. É impressionante como a maioria dos homens e das mulheres (esposas e mães incluídas) se educammutuamente, não para a liberdade e o respeito mútuo, não para a entreajuda e a solidariedade, mas para a negação disto tudo. Aqueles seriam pais e filhos diferentes da maioria, apesar de tudo. É difícil ser diferente, querer construir uma relação à margem das convenções sociais, que não libertam mas aprisionam. (MMA - 1993.09.20)
Carlos Rodrigues Gostei nictor, especialmente da forma como viste, bem na minha opinião, a Madame Butterfly (made in USA, long time ago ) patamar que usas para outras considerações sobre o Amor, como encenação, construção social, apoiado na sabedoria popular que diz que o " Amor é cego" or que " Quem o feio ama bonito lhe parece ". Tocas, como quem não quer a coisa nas diferenças e na co-adoção, s´btilmente, com dedos de pianista, ou por via das Sexualidades,um excelente programa de Júlio Vaz de Machado, que há muito não vejo, para concluires e muito bem que é difícil ser diferente, ao que eu se me permites, acrescento: Tendo tudo isso em conta mais os fracassos amorosos que por aí abundam, o Amor seria não uma Construção Social, mas uma des(construção social ) já que mais de metade dos cidadão comuns é constituída por divorciados ou amores falhados, mas isto digo eu, que sou mauzinho, mas continuo a acreditar no Amor e suas outra extensões, para além das convencionais " Un Homme et une Femme ", pois o Amor é muito mais do que isso, é o motor que faz ou devia fazer mover o mundo, se outros interesses, como o vil metal e outras paixões mais ou menos dispensáveis o não complicassem. Um abraço e obrigado pela partilha, Victor.
20/1 às 15:05 ·
É já noite e não saí nem nada fiz do que deveria ter feito, salvo ler ou dormir. Vi há muito um filme, "A rua do adeus" , (84 Charing Cross Road), de David Jones (1987) cujo actor principal é o Anthony Hopkins mas esqueci o nome da actriz principal e da película [Anne Bancroft]. Em síntese, uma professora no Reino Unido encomendava livros a um alfarrabista nos EUA e o tempo e as cartas foram consolidando uma amizade entre duas pessoas que nunca se haviam encontrado na vida real. Até que um dia e muitos anos volvidos a professora foi aos EUA para conhecer aquele que se tornara um grande amigo, mas em vez da loja, encontrou um lugar abandonado. Foi em busca da família dele e por ela descobriu que ele morrera e que esta sabia da amizade entre ambos, Tive também aqui uma amiga no mIRC, a manariana, com quem falava e que me retorquiu que eu saberia se ela tinha morrido porque uma amiga dela mo diria. Não era feliz com o homem com quem vivia, mas achava que ele era um "homem bom" e não queria magoá-lo. Um dia escreveu-me, agradecendo os meus e-mail "colectivos", a minha gentileza, lamentando que não pudéssemos ter sido felizes. Muito esporadicamente envia-me um mail, que me vai seguindo e sabendo de mim pelos meus blogs.(4) (entre eros e afrodite 10 - (os cadernos do vendaval)
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(1) Voltei a ver o filme em 1963.10.31
(2) Presumo que seja o filme realizado em 1956 pot Jean Delannoy
(3) Suponho que se trata do filme "Lamiel", de Jean Aurel (1967))
(4) Um dia, recebium telefonema da manariana, que na altura não pude atender. Entretanto o meu telemóvel partiu-se e perdi a maioria dos contactos, incluindo o dela, de quem nunca mais tive notícias.
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)